Imagens entregues à CPMI mostram que Força Nacional protegeu ministério de Dino; veja vídeo

Imagens entregues à comissão que investiga atos do 8 de janeiro não mostram tentativa de invasão ao Palácio da Justiça por golpistas

PUBLICIDADE

Foto do author Daniel Haidar
Foto do author Weslley Galzo
Atualização:

BRASÍLIA - Agentes da Força Nacional aparecem em meio a policiais militares e seguranças patrimoniais na proteção ao Palácio da Justiça, prédio-sede do ministério comandado por Flávio Dino, durante o avanço da depredação promovida por golpistas a alguns metros dali, nas sedes do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF). É o que mostram vídeos obtidos pelo Estadão que foram entregues à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas.

As gravações foram entregues pela Polícia Federal (PF) à CPMI, depois de virarem uma das principais esperanças de bolsonaristas para encontrarem elementos que validem teorias conspiratórias de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria supostamente facilitado a ação dos golpistas no dia 8 de janeiro.

PUBLICIDADE

Os vídeos entregues foram feitos por dois equipamentos. Uma das câmeras mostra o interior do Salão Negro do Palácio da Justiça, a entrada principal por onde o público acessa os elevadores, mas longe da entrada privativa do ministro. Outra câmera mostra a passagem dos golpistas pela Esplanada dos Ministérios, e alguns poucos agentes de segurança postados de prontidão. A CPMI tinha solicitado as imagens de todas as câmeras externas ou internas, até eventuais registros do estacionamento do ministério.

No Salão Negro do Palácio é possível ver a movimentação de alguns agentes da Força Nacional a partir das 16h, quando a invasão às sedes dos Três Poderes se encontravam em seu auge. Em determinado momento, até mesmo policiais militares entraram no Palácio da Justiça e passaram alguns minutos sentados no hall antes de retornar à área externa para conter a multidão. Mas não é possível quantificar, pelas imagens, quantos agentes da Força Nacional estavam à disposição no Ministério da Justiça.

Publicidade

Comandada pelo Ministério da Justiça, a Força Nacional é formada por um efetivo variável de policiais militares emprestados por governos estaduais, mas é uma equipe menor do que a tropa da Polícia Militar do Distrito Federal, que era a responsável no planejamento do Governo do Distrito Federal pela segurança e contenção dos golpistas, que romperam as barreiras da PM e depredaram a Praça dos Três Poderes.

Enquanto a depredação corria, foram montadas três barreiras com homens da Força Nacional para bloquear tanto a entrada principal do Ministério da Justiça, quanto as passagens laterais que dão acesso ao anexo e ao estacionamento privativo do ministro Dino. Os agentes ainda chegaram a posicionar viaturas em frente ao Palácio para impedir a aproximação dos golpistas.

Investigadores da Procuradoria-Geral da República trabalham com a estimativa de que quase 4 mil pessoas participaram do quebra-quebra no Planalto, no Congresso e no STF e que a depredação ficou concentrada nesses locais. Dino havia autorizado o emprego da Força Nacional, no sábado (7/1), caso fosse necessário para conter os protestos. Depois da destruição promovida pelos golpistas e de o Governo do Distrito Federal ser considerado leniente com os criminosos, o governo Lula fez, antes do fim da tarde de 8 de janeiro, uma intervenção federal na Segurança Pública, que passou o comando da PM e da Polícia Civil para o interventor Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça.

A Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República investigam se o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados articularam os ataques golpistas de 8 de janeiro, assim como se houve auxílio de militares das Forças Armadas, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e de policiais militares. Dino chegou a protagonizar momentos de tensão no episódio, quando teve que negociar com comandantes militares a retirada de manifestantes acampados em frente ao Quartel-General do Exército.

Publicidade

Grupo de policiais da Força Nacional chega ao Ministério da Justiça no 8 de janeiro Foto: Wilton Júnior/Estadão

As câmeras do Ministério da Justiça apresentam algumas das imagens mais privilegiadas da ação dos golpistas na Esplanada e na invasão aos prédios dos Três Poderes. Nas gravações, é possível observar que a rotação da câmera externa foi manejada por funcionários da pasta em alguns momentos, de modo a aproximar o foco de alguns locais com presença de golpistas para captar determinados eventos, como o momento em que os vândalos sobem a rampa do Congresso e dão início à depredação dos vidros.

A entrega dos vídeos é o capítulo mais recente de uma briga aberta por parlamentares bolsonaristas na CPMI. Isso porque a comissão aprovou em 11 de julho um bloco de requerimentos de opositores para que Dino enviasse a íntegra das imagens internas e externas do ministério, em um descuido da base governista. Depois disso, o ministro chegou a negar o acesso dos deputados e senadores ao material sob o argumento de que não poderia ser divulgado para não violar o sigilo de investigações criminais em andamento no STF. Bolsonaristas reagiram e exigiram que o presidente da CPMI, Arthur Maia (União-BA), exigisse as imagens na Justiça.

O presidente da CPMI chegou a dar 48 horas para que Dino entregasse as imagens ou o desrespeito à CPMI motivaria recurso ao STF. Em resposta à pressão, o próprio Dino pediu autorização ao ministro Alexandre de Moraes, relator das investigações no STF, para compartilhar os vídeos sem violar o inquérito em curso na Corte. Na última segunda-feira, 7, Moraes autorizou o envio das imagens à CPMI por Dino, pontuando que o eventual sigilo das imagens ficaria a critério da CPMI.

Os vídeos das duas câmeras do Ministério da Justiça foram entregues pela PF, pois foram obtidos por delegados em uma investigação que apurava um possível disparo de arma de fogo durante os ataques de 8 de janeiro, contra janelas do 3o. e do 5o. andar do Palácio da Justiça.

Publicidade

Procurado, o Ministério da Justiça ainda não informou se existem outras imagens além das enviadas para a CPMI.