PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Aos fatos, como eles são

Opinião|Governo senta para conversar com governadores sobre segurança pública e resultado é nada sobre nada

Em vez de saírem com algum consenso quanto à necessidade primária de enfrentar de verdade os criminosos, as autoridades presentes ao Concílio de Brasília ficaram discutindo os quadrinhos de cada um no organograma dos governos

PUBLICIDADE

Foto do author J.R.  Guzzo

É óbvio, por qualquer critério que se queira adotar, que o brasileiro é um dos seres humanos mais oprimidos do mundo pelo crime. A ameaça real, imediata e perigosa, no seu dia a dia, não é a faixa de Gaza, a “crise climática” ou a bancarrota da indústria naval. É o revólver apontado para a sua cabeça pelo bandido que quer tomar a moto que ele usa para trabalhar, o cartão do banco e o celular. A única atitude pública eficaz para proteger o cidadão do crime é tratar o crime como crime. É tudo o que não se faz.

Após quase dois anos de meditações, o governo da União achou que estava na hora de conversar um pouco sobre a questão prioritária para o brasileiro comum – a defesa da sua vida, da sua família e da sua propriedade. Mas o que fez, no mundo dos fatos, foi só isso: conversar. Conversaram durante mais de quatro horas seguidas: os magnatas da máquina federal, os gatos gordos da polícia e os governadores. Obviamente, não se resolveu nada. Como seria possível resolver alguma coisa numa reunião com dezenas de pessoas na mesa? Isso não existe.

O presidente Lula durante reunião com governadores sobre segurança pública Foto: Wilton Junior/Estadão

Mais uma vez, como ensina o Barão de Itararé, de onde menos se espera é de onde não sai nada mesmo. O Brasil vive hoje numa situação de território invadido e progressivamente ocupado pelo inimigo – o crime organizado, desorganizado e convencido, cada vez mais, que a polícia, a justiça e quem mais vier são impotentes contra ele. Num mundo racional, a única opção do aparelho do Estado seria combater o inimigo, como se combate uma tropa invasora. Foi a única coisa que não fizeram na reunião.

Em vez de saírem com algum consenso quanto à necessidade primária de enfrentar de verdade os criminosos, as autoridades presentes ao Concílio de Brasília ficaram discutindo os quadrinhos de cada um no organograma dos governos. Em vez de atacar o crime, ficaram brigando entre si para saber quem manda nisso ou naquilo, quanto de verbas devem ter e questões administrativas que só interessam a eles. Falaram, até, em “pacto federativo”.

PUBLICIDADE

O cidadão brasileiro que sai todo dia de casa sem saber se vai voltar vivo, ou se as suas filhas foram violentadas, não precisa de “pacto federativo”. Precisa que a autoridade pública tire de sua frente o bandido que transforma sua vida num inferno. Ele está na rua por um motivo básico: a impunidade, que vem sendo imposta ao País, há 30 anos seguidos, por uma legislação claramente suicida. As leis penais e a justiça protegem agressivamente o criminoso. Decidiram que ele tem de ser ajudado, e não punido. O resultado está aí.

Publicidade

O governo faz o “enfrentamento” de tudo, de fake news a atos golpistas. Poderia, talvez, enfrentar o crime.

Opinião por J.R. Guzzo

Jornalista escreve semanalmente sobre o cenário político e econômico do País

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.