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Bolsonaro diz que pode voltar a ser alvo da PF com avanço de inquéritos: ‘Vão tentar me esculachar’

Ex-chefe do Executivo retomou narrativa de perseguição com desdobramentos da investigação sobre monitoramento de opositores pela Abin durante a gestão bolsonarista; declaração ocorreu em evento da pré-campanha de Alexandre Ramagem, no Rio

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Foto do author Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO - Alvo de investigações por fraudes no cartão de vacinação e pela venda das joias sauditas, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta sexta-feira, 19, que a Polícia Federal (PF) pode voltar a cumprir mandados em suas residências. Segundo o ex-presidente, querem taxá-lo de “corrupto”: “Vão tentar me esculachar”.

”Amanhã pode vir na porta da minha casa a Polícia Federal pela quarta vez, buscar cartão de vacina. Eu não me vacinei. Vai lá buscar meu passaporte. Vai tentar, cada vez mais, me achincalhar, me esculachar, mas não vão encontrar nada porque não tem”, afirmou Bolsonaro em um trio elétrico ao lado do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do pré-candidato à prefeitura do Rio, deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). O ato de pré-campanha em Campo Grande, na zona oeste da cidade, foi o segundo nesta semana.

Jair Bolsonaro em evento da pré-campanha de Alexandre Ramagem no Rio na quinta-feira, 18 Foto: Pedro Kirilos/Estadão

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Diante dos avanços da investigação sobre o monitoramento de opositores pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão bolsonarista, o ex-chefe do Executivo voltou a investir na narrativa de perseguição. Segundo Bolsonaro, “apesar das perseguições e das acusações, vale a pena não desistir do Brasil”. ”Eu poderia estar no EUA. Tinha proposta para ganhar 30 mil dólares”, afirmou.

Foi a mesma narrativa adotada por Ramagem que, pelo segundo dia seguido, posou ao lado de Bolsonaro em um ato de pré-campanha. O roteiro e a estrutura são os mesmos de um comício: um locutor inflamando os militantes, trio elétrico e uma série de políticos, com ou sem mandato, em busca de um vídeo ou foto ao lado de Bolsonaro.

Em frente ao trio, pré-candidatos a vereadores pelo PL disputaram a atenção dos possíveis eleitores. Apesar de o pedido explícito de voto nos atos de pré-campanha ser proibido por lei, ou seja, o uso de expressões como “vote em mim” ou “vote em fulano” ser vedado, o ato servirá aos pré-candidatos como conteúdo para as campanhas, que começarão oficialmente em 16 de agosto.

Sem pedir votos, Bolsonaro deu exemplos de aliados que se elegeram ao se associarem a ele. Citou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o deputado federal Helio Lopes (PL-RJ).

“Um abraço especial ao meu amigo Ramagem. Não vou falar nada mais do que isso. Deus te dê força para superar os obstáculos”, afirmou Bolsonaro ao fim do discurso.

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O senador Flávio Bolsonaro, tido como a ponte entre Ramagem e Bolsonaro e o principal defensor da candidatura do aliado, repetiu os “gatilhos” das campanhas eleitorais bolsonaristas. Afirmou que “um cara aí, um barbinha”, em referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é a favor do aborto – o que já foi contestado pelo petista, que disse ser contra – exaltou símbolos de patriotismo e criticou a esquerda.

“Não há espaço vazio na política. O resgate do nosso Brasil em 2026 passa por 2024. Nós temos que ocupar os espaços nas prefeituras, nas Câmaras de vereadores... Gostemos ou não de política, nossa vida será decidida por políticos”, afirmou.

No evento de quinta-feira, 18, Bolsonaro disse que Ramagem “paga um preço alto pela ousadia” de querer governar uma cidade como o Rio. A reafirmação de apoio a Ramagem ocorre na semana em que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo do áudio de uma reunião em que o ex-presidente, o general Augusto Heleno (então chefe do Gabinete de Segurança Institucional) e o ex-chefe Abin discutem um plano para anular o inquérito das “rachadinhas” – investigação que fechou o cerco a Flávio Bolsonaro, filho “01″ do ex-chefe do Executivo.

Desde que o caso veio à tona, o ex-presidente tem investido na narrativa de perseguição. Nesta quinta, não foi diferente. ”Quando se fala em 2026, temos que passar por 2024. Todos aqueles que estão ao meu lado sofrem perseguição. Pagam um preço alto por ombrearse comigo. Vocês sabem como somos perseguidos. Até baleia colocam na minha frente”, discursou Bolsonaro a apoiadores em um ato na Tijuca, na zona norte.

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Na quarta-feira, 17, Flávio Bolsonaro divulgou um vídeo nas redes sociais em que o pai anunciava os compromissos públicos no Rio ao lado de Ramagem nesta semana. A gravação de apoio põe fim às especulações sobre uma possível troca de candidato na disputa pela prefeitura do Rio nas eleições deste ano e é considerado uma vitória de Flávio, o principal articulador da campanha de Ramagem.

Como mostrou o Estadão, o ex-presidente se irritou com Ramagem após a informação de que a Polícia Federal encontrou o áudio da reunião, mas que o PL pretendia manter a candidatura de Ramagem mesmo com o avanço das investigações que apuram um suposto esquema de espionagem ilegal na Abin.

No ato desta sexta, Bolsonaro voltou a questionar as decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o tornaram inelegível por oito anos. “E como diz aquele petista: “Está inelegível’. Por que estou inelegível? Porque eu me reuni com embaixadores. Mas eu não vim para o Rio me reunir com traficantes. A outra inelegibilidade, a de setembro, foi por eu ter um empresário do meu lado, que vocês sabem qual é, que usa terno verde e amarelo e não com a dama do tráfico”, disse.

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Bolsonaro diz que Haddad quer taxar o Pix

O ex-presidente voltou a investir no discurso de campanha, com acenos a setores da segurança pública, evangélicos e com ataques ao PT. Nos dois atos na capital fluminense, Bolsonaro e aliados entoaram discursos contra a legalização do aborto, a descriminalização das drogas e a favor das escolas cívico-militares.

”O Nordeste era para ser a melhor região do País. O PT está há 20 anos no Nordeste. Qual o melhor Estado do Brasil? Santa Catarina. O PT nunca passou por lá. Onde o PT está tem a desgraça. O atual prefeito (Eduardo Paes) vive de abraços com o Lula. Vai piorar”, afirmou.

O ex-chefe do Executivo alfinetou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. De acordo com Bolsonaro, ele pretende “taxar o Pix”.”Na nossa política econômica atendemos a todos. O Pix passou a ser realidade. Se fosse esse governo, ele tinha negado. Está faltando o Haddad taxar o Pix. Depois de taxar as blusinhas, ele (Haddad) quer taxar o Pix”, disse.