‘Infelizmente algumas mortes terão. Paciência’, diz Bolsonaro ao pedir o fim do isolamento

Após governo lançar campanha ‘O Brasil não pode parar, Bolsonaro admite que covid-19 fará vítimas fatais no País, mas volta a cobrar o fim da quarentena e abertura do comércio

PUBLICIDADE

Foto do author Julia Lindner

BRASÍLIA – No dia seguinte ao lançamento da campanha do governo intitulada “O Brasil não pode parar”, o presidente Jair Bolsonaro cobrou o fim da quarentena para deter o coronavírus, mesmo admitindo que o País contabilizará mortes por causa da doença. “Vamos enfrentar o vírus. Vai chegar, vai passar. Infelizmente algumas mortes terão. Paciência, acontece, e vamos tocar o barco. As consequências, depois dessas medidas equivocadas, vão ser muito mais danosas do que o próprio vírus”, disse Bolsonaro em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, no programa Brasil Urgente da TV Band. 

O presidnete Jair Bolsonaro durante entrevista na porta do Palácio doAlvorada, na quarta-feira, 25 Foto: Dida Sampaio/Estadão

PUBLICIDADE

Medidas equivocadas, na avaliação do presidente, são ações de isolamento social, como o fechamento do comércio e de escolas. A estratégia defendida pelo Planalto vai na contramão do esforço mundial para o combate à propagação da doença e acabou levando Bolsonaro a um embate com governadores que já dura quase uma semana.

Enquanto alguns Estados seguiram o posicionamento do presidente e flexibilizaram ontem a restrição ao funcionamento do comércio, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) voltou a defender o isolamento. “O mundo inteiro está errado e o único certo é o presidente Jair Bolsonaro?”.

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmou que é preciso que o presidente “entenda a gravidade do contágio do coronavírus no Brasil.” “Não é hora para brincadeiras, não é hora de política, não há espaço para isso”, afirmou.

Publicidade

Apesar das críticas sofridas após o pronunciamento em rede nacional de rádio e TV na terça-feira, quando tratou a pandemia do coronavírus como “uma gripezinha”, Bolsonaro seguiu, na entrevista, a mesma linha da campanha publicitária, pedindo que as pessoas retomem suas atividades.

“O brasileiro quer trabalhar, esse negócio de confinamento aí tem que acabar. Temos que voltar às nossas rotinas. Deixem os pais, os velhinhos, os avós em casa e vamos trabalhar”, insistiu. “Alguns vão morrer? Vão morrer, lamento, essa é a vida. Não podemos parar fábricas de automóveis porque têm 60 mil mortes no trânsito por ano.”

A divulgação da campanha do governo e as constantes críticas de Bolsonaro ao isolamento social levaram grupos que o apoiam a organizar carreatas em ao menos seis Estados para pedir o fim das medidas restritivas. Por meio das redes sociais, esses grupos pretendem pressionar prefeitos e governadores a reverem suas medidas. No fim do dia, houve registros de panelaços contra o presidente. 

+ LEIA TAMBÉM: Entidades médicas rebatem fala de Bolsonaro e reafirmam necessidade de isolamento

Publicidade

Bolsonaro defende seu ponto de vista argumentando que as pessoas correm o risco de perder o emprego se o período de quarentena for prolongado, porque a economia já está parando. “O que vai acontecer com o Brasil? Vão quebrar o Brasil por causa do vírus.” Segundo ele, a solução para o Brasil é deixar “os velhinhos em casa” e retomar o trabalho, conforme afirmou na entrevista a Datena.

Durante o programa de TV, Bolsonaro colocou em dúvida o uso de estatísticas mundiais para se proteger contra o avanço da covid-19, ao dizer que “não tem que procurar números de fora do Brasil para justificar medidas aqui dentro”. Um estudo do Imperial College de Londres publicado na quinta-feira, 26, mostra que ao menos 44 mil brasileiros devem morrer em decorrência da covid-19. Se apenas idosos ficarem isolados, o número de mortes sobe para 529 mil.

“No mundo todo tem umas 20 e poucas mil pessoas (mortas por covid-19). Então porque 400 mil no Brasil? Não, eu não acredito. Isso é chute.”, disse. O presidente também colocou em dúvida o número de casos do coronavírus em São Paulo. “Não estou acreditando nos números”, declarou. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.