Eleições no Brasil perdem visibilidade por causa da crise geopolítica global

Guerra na Ucrânia, tensão sobre Taiwan e eleições nos EUA e na Itália tiram pleito brasileiro da lista de prioridades nas capitais internacionais

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colunista convidado
Foto do author Oliver  Stuenkel

O mundo vive hoje a mais séria crise geopolítica desde o colapso da União Soviética há mais de trinta anos. Tanto a guerra na Ucrânia quanto a tensão envolvendo Taiwan, China e Estados Unidos não terão solução simples e devem elevar o nível de instabilidade global por tempo indeterminado. Além disso, as eleições gerais na Itália em setembro e as parlamentares nos Estados Unidos em novembro absorvem a atenção de diplomatas mundo afora, haja vista o impacto que os resultados desses pleitos terão para além de suas respectivas fronteiras. Se a aliança da direita nacionalista obtiver maioria parlamentar em Roma, como as pesquisas sugerem atualmente, a Itália poderá minar a união ocidental em torno das sanções econômicas contra a Rússia. Se o Partido Republicano conseguir retomar a maioria das cadeiras na Câmara e no Senado dos EUA, o governo Biden ficará praticamente paralisado até o fim de seu mandato, e aumentará a preocupação europeia com o possível retorno de um trumpista à Casa Branca – afinal, como relata John Bolton, ex-assessor do presidente Trump, o ex-presidente republicano planejava tirar os EUA da OTAN no segundo mandato, passo que produziria verdadeiro cataclismo geopolítico mundial.

Diante de tantos focos de instabilidade, agravados pela expectativa de uma onda de calotes no mundo em desenvolvimento e uma possível crise de fome por causa da guerra na Ucrânia, o pleito brasileiro em outubro não aparece hoje na lista dos principais desafios geopolíticos. Para empresas multinacionais, por exemplo, a possibilidade de uma aproximação diplomática da Itália com a Rússia pode ter mais impacto nos mercados do que um “6 de janeiro à brasileira”.

Diante de tantos focos de instabilidade, agravados pela expectativa de uma onda de calotes no mundo em desenvolvimento e uma possível crise de fome por causa da guerra na Ucrânia, o pleito brasileiro em outubro não aparece hoje na lista dos principais desafios geopolíticos. Foto: Alan Santos/PR

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Mesmo para governos latino-americanos, o resultado das ‘midterms’ norte-americanas pode ter consequências mais amplas do que as eleições brasileiras, devido, entre outros fatores, ao papel cada vez mais tímido do Brasil na arena internacional ao longo dos últimos anos. De fato, é difícil lembrar qual foi a mais recente iniciativa diplomática brasileira na América Latina, no G20, no grupo BRICS ou em qualquer outro fórum multilateral. Diante da provável piora na relação entre o Ocidente e a Rússia e a crescente tensão envolvendo Taiwan, futuros governos brasileiros terão cada vez mais dificuldade em pautar a agenda global.

Isso não quer dizer que observadores internacionais não estejam de olho no cenário eleitoral brasileiro. Não há dúvida, porém, de que o tempo e a atenção que a imprensa e outros formadores de opinião mundo afora reservarão às eleições brasileiras em outubro serão mais limitados. Na prática, essa situação também reduz a disposição de governos no exterior de tomarem a dianteira diplomática se houver qualquer tipo de instabilidade pós-eleitoral no Brasil – por exemplo, pressionando o candidato derrotado a reconhecer logo o resultado das urnas caso demonstre resistência a fazê-lo. Afinal, se há um consenso nas chancelarias mundo afora é o de que a humanidade não precisa de mais uma crise geopolítica.

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