BRASÍLIA – Imagens do circuito interno do Palácio do Planalto gravadas no dia 8 de janeiro reforçam a ação violenta cometida por extremistas que invadiram o prédio público. As gravações, às quais o Estadão teve acesso, mostram, além da depredação ao patrimônio, agentes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) cumprimentando invasores e até tentativa de arrombamento a caixa eletrônico.
São mais de 160 horas de vídeos captados por 33 câmeras espalhadas nos quatro andares do Planalto. O material foi liberado neste sábado pelo GSI e enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que investiga os atos golpistas.
As câmeras registraram como os invasores ocuparam o epicentro do poder no Planalto. Zanzando sem serem importunados no terceiro andar do Palácio, onde fica o gabinete do presidente da República, eles puderam destruir obras de arte e quebrar vidros.
Um dos vídeos compromete a situação do major José Eduardo Natale, que fazia parte do GSI da Presidência. O oficial aparece conversando calmamente e até cumprimentando extremistas com apertos de mão no corredor do terceiro andar do Planalto, onde fica o gabinete presidencial. A conversa entre o miliar e os extremistas durou cerca de 3 minutos sem que ele esboçasse qualquer movimento de quem está repreendendo os invasores.
O major Natale já havia aparecido em vídeos divulgados pela CNN, dando água a golpistas. Nas imagens ele está ao lado do relógio-relíquia que foi destruído por golpistas durante a invasão no dia 8 de janeiro. Natale está entre os investigados e é o único que já foi afastado do GSI.
A mesma câmera captou o momento em que um dos extremistas tentou arrombar um caixa eletrônico. Ele chega a pedir ajuda a um outro invasor depois de forçar, sem sucesso, o equipamento. Ele deixou o local sem conseguir abrir o caixa.
Cerca de 15 minutos depois de o major conversar com os extremistas, o andar foi ocupado pela tropa de choque da Polícia, que chegou disparando balas de borracha contra os invasores. O oficial do GSI não aparece no momento da ação policial de repressão. Como revelou o Estadão, no dia da invasão, policiais militares afrouxaram a segurança na Esplanada dos Militares. Um grupo foi flagrado comprando água de côco em frente à Catedral de Brasília enquanto os extremistas marchavam para ocupar os prédios públicos.
Segundo o GSI, já foram identificados dez militares da instituição nas gravações do dia 8 de janeiro. Todos estão sob investigação, incluindo o major Natale. O prazo de encerramento da apuração interna era de 30 dias, mas houve determinação do Gabinete para reduzir esse tempo. A íntegra das imagens será encaminhada ao STF. O GSI também repassou à Corte a sindicância interna que, no momento, tem 500 páginas.
O ministro-chefe do GSI, general Gonçalves Dias foi exonerado na quarta-feira, 19, após a CNN divulgar imagens até então inéditas, mostrando que ele ao lado de alguns golpistas indicando local de saída do terceiro andar. Em depoimento, G. Dias, como é conhecido, disse que não tinha condição de efetuar prisões sozinho e que apenas encaminhou os invasores para serem detidos no segundo andar do Planalto.
G. Dias prestou um depoimento de quase cinco horas na sexta-feira, 21, na sede da Polícia Federal (PF), em Brasília. Ele afirmou não ter qualquer responsabilidade sobre os atos golpistas do dia 8 de janeiro. Explicou também que não prendeu os extremistas que invadiram o Palácio do Planalto pois estava fazendo um “gerenciamento de crise”. “Essas pessoas seriam presas pelos agentes de segurança no segundo piso tão logo descessem, pois esse era o protocolo”, disse o general, que apontou ainda um apagão geral do sistema pela falta de informações para tomada de decisões.
Neste domingo, a PF vai ouvir agentes do GSI que estavam no Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro. Os depoimentos foram determinados pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, na investigação sobre o papel de autoridades nos atos golpistas na Praça dos Três Poderes.
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