Encerrada a eleição presidencial nos Estados Unidos, com a vitória de Donald Trump, uma das perguntas fundamentais a ser feita é: como foi possível os americanos escolherem, em eleições livres, um candidato maciçamente descrito como fascista, ou nazista, um psicopata terminal que vai impor uma ditadura e declarar a Terceira Guerra Mundial? Resposta: nada disso, nunca, fez o menor nexo. O Trump que a esquerda, as classes civilizadas e os cientistas políticos inventaram simplesmente não existe.
O que existe é uma óbvia maioria que não quer o que essa gente quer, não tem mais paciência com as suas posturas irracionais e não acredita em nada do que dizem. O problema, no mundo das realidades, não é Trump. São eles. Estão vivendo, e não só nos Estados Unidos, dentro de um sistema de pensamento e de ação que trocou o raciocínio lógico pelo fanatismo das crenças. É uma espécie de Islã mental. Você tem de acreditar em vez de pensar – ou acredita, ou é um inimigo da “democracia”.
No caso de Trump era rigorosamente obrigatório acreditar, desde logo, no paradoxo pelo qual um ditador-monstro iria criar a sua ditadura disputando eleições democráticas. Ninguém, em lugar nenhum, quer viver numa tirania. Se Trump fosse mesmo um tirano enlouquecido, por que raios o eleitor iria votar nele? Era indispensável pensar, também, que Trump não teria dificuldade nenhuma em fechar o Congresso, eliminar o mais poderoso sistema judicial que o mundo já viu e transformar as Forças Armadas numa milícia pessoal como é na Venezuela.
Foi daí para baixo. Trump vai fazer “deportações em massa”. Vai mandar o Exército americano “matar oponentes”. Vai fazer guerra aos “latinos”, aos negros e às “minorias”, tudo ao mesmo tempo. Não passou um dia, nos últimos meses, sem você ouvir essas coisas. O resultado foi uma derrota histórica desta lavagem cerebral – uma das mais incompetentes, bisonhas e estúpidas jamais tentadas na vida política de uma nação. Tentou-se vencer os fatos com a mentira em massa. Deu errado.
A derrota não foi de uma candidata patentemente inepta e, muitas vezes, absurda em sua campanha. Foi, mais do que isso, o colapso de uma miragem em modo extremo de arrogância: o eleitor vai nos obedecer cegamente e votar em qualquer poste que a gente escolher. Sabe-se bem quem é “a gente”. É a esquerda que trocou o povo pelo controle da máquina estatal. São os intelectuais, a maioria da mídia e os bilionários modernos. É o mundo das “ideias”, contra o mundo da produção.
Sua convicção suprema, e oculta, é que a maior ameaça do mundo atual é a vontade da maioria. O perigo não é Trump. São as eleições limpas.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.