No meio da fuzilaria em torno do Banco Central (seu presidente, agora, passou de “este senhor” para “este rapaz”, na escala de insultos usada por Lula a seu respeito), da queda da bolsa, da subida do dólar e de outras tristezas de uma política econômica bêbada, o governo recorre mais uma vez à sua compulsão básica: cometido um erro, a reação automática é cometer mais um, ou quantos forem necessários, para turbinar o erro inicial.
É o caso, agora, com a ideia fixa do arroz. Decidiram socar mais de R$ 7 bilhões do Erário Público na importação de 1 milhão de toneladas de arroz, para vender em embalagens que fazem propaganda do governo. A operação foi um desastre. Não chegou até agora um único grão de arroz na mesa de ninguém, mas já há suspeitas de ladroagem grossa, logo no primeiro leilão, e tiveram de suspender tudo. Aí, em vez de desistir da ideia, o governo resolveu começar tudo de novo. Meteu o pé na jaca, mas quer pisar outra vez.
Já faz um mês que a importação foi anunciada, sob o pretexto de compensar perdas na safra por causa das enchentes no Rio Grande do Sul – onde se produz 70% do arroz consumido no Brasil. Desde o primeiro momento ficou claro que não era preciso importar arroz nenhum. O que havia era uma desorganização temporária nos sistemas de transporte, distribuição e emissão de notas fiscais.
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Passado o tumulto inicial, nunca faltou arroz em lugar nenhum – os produtores, o tempo todo, disseram que não havia necessidade nenhuma de importar. Mas e o carimbo “Arroz Importado Pelo Governo Federal” que iria aparecer nas embalagens? Disso o governo não quer abrir mão – e nem o MST, a quem foi entregue o controle da importação e dos leilões, quer sair do negócio. A solução, como de costume, foi jogar a bandalheira do primeiro leilão para baixo do tapete e fazer um segundo.
A importação já está com quase um mês de atraso; sabe-se lá quando vai chegar esse arroz. O certo é que ele, se chegar algum dia, vai ser vendido por preço menor do que o governo pagou para comprar – e o público em geral vai ter de pôr a mão no bolso para cobrir a diferença. É mais uma imagem em alta definição do tipo de gestão econômica que o País tem hoje.
O “Estado” é um santo padroeiro que, na sua condição de santo, não precisa da matemática, nem da física e nem da lógica para prover tudo o que as pessoas precisam. Basta dar dinheiro para ele, dia e noite – daí ele monta 38 ministérios, faz o presidente da República girar o mundo em hotéis dez estrelas e promete colocar arroz no seu prato a 4 reais o quilo. Dá no que tem de dar. Após um ano e meio de atividade, não saiu nada de útil dessa comédia.
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