PUBLICIDADE

Golpistas acolhidos por militar no Planalto e tentativa de roubo a caixa eletrônico; veja vídeos

Mais de 160 horas de gravações no Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro mostram extremistas em conversas com oficial do GSI e andando livremente na antessala do gabinete presidencial sem serem importunados

Foto do author Julia Affonso
Foto do author Weslley Galzo
Foto do author Tácio Lorran
Foto do author André Borges
Atualização:

BRASÍLIA – Imagens do circuito interno do Palácio do Planalto gravadas no dia 8 de janeiro reforçam a ação violenta cometida por extremistas que invadiram o prédio público. As gravações, às quais o Estadão teve acesso, mostram, além da depredação ao patrimônio, agentes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) cumprimentando invasores e até tentativa de arrombamento a caixa eletrônico.

PUBLICIDADE

São mais de 160 horas de vídeos captados por 33 câmeras espalhadas nos quatro andares do Planalto. O material foi liberado neste sábado pelo GSI e enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que investiga os atos golpistas.

As câmeras registraram como os invasores ocuparam o epicentro do poder no Planalto. Zanzando sem serem importunados no terceiro andar do Palácio, onde fica o gabinete do presidente da República, eles puderam destruir obras de arte e quebrar vidros.

Um dos vídeos compromete a situação do major José Eduardo Natale, que fazia parte do GSI da Presidência. O oficial aparece conversando calmamente e até cumprimentando extremistas com apertos de mão no corredor do terceiro andar do Planalto, onde fica o gabinete presidencial. A conversa entre o miliar e os extremistas durou cerca de 3 minutos sem que ele esboçasse qualquer movimento de quem está repreendendo os invasores.

Extremistas no terceiro andar do Planalto no dia da invasão em 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão

O major Natale já havia aparecido em vídeos divulgados pela CNN, dando água a golpistas. Nas imagens ele está ao lado do relógio-relíquia que foi destruído por golpistas durante a invasão no dia 8 de janeiro. Natale está entre os investigados e é o único que já foi afastado do GSI.

A mesma câmera captou o momento em que um dos extremistas tentou arrombar um caixa eletrônico. Ele chega a pedir ajuda a um outro invasor depois de forçar, sem sucesso, o equipamento. Ele deixou o local sem conseguir abrir o caixa.

Cerca de 15 minutos depois de o major conversar com os extremistas, o andar foi ocupado pela tropa de choque da Polícia, que chegou disparando balas de borracha contra os invasores. O oficial do GSI não aparece no momento da ação policial de repressão. Como revelou o Estadão, no dia da invasão, policiais militares afrouxaram a segurança na Esplanada dos Militares. Um grupo foi flagrado comprando água de côco em frente à Catedral de Brasília enquanto os extremistas marchavam para ocupar os prédios públicos.

Publicidade

Ação de policiais no terceiro andar do Planalto em 8 de janeiro Foto: Reprodução / Estadão

Segundo o GSI, já foram identificados dez militares da instituição nas gravações do dia 8 de janeiro. Todos estão sob investigação, incluindo o major Natale. O prazo de encerramento da apuração interna era de 30 dias, mas houve determinação do Gabinete para reduzir esse tempo. A íntegra das imagens será encaminhada ao STF. O GSI também repassou à Corte a sindicância interna que, no momento, tem 500 páginas.

O ministro-chefe do GSI, general Gonçalves Dias foi exonerado na quarta-feira, 19, após a CNN divulgar imagens até então inéditas, mostrando que ele ao lado de alguns golpistas indicando local de saída do terceiro andar. Em depoimento, G. Dias, como é conhecido, disse que não tinha condição de efetuar prisões sozinho e que apenas encaminhou os invasores para serem detidos no segundo andar do Planalto.

O general Gonçalves Dias ao sair da PF depois de prestar depoimento por cinco horas na sexta-feira, 21 Foto: Wilton Junior /Estadão

G. Dias prestou um depoimento de quase cinco horas na sexta-feira, 21, na sede da Polícia Federal (PF), em Brasília. Ele afirmou não ter qualquer responsabilidade sobre os atos golpistas do dia 8 de janeiro. Explicou também que não prendeu os extremistas que invadiram o Palácio do Planalto pois estava fazendo um “gerenciamento de crise”. “Essas pessoas seriam presas pelos agentes de segurança no segundo piso tão logo descessem, pois esse era o protocolo”, disse o general, que apontou ainda um apagão geral do sistema pela falta de informações para tomada de decisões.

Neste domingo, a PF vai ouvir agentes do GSI que estavam no Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro. Os depoimentos foram determinados pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, na investigação sobre o papel de autoridades nos atos golpistas na Praça dos Três Poderes.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.