Poucos aspectos da vida brasileira de hoje são tão cômicos quanto os que se apresentam como dramáticos – na verdade, quanto maior é o drama no mundo da imaginação maior é a comédia no mundo das realidades. Na política, para se ter uma ideia de onde foram amarrar o burro deste País, leva-se terrivelmente a sério gente como Arthur Lira ou Rodrigo Pacheco, para não mencionar a neurose permanente do “centrão”. Na segurança pública, debate-se pontos de alta metafísica social, mas o sacrossanto “Estado” não consegue garantir nem o direito do cidadão à sua própria vida. Na economia, há uma discussão tórrida sobre a “capacidade de cortar os gastos públicos”, quando até uma criança de dez anos de idade sabe que essa história não tem nada a ver com “capacidade”. Tem a ver com vontade – e a única vontade objetiva do governo Lula é torrar tudo o que existe no Tesouro Nacional, e sobretudo o que não existe.
Tudo não passa, no fundo e na verdade, de um programa de Chico Anysio com o personagem Justo Veríssimo – com a diferença, é claro, que Chico Anysio era um gênio e os autores da atual comédia são um bando de oportunistas que dão entrevistas prometendo que querem para “a Nação” o exato contrário do que fazem. Em nenhuma área do aparelho estatal essa miragem permanente e mal-intencionada se manifesta de forma tão agressiva quanto na economia. Finge-se que Lula e seu governo estão mentalmente torturados diante das opções por esta ou aquela “política econômica”, ou que há um duelo mortal entre “políticas públicas” e “mercado”. O que existe, na vida real, é um ataque desesperado contra o pagador de impostos brasileiro.
O Brasil fechou o ano de 2024 com uma arrecadação acima de R$ 3,5 trilhões, em todos os níveis – e o governo conseguiu, em apenas dois anos, acumular R$ 2 trilhões na dívida pública, que foi de R$ 7 trilhões para R$ 9 trilhões. Onde foi parar esse dinheiro todo se o governo diz que está liso? Para os “pobres” com certeza não foi – se tivesse ido, os pobres estariam levando um vidão, e com exceção de Lula e da deputada Hoffmann, todo mundo sabe que não estão. O fato nu e cru é que os impostos e a dívida nova foram usados para levar a níveis inéditos de prosperidade os gatos mais gordos da máquina estatal.
Juízes e magnatas do Judiciário ganham 200.000 reais por mês, ou sabe Deus quanto – e não aceitam sequer a discussão sobre algum limite. Os Correios estão em situação de insolvência, mas preveem gastar 380 milhões em publicidade em 2.025, isso depois de darem prejuízo de 2 bi nos primeiros nove meses do ano passado. O funcionalismo federal ganhou 27% de aumento salarial. É tudo uma piada gigante.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.