Isolado, Ciro Gomes lança candidatura à Presidência com ataques a Bolsonaro e Lula

Ex-governador e ex-ministro disputa pela quarta vez o cargo de presidente da República

PUBLICIDADE

Foto do author Lauriberto Pompeu
Foto do author Iander Porcella
Atualização:

BRASÍLIA – Com ataques ao presidente Jair Bolsonaro e ao petista Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) foi oficializado nesta quarta-feira, 20, como candidato do partido ao Palácio do Planalto. A convenção, na sede nacional do partido, em Brasília, foi a primeira entre os presidenciáveis. Em um recado a Bolsonaro, que tem ameaçado não reconhecer o resultado da eleição caso perca, Ciro disse que não haverá “baionetas antidemocráticas”.

PUBLICIDADE

“Não haverá serrote, serra elétrica ou baioneta antidemocráticos capazes de derrubá-la (a democracia), porque um gigantesco cordão humano, de milhões de brasileiras e brasileiros destemidos a protegerão com seus corpos e, se necessário, estarão dispostos a irrigá-la com seu próprio sangue”, afirmou o pedetista no palco da sede nacional do partido.

Em entrevista após o discurso, Ciro Gomes criticou Lula por tentar atrair o apoio do MDB. “A mim tem chocado a absoluta falta de comportamento democrático do Lula em invadir e tentar destruir as organizações partidárias”, declarou. “O que o Lula está fazendo com a senadora Simone Tebet é puro fascismo. Aliciar uma banda de ladrões do MDB, corruptos, velhos sócios dele, Lula, na roubalheira, Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Romero Jucá, Eduardo Braga, Edson Lobão, para tirar o direito da senadora de ser candidata, é puro fascismo. Enquanto ilude a população que combate o fascismo”, completou Ciro.

PDT lança candidatura de Ciro Gomes em Brasília; ex-ministro não tem apoio de nenhuma outra legenda Foto: Reprodução

O candidato à Presidência também comparou Lula e Bolsonaro a dois romances. De acordo com Ciro, Lula “está escrevendo uma versão política do Médico e o Monstro” e Bolsonaro “rascunha uma versão grotesca do Frankstein”. “Igual ao médico Dr. Jekyll, Lula, que gosta de brincar de Deus, está gerando um monstro. Bolsonaro, que gosta de brincar de diabo, está recolhendo os cacos do pior que restou da política brasileira e montando um Frankstein”, declarou.

Publicidade

Em palco acompanhado por pré-candidatos a governos estaduais, Ciro também prometeu acabar com o orçamento secreto, esquema de compra de apoio político revelada pelo Estadão. O pedetista criticou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), conhecida como Kamikaze, que ampliou e criou uma série de benefícios sociais visando apoio eleitoral para Bolsonaro.

Segundo o ex-governador do Ceará, o presidente usa “a mão pesada, de autocrata” e “cria mentiras sobre a segurança das urnas e insinua intervenção armada”. Bolsonaro também usa “a mão ágil, de larápio”, de acordo com Ciro, e “moldou a famigerada PEC Kamikaze, o maior estelionato eleitoral da nossa história”.

O candidato ao Palácio do Planalto evitou falar sobre os acenos que pré-candidatos do PDT a governador, como Rodrigo Neves, no Rio, e Weverton Rocha, no Maranhão, têm feito ao petista. Já o presidente do PDT, Carlos Lupi, disse que Neves e Weverton não apoiarão Lula e ressaltou que a candidatura de Ciro foi aprovada por unanimidade nesta quarta-feira, 20. “Nós aprovamos na Executiva que nenhum candidato do PDT, em nenhum nível, poderá usar nenhum outro candidato que não seja o aprovado em convenção. Zero de chance (de estarem com Lula)”, disse Lupi.

Em mais uma série de críticas ao ex-presidente, Ciro disse que Lula quer “aprisionar” o País. “Por seus erros, Lula parece ter saído da prisão para aprisionar o Brasil em uma camisa de força. Por sua má índole, Bolsonaro, que chegou ao poder pelo voto, quer usar o voto para destruir as eleições e a própria democracia”.

Publicidade

O cearense também reprovou a atitude do petista diante da morte do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda. “Morre um petista em Foz do Iguaçu e quer fazer um comício com o cadáver do cara. Um oportunismo, uma desonestidade. Lula virou uma pessoa sem nenhum tipo de escrúpulo”.

