BRASÍLIA - Aliados políticos de Jair Bolsonaro (PL) fizeram Pix de valores que vão de R$ 10 a R$ 1 mil para o ex-presidente. Os comprovantes das transferências foram publicados por deputados, prefeito e vereadores nas redes sociais até esta segunda-feira, 26, após cobranças para que mostrassem os recibos. Bolsonaristas divulgam, desde a noite de sexta-feira, 23, campanha de “vaquinha” para levantar dinheiro para pagamento de multas judiciais, sob a justificativa de que ele é vítima de “assédio judicial” e que precisa de ajuda para quitar “diversas multas em processos absurdos”.
O menor valor entre os compartilhados nas redes sociais foi o doado por Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que transferiu R$ 10 para o ex-presidente. Já as maiores doações registradas por aliados políticos foram do deputado estadual do Rio de Janeiro Anderson Moraes (PL-RJ) e do prefeito de Chapecó (SC), João Rodrigues (PSD-SC), que transferiram R$ 1 mil cada um.
Nesta quinta-feira, 29, o ex-presidente afirmou que já arrecadou o suficiente para pagar todas as multas que sofreu em processos judiciais e eventuais novas punições.
A campanha surgiu após o início do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na última quinta-feira, 22, que pode determinar a inelegibilidade do ex-presidente até 2030. Bolsonaro é investigado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação para obter benefícios na eleição de 2022. Em uma reunião feita com embaixadores, em julho do ano passado, no período pré-eleitoral, ele apresentou denúncias, sem comprovações, sobre a integridade do sistema eleitoral brasileiro.
Transferências
Entre as transferências divulgadas pelos políticos nas redes sociais, está o valor de R$ 1 mil repassado pelo deputado estadual carioca Anderson Moraes. O parlamentar afirmou que deve o mandato dele ao ex-presidente, e que Bolsonaro sofre “uma imunda perseguição dos autoproclamados democráticos”.
Outro que doou a quantia foi o prefeito de Chapecó (SC), João Rodrigues. Filiado ao PSD, partido que integra a base do governo Lula, Rodrigues é aliado de Bolsonaro no Estado. Em abril de 2021, durante a pandemia de covid-19, o ex-presidente compartilhou um vídeo nas redes sociais onde parabenizava o prefeito por incentivar o “tratamento precoce” contra a doença, utilizando drogas sem eficácia comprovada.
Nas redes, o prefeito disse que a sua ajuda financeira a Bolsonaro foi uma prova de “lealdade” ao ex-presidente. Em fevereiro de 2018, quando cumpria um mandato de deputado federal, Rodrigues foi preso e condenado a 5 anos e 3 meses de prisão em regime semiaberto por dispensa irregular de licitação. Ele foi solto após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em agosto daquele ano.
Após o episódio, o prefeito afirmou que foi acolhido por Bolsonaro. Disse que teve uma conversa pessoal com o ex-chefe do Executivo em novembro de 2020, antes da disputa pela prefeitura de Chapecó, onde estreitararam a relação. “Eu era rejeitado por alguns, mas tratado com respeito pelo presidente da República.”
Deputado estadual do Mato Grosso do Sul, João Henrique Catan (PL-MS) também contribuiu com R$ 1 mil para a vaquinha. Nas redes sociais, o parlamentar disse que as denúncias que o ex-presidente sofre são para “tentar destrui-lo” e que os seus apoiadores “não vão deixar isso acontecer”. Em março deste ano, Catan foi alvo de críticas ao levar um exemplar do livro ‘Mein Kampf’, de autoria do líder nazista Adolf Hitler, em um discurso sobre cargos comissionados na Assembleia Legislativa do Estado.
Outros doadores que divulgaram a sua contribuição nas redes foram os vereadores Leonardo Dias (PL-AL) e Fernando Holiday (Republicanos-SP), que transferiram, respectivamente, R$ 500 e R$ 222,22 para o ex-presidente. Na postagem, Dias, que integra a Câmara de Maceió, disse que Bolsonaro está recebendo punições por “ter lutado por todos nós”.
Já Holiday, que é parlamentar na cidade de São Paulo, afirmou que “já fez a sua parte” para ajudar Bolsonaro a pagar “as inúmeras multas que vem recebendo”.
Vice-líder do PL na Câmara dos Deputados e um dos integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, o deputado André Fernandes (PL-CE) também divulgou nas redes a sua contribuição para a “vaquinha” de Bolsonaro. O parlamentar doou R$ 22,22, quantia que faz referência ao número do ex-presidente na urna eletrônica nas eleições do ano passado. A Polícia Federal (PF) concluiu, em maio, que Fernandes incitou a prática dos atos de vandalismo que ocorreram nos prédios dos Três Poderes.
A menor quantia doada entre os aliados foi a feita por Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) que transferiu R$ 10 para o ex-presidente. Investigado por um suposto esquema de rachadinha em 2020, Queiroz tentou se candidatou a deputado estadual no Rio de Janeiro no ano passado, mas não teve sucesso.
O assessor de Bolsonaro Fabio Wajngarten alega que a campanha de doações não partiu da equipe do ex-presidente. Apesar disso, o próprio Wajngarten publicou no Twitter a chave Pix de Bolsonaro, com a indicação que a conta é do Banco do Brasil e a frase: “confira antes de transferir”. Bolsonaro e os filhos Flávio, Eduardo e Carlos não postaram nas redes sociais a respeito da “vaquinha”.
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