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Opinião | As contas públicas do Brasil estão na porta da Vara de Falências e procura-se o responsável

O presidente Lula passou os dois anos do seu governo dizendo que equilíbrio nos gastos público é coisa de banqueiro-bilionário-safado-sabotador-da-faria-lima

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Foto do author J.R.  Guzzo

Em tempos mais inocentes, o sujeito viajava para o mundo da lua à passeio. Ficava lá, distraído, sem se estressar com as dificuldades aqui de baixo e, em geral, sem dar prejuízo a ninguém. Infelizmente, não é mais bem assim no Brasil de hoje – ou nem um pouco assim.

Temos, agora, muita gente que viaja para o mundo da lua com más intenções. Em geral, são altas autoridades do Estado, e dizem coisas que só existem em suas cabeças. Mas não se trata do louco manso padrão do Viaduto do Chá. Fazem isso porque querem lhe vender um Rolex suíço fabricado junto ao Lago Azul de Ypacaray.

O presidente Lula em encontro com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad Foto: Ricardo Stuckert/PR

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“Ninguém neste País tem mais responsabilidade fiscal do que eu”, disse Lula numa entrevista ao receber alta do hospital, onde foi operado para remover um hematoma no crânio. É como se tivesse anunciado que foi ele quem inventou o ovo frito.

As contas públicas do Brasil estão na porta da Vara de Falências. Os programas de “corte de gastos”, na vida real, só aumentam impostos. O governo roda em déficit há dezessete meses seguidos. Todas as estatais estão no prejuízo. O Correio se declara em situação de insolvência. Em matéria de irresponsabilidade-raiz, só mesmo Dilma consegue uma performance igual.

O presidente passou os dois anos do seu governo dizendo, sem parar, que equilíbrio nos gastos público é coisa de banqueiro-bilionário-safado-sabotador-da-faria-lima, e que ele jamais iria cortar verbas destinadas aos “pobres”. Como nunca falou de nenhuma outra despesa que poderia ser cortada, a conclusão é que não haveria corte nenhum – e não houve corte nenhum.

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“Gasto é vida”, disse Lula. “Investimento não é gasto”, repetiu – como se fosse possível investir sem tirar dinheiro de algum lugar. A defesa do equilíbrio foi excomungada por seu entorno político como “terrorismo fiscal”.

Se isso não é irresponsabilidade, então o que seria? Em um ano o dólar foi de R$ 4,90 para R$ 6,30, como legítima defesa contra a baderna fiscal, a inflação está roncando na casa dos 7% anuais e o assalto armado ao Tesouro Nacional entrou em transe – com o tráfico maciço de emendas no Congresso, bilhões em aumentos para o judiciário e a ladroagem sem qualquer risco de punição no resto da máquina.

A arrecadação de impostos, este ano, vai passar dos R$ 3,5 trilhões. Mas não se vê o “investimento”, e nem o dinheiro no bolso do “pobre”.

Lula diz que o “único problema da economia é o juro” – quando os juros altos, na verdade, são o único motivo pelo qual a inflação não disparou. Mais: caminham rumo aos 15%, e agora quem defende essas taxas é o novo presidente que o próprio Lula nomeou para o Banco Central. O que a “Faria Lima” tem a ver com isso?

Opinião por J.R. Guzzo

Jornalista escreve semanalmente sobre o cenário político e econômico do País

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