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Aos fatos, como eles são

Opinião|A cada vez mais cara ‘não demissão’ de Juscelino

Desde que assumiu o cargo, sua presença no noticiário tem tido muito pouco a ver com comunicação – e tudo a ver com a criação de problema. Juscelino segue como constrangimento ambulante para Lula

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Foto do author J.R.  Guzzo
Atualização:

Governos raramente precisam fazer muito esforço para ganharem mau nome na praça. Em condições normais de temperatura e pressão, levando-se em conta a imensidão da máquina estatal e os usos e costumes dos gatos gordos que se amontoam na administração pública deste país, há uma suspeita permanente de bandalheira em algum lugar. Mas tudo fica ainda mais precário, naturalmente, quando é o próprio governo que se dedica a batalhar para a construção de sua má fama. É o que está acontecendo com esse Juscelino Filho que Lula arrumou para ministro das Comunicações. Desde que assumiu o cargo, sua presença no noticiário tem tido muito pouco a ver com comunicação – e tudo a ver com a criação de problema. Já está fazendo hora extra no Ministério; deveria ter pedido para sair quando explodiram os primeiros relatos de sua conduta. Após um ano e meio de falatório cada vez mais feio, porém, o presidente da República não fez nada a respeito; nem pôs o ministro na rua, nem conseguiu que ele parasse de ser um constrangimento ambulante para o governo.

O Ministro das Comunicações Juscelino Filho (União) durante Blitz da Telefonia Móvel, onde são realizadas medições pelos técnicos da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para analisar a qualidade dos serviços móveis prestados pelas operadoras de telefonia na região. Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

Como a mulher de César, um ministro de Estado não apenas precisa ser honesto. Também tem de parecer honesto, sobretudo num governo como esse – e o ministro Juscelino faz todo o possível para não parecer. Já em seu aquecimento na função, requisitou um avião da Força Aérea Brasileira, hoje transformada em serviço de táxi dedicado a magnatas do governo, para ir a uma exposição de cavalos de raça. Ganhou, na ocasião, um elogio público de Lula. A partir daí, foi para o bumba-meu-boi. Pôs o próprio sogro em seu gabinete, sem que ele tivesse qualquer encargo oficial. Está envolvido com o uso de emendas parlamentares para asfaltar uma estrada perto de sua fazenda no Maranhão, e desvio de verbas da Codevasf para beneficiar a cidade em que sua irmã é prefeita. Acabou indiciado pela Polícia Federal pelos crimes de corrupção passiva, fraude em licitações e organização criminosa.

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Ministros assim, certamente, fazem parte fixa da paisagem política do Brasil. O extraordinário, no caso de Juscelino, é que ele já não tenha se tornado ex-ministro, e há mais de um ano. Ao contrário: durante todo esse tempo ele tem sido “prestigiado” por Lula, como técnico de futebol antes de ser demitido pela diretoria. Não se tem conhecimento de que alguma coisa boa, por mínima que seja, tenha acontecido nas comunicações do país. Em compensação, o ministro tem dado uma contribuição decisiva para a imagem de corrupção que começa a cercar o governo: nos seis primeiros meses de 2024, as queixas sobre a ladroagem nas redes sociais já são o dobro do total registrado em 2023. É o tipo de assunto que Lula e o PT têm horror de abordar. Imaginava-se, por isso mesmo, que depois de um certo período de tolerância Juscelino já teria sido demitido. Mas não. Lula, em relação ao caso, vem alternando uma atitude passiva com declarações piedosas sobre o direito de presunção de inocência dos acusados.

É curioso. No caso da suposta agressão ao ministro Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma, sobre o qual, após um ano de investigações frenéticas da Polícia Federal, não há o mais remoto vestígio de prova, Lula disse que os acusados eram “animais selvagens”. Não foram condenados até agora por absolutamente nada, mesmo porque as câmeras de vigilância do aeroporto não mostram agressão nenhuma, mas Lula já decidiu que são criminosos que devem ser exterminados da sociedade. Para o seu ministro a coisa é diferente. Ser acusado pela polícia não significa ser culpado, diz Lula. O presidente acha que ele tem “o direito” de “provar a sua inocência” – mais uma bobagem em estado bruto, levando-se em conta que ninguém tem de provar inocência sobre nada, cabendo ao acusador o ônus da prova. Tem dito, agora, que o indiciamento por corrupção não vai ser suficiente para Juscelino ser demitido. É preciso, também, que a PGR “ou o ministro Moraes” aceitem a denúncia.

Lula vive preocupado com a própria imagem. Há pouco tempo, decidiu gastar 200 milhões de reais do Erário Público com a contratação de empresas para melhorar a sua vida nas redes sociais. Mas cada dia a mais de permanência de Juscelino no ministério faz Lula sangrar. Se fosse demitido agora já seria um prejuízo de bom tamanho; quanto mais a decisão demorar, mais cara a conta fica.

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Opinião por J.R. Guzzo

Jornalista escreve semanalmente sobre o cenário político e econômico do País

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