O candidato comparou Lula a Bolsonaro e afirmou que o atual governo é consequência de 14 anos dos governos do PT. “14 anos aqui e o que o lulismo conseguiu foi parir Bolsonaro. Que obra monumental. Ou alguém acredita de sã consciência que o Bolsonaro chegou de Marte navegando em uma carruagem de fogo?”, declarou.

“Bolsonaro é produto da construção magoada e iludida do povo brasileiro, machucado pela mais grave crise econômica e pela mais grave revelação de escândalo de ladroeira levado ao centro de governo de poder pelo lulopetismo”, completou o ex-ministro.

Mesmo com o lançamento da candidatura a presidente, Ciro ainda não definiu quem será seu vice na disputa. Ele disse que prefere que seja uma mulher a ocupar o posto e deixou claro que a decisão foi delegada ao comando do PDT. A expectativa é que uma definição aconteça somente no início de agosto, perto do prazo final para o registro das candidaturas.

Publicidade

Esta será a quarta tentativa do ex-governador do Ceará de chegar à Presidência da República. Sem ter conseguido até agora o apoio de nenhuma outra legenda, Ciro tenta romper a polarização da política nacional entre Bolsonaro e Lula, que estão à frente nas pesquisas de intenção de voto.

No levantamento mais recente do Datafolha, divulgado em 23 de junho, Ciro aparece com 8%, em terceiro lugar, atrás de Bolsonaro (28%) e Lula (47%). No primeiro turno da eleição de 2018 ao Planalto, o ex-ministro obteve 12,47% dos votos e ficou na terceira colocação.

Ciro Gomes tem usado as redes sociais para difundir sua campanha com críticas a Bolsonaro e Lula Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O ato político contou com a participação do presidente nacional do partido, Carlos Lupi, do líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE), da senadora e pré-candidata ao governo do Distrito Federal, Leila Barros, do ex-ministros Aldo Rebelo e Miro Teixeira e do presidente do partido em São Paulo, Antônio Neto, que vai concorrer a uma vaga na Câmara.

O ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, escolhido pelo PDT para concorrer ao governo do Ceará, também foi à convenção. A decisão do partido de apoiar Cláudio levou o PT a romper a aliança com os pedetistas no Estado. A legenda de Lula defendia a reeleição da governadora Izolda Cela (PDT) e agora decidiu, em conjunto com MDB e Progressistas, lançar outra candidatura a governador para rivalizar com o PDT. O nome apoiado pelo PT ao Estado ainda não foi definido.

Publicidade

Histórico

Com 64 anos, Ciro tem um histórico de posicionamentos à esquerda, já foi próximo ao PT, mas rompeu com o partido e concentra suas críticas tanto em Bolsonaro, quanto em Lula. Nascido em Pindamonhangaba (SP), mudou-se ainda criança para Sobral (CE). No Estado nordestino, foi deputado estadual, prefeito de Fortaleza e governador.

Em 1994, como ministro da Fazenda no governo Itamar Franco, participou da consolidação do Plano Real, que acabou com a hiperinflação no País. No primeiro governo Lula, atuou como ministro da Integração Nacional, de 2003 a 2006. Depois, foi deputado federal. Além da candidatura ao Planalto em 2018, tentou chegar à Presidência em 1998 e 2002.

Como o PDT ainda não fechou acordo com outro partido para a corrida pelo Planalto, a definição sobre quem ocupará a vice deve ficar para depois da convenção. A tendência, de acordo com uma fonte do partido, é uma “solução caseira”, como em 2018, quando a senadora Kátia Abreu (PP-TO), então no PDT, concorreu ao lado de Ciro. Até o momento, as cotadas para ocupar o posto nesta eleição são a senadora Leila Barros e a ex-reitora da USP Suely Vilela.

Quatro anos atrás, Ciro recebeu apoio somente do Avante, que neste ano deve lançar o deputado André Janones (MG) ao Planalto. “O partido não tem muitas opções”, disse a fonte, ao ressaltar que o PDT não fechou nenhuma federação partidária. Nas federações, que passam a valer a partir desta eleição, as legendas devem caminhar juntas por pelo menos quatro anos, mas mantêm suas próprias siglas e identidades.

Publicidade

Em entrevistas recentes, Ciro defendeu o fim da reeleição para presidente e a criação de uma renda mínima no País. O ex-governador também já falou em acabar com o teto de gastos – a regra que limita o crescimento das despesas do governo à inflação do ano anterior -, taxar grandes fortunas, tributar lucros e dividendos e revisar a reforma trabalhista de 2017.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.