Imprensa internacional alerta para uso político-eleitoral do 7 de Setembro

Mídia externa repercute celebrações do Bicentenário com destaque para a agenda eleitoral do presidente Jair Bolsonaro

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Foto do author Aline Bronzati
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NOVA YORK - Os 200 anos da Independência do Brasil estampam o noticiário internacional desde terça, 6, com destaque para uma mudança na forma como as celebrações acontecem neste ano, às vésperas das eleições de outubro. Grandes agências de notícias e jornais nos Estados Unidos e na Inglaterra mencionam a data, enfatizando um viés eleitoreiro adotado no feriado de 7 de Setembro, que tradicionalmente é dominado por uma festa verde e amarela e desfiles militares.

O presidente Jair Bolsonaro durante desfile cívico-militar em Brasília. REUTERS/Adriano Machado Foto: Adriano Machado/REUTERS

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A CNN enfatizou que as comemorações da data, que deveria ser apartidária, foram distorcidas. “Todos os anos, 7 de Setembro no Brasil é um dia de desfiles coloridos, manifestações militares e orgulho nacional, pois o país comemora sua independência do Portugal colonial”, inicia a reportagem da rede americana. “Mas, enquanto o Brasil se dirige para as eleições presidenciais no próximo mês, o presidente Jair Bolsonaro (PL) parece estar distorcendo o feriado nacional para fins partidários”, acrescenta.

Na mesma linha, a agência Reuters publicou uma análise sob o título “Bolsonaro convoca comícios para flexionar os músculos no bicentenário do Brasil”. A agência de notícias enfatiza os ataques do presidente Bolsonaro ao sistema eleitoral e o temor de que o episódio visto nos Estados Unidos, quando o ex-presidente Donald Trump não aceitou a vitória do democrata Joe Biden, também se repita no Brasil.

“Os ataques de Bolsonaro contra o sistema eleitoral do Brasil - e os tribunais que o administram - provocaram pedidos de golpe militar de seus apoiadores radicais. Alguns temem que ele esteja preparando as bases para alegar fraude eleitoral como seu aliado dos EUA”, noticia a Reuters.

O britânico The Guardian antecipou a cobertura do dia 7 de Setembro e chamou atenção, em matéria publicada nesta terça-feira, para a preparação do Brasil para um dia de “turbulência”, no qual a celebração do bicentenário foi “sequestrada”.

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“A empolgação da direita com as comemorações de Bolsonaro contrasta com o medo e a raiva progressivos de que um dia de celebração nacional tenha sido sequestrado pela direita bolsonarista”, diz o jornal.

O presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, participa do desfile de 7 de Setembro em comemoração ao Bicentenário da Independência do Brasil na Esplanada dos Ministérios, em Brasília./Foto: EDU ANDRADE/FATOPRESS/PAGOS 

O também britânico Financial Times deu destaque à participação da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e seu tom religioso na “polarizada corrida presidencial” em matéria de terça. Assim como destaca o tabloide, ela também discursou neste 7 de Setembro, evocando novamente Deus, família e liberdade.

Já o americano The New York Times trouxe um artigo do cientista político e professor da Universidade de Columbia Miguel Lago sobre as eleições no Brasil e o 7 de Setembro, sob o título “Bolsonaro não está se preparando para um golpe. Ele está se preparando para uma revolução”. Ao narrar os desdobramentos das eleições no País, o especialista chama a atenção para a atuação de Bolsonaro, com ataques frequentes para colocar o processo eleitoral no País em dúvida.

As celebrações em torno da data também despertam o interesse de jornais na América Latina. O professor do Departamento de Relações Internacionais da UERJ Maurício Santoro afirma que recebeu muitos pedidos de entrevistas de jornalistas da região, preocupados com as manifestações desta quarta-feira. “Entre os repórteres da região, há forte percepção do impacto internacional dos riscos às eleições democráticas no Brasil”, escreveu em seu perfil no Twitter.

Discurso

Durante o desfile cívico-militar, em Brasília, Bolsonaro aproveitou o ato para fazer um discurso político, no qual, novamente, convocou apoiadores para irem às ruas. Além da sua pauta tradicional, que traz Deus e uma posição contrária às drogas e ao aborto, recorreu, novamente, à luta do “bem contra o mal” e fez um ataque, desta vez velado, ao Supremo Tribunal Federal.

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“A voz do povo é a voz de Deus”, disse Bolsonaro enquanto a multidão de apoiadores vaiava a Suprema Corte brasileira. “Hoje todos sabem que é o Poder Executivo, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal. Todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal”, disse ele. “Todos nós mudamos. Todos nós nos aperfeiçoamos e podemos ser melhores no futuro.”

“Com a reeleição, traremos para as 4 linhas todos os que ousam ficar fora delas”, disse o presidente da República, que no entanto evitou atacar frontalmente a Corte e os ministros. Durante o breve discurso, Bolsonaro também fez críticas ao PT. “Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal. Um mal que perdurou por 14 anos no nosso País, que quase quebrou a nossa Pátria e que agora deseja voltar À cena do crime. Não voltarão! O povo está do nosso lado. O povo está do lado do bem. O povo sabe o que quer”, disse.

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