Após a divulgação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou pelo menos duas noites na Embaixada da Hungria depois de entregar o passaporte à Justiça brasileira, um vídeo de 2018, em que ele levanta a hipótese de uma possível fuga de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do País, para não ser preso numa futura condenação da Operação Lava Jato, passou a ser compartilhado nas redes sociais nesta terça-feira, 26.
“Estaria Lula preparando uma saída estratégica, temendo uma condenação via TRF-4?″, questiona Bolsonaro, na época deputado federal pelo PSC, referindo-se ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Corte em que Lula foi condenado em segunda instância no caso do triplex do Guarujá, na Lava Jato, em 24 de janeiro de 2018.
No vídeo, datado de 15 de janeiro de 2018, Bolsonaro diz que três assessores do então ex-presidente Lula, na época investigado por corrupção e lavagem de dinheiro, receberam autorização para deixar o País rumo à Etiópia, um dia antes do julgamento que condenaria Lula a 12 anos e um mês de prisão – sentença anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em abril de 2021.
“O ex-presidente da República tem direito a uma equipe de assessores e seguranças. O Diário Oficial (DOU) de hoje, dia 15, segunda-feira, publica a autorização de um de seus assessores viajar, dia 23, para a Etiópia. O mesmo DOU de hoje publica a autorização para dois outros assessores de Lula também viajarem para a Etiópia”, diz Bolsonaro, na época pré-candidato à Presidência.
“Lula não precisa de autorização para sair do Brasil. Ele é um cidadão como outro qualquer. Agora, o curioso: o julgamento do mesmo (Lula) ocorrerá dia 24″, completou, antes de questionar sobre uma possível fuga do ex-presidente do País.
Lula daria palestras no dia 27 de janeiro em Addis Abeba, capital da Etiópia, e a viagem estava marcada para o dia 26. Entretanto, o então ex-presidente teve que cancelar a ida ao país africano seis horas antes do embarque, porque seu passaporte foi apreendido pela Justiça do Distrito Federal. A decisão foi tomada no âmbito de outra investigação, que apurava tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa na compra de caças suecos.
A informação sobe a hospedagem de Bolsonaro na Embaixada Húngara foi publicada nesta segunda-feira, 25, pelo jornal dos Estados Unidos The New York Times (NYT). O jornal publicou imagens de vídeo e fotos indicando que Bolsonaro entrou na embaixada, em Brasília, no dia 12 de fevereiro e só saiu de lá dois dias depois. Em nota, a defesa do ex-presidente confirmou que ele ficou hospedado no local, mas o motivo foi “manter contatos com autoridades do país” e atualizar os representantes húngaros sobre o “cenário político das duas nações”.
Em evento no Teatro Municipal na noite desta segunda, Bolsonaro questionou se há crime em “dormir na embaixada e conversar com embaixador”. “Tem algum crime nisso? Tenha santa paciência, chega de perseguir, pessoal”, disse aos jornalistas.
‘Eu poderia ter ido para uma embaixada’, afirmou Lula em 2018
Em um vídeo também de 2018, Lula falou sobre a possibilidade de uma fuga do País para evitar cumprir a pena, incluindo pedir asilo em uma embaixada, mas afirmou ter decidido “enfrentar os problemas” e se entregar à Justiça.
“Eu estive na divisa do Paraguai com o Brasil. Eu estive em Foz do Iguaçu, vizinho do Uruguai e da Argentina, eu poderia ter saído. Eu poderia ter ido para uma embaixada. Eu não quis fugir, porque quem é inocente não corre, enfrenta o problema. E eu quero provar minha inocência. Se tem político que não tem honra e não se defende, eu tenho muita honra e quero me defender”, afirmou o petista em 7 de abril de 2018, momentos antes de ele se entregar à Polícia Federal (PF) e ser preso em Curitiba (PR).
Lula concluiu a entrevista dizendo que estava “com a consciência tranquila dos inocentes”. Após 580 dias na prisão, Lula foi solto em 8 de novembro de 2019.
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