Único deputado do PSDB a votar pela manutenção do veto ao cálculo que, na prática, acabava com o fator previdenciário criado no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Samuel Moreira (SP) afirma que é preciso distinguir a oposição à presidente Dilma Rousseff - incluindo a defesa de seu afastamento - e questões que afetam a sustentabilidade das contas públicas do País. "Impeachment é uma coisa, o futuro da Previdência é outra", disse na manhã desta quinta-feira ao Estado.
Na noite de terça-feira, o Congresso manteve o veto presidencial ao dispositivo que permitia aposentadoria quando a soma do tempo de contribuição e da idade chegasse a 85 anos, no caso das mulheres, e 95 para os homens. Foi a principal vitória do governo em relação à chamada "pauta-bomba" que eleva os gastos públicos, ainda pendente de análise de outros vetos, como o reajuste de até 76% a servidores do Judiciário.
O senhor foi o único deputado do PSDB a votar pela manutenção do veto ao cálculo alternativo do fator previdenciário. Por quê?
Se analisarmos os números da Previdência Social, fica claro que não temos como criar mais despesas sem buscar antes uma solução definitiva, especialmente em relação à criação de idade mínima para se aposentar. O déficit da Previdência previsto no Orçamento de 2016 é de R$ 124 bilhões. Em 2015, deve ficar em R$ 85 bilhões. Ou seja, mesmo a proposta do governo de recriar a CPMF para financiar a Previdência não vai resolver absolutamente nada. Mesmo que seja criado um imposto com receita de R$ 32 bilhões, ainda ficaria um déficit muito grande.
O sr. disse que avisou a bancada de que votaria com o governo nessa questão. Como foi a reação?
Foi tranquila. Houve uma discussão entre os deputados, e a maioria votou pela derrubada do veto. Eu pedi a compreensão de todos de que votaria pela manutenção, votaria diferente do que a maioria decidiu.
Em maio, na votação da emenda que criou o cálculo 85/95 e praticamente pôs fim ao fator previdenciário, o sr. votou a favor. Por que a mudança de posição?
Naquele momento não tínhamos a mesma situação que vivemos hoje, o governo não havia apresentado um Orçamento deficitário. Mas já naquela discussão dentro da bancada eu tinha me posicionado contra o fim do fator previdenciário, fui voto vencido e acompanhei a maioria. Mas desta vez decidi não cometer o mesmo erro político, não tomar uma atitude que causa desgaste ao PSDB, e avisei que votaria diferente. Não podemos ser contra só porque é (uma proposta) do PT, porque é de um governo muito complicado e que erra muito.
Naquela votação houve muita crítica ao PSDB por defender o fim do fator previdenciário criado pelo governo do partido, pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Esse tipo de postura, essa tática da oposição pela oposição que o partido criticava no PT, pode abalar, pode corroer a imagem do PSDB?
Não chega a tanto. O PSDB tem feito uma oposição de forma muito dura, muito firme e convicta. Isso é uma coisa. A outra coisa é a sustentabilidade da Previdência Social, das contas do governo. Outro dia fiz um discurso mencionando que, dos gastos do governo, 71% são custeio e mais de 18% é com pessoal, ou seja, quase 90% do Orçamento. É preciso cortar no custeio. Não posso fazer um discurso assim e depois votar numa questão que pode aumentar o custeio da máquina. Fazer oposição, defender o impeachment é uma coisa, e o futuro da Previdência é outra.
Ainda há vetos que o Congresso precisa analisar e têm impacto nas contas públicas, como o reajuste do Judiciário. Como o sr. vai se posicionar nessa questão?
Não quero antecipar meu voto, ainda precisamos esperar a sessão ser marcada. Mas como todo assunto dessa importância, precisamos analisar com cuidado e responsabilidade.
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