A Câmara Municipal de Balneário Camboriú (SC) vai atualizar atas relacionadas à morte do ex-prefeito Higino João Pio, assassinado pela ditadura militar em 1969. O requerimento que sugere a retificação foi colocado para votação e aprovado nesta terça-feira, 25, com um único voto contrário: o do vereador Jair Renan Bolsonaro (PL).
A proposta vai modificar dois documentos da Casa para incluir a informação de que Pio foi assassinado pelo Estado brasileiro durante o regime militar.
Em uma das atas, consta que o prefeito “faleceu no dia 3 de março de 1969, na Escola de Aprendizes de Marinheiro no Estreito, em Florianópolis, onde se encontrava prestando depoimento à CGI de Santa Catarina desde o dia 21 de fevereiro de 1969”.

Na outra, a causa da morte será acrescentada em trecho que menciona que o então presidente da Câmara, Álvaro Antônio da Silva, substituiu Higino João à frente do Executivo da cidade.
Quem sugeriu a alteração foi a vereadora Jade Martins (MDB). Na justificativa do requerimento, ela escreve que se trata de “uma reparação histórica e um ato de respeito à memória de Higino João Pio, bem como um compromisso com a verdade e a justiça, corrigindo a narrativa oficial distorcida”.
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Ao todo, 16 integrantes da Casa apoiaram o texto. Jair Renan se posicionou contrário ao projeto, e os vereadores Victor Forte (PL) e o presidente, Marcos Kurtz (Podemos), não votaram. Ao Estadão, a equipe do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que ele só vai se pronunciar sobre a votação na próxima semana.
A Câmara de Balneário Camboriú terá na próxima segunda-feira, 31, uma sessão solene em homenagem à memória do ex-prefeito municipal Higino João Pio, 56 anos após seu falecimento.
Certidão de óbito retificada
Os familiares de Higino João Pio já receberam a versão atualizada da certidão de óbito dele. A alteração é resultado da resolução nº 601/2024 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que levou à retificação dos documentos de outras vítimas da ditadura militar, entre elas o ex-deputado Rubens Paiva, cuja história foi relembrada no filme Ainda Estou Aqui.
Agora, no campo que descrevia a morte do ex-prefeito de Balneário Camboriú como um suicídio, consta morte “não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964”.
Higino foi uma das 698 pessoas em Santa Catarina que sofreram violações de direitos humanos, segundo estima a Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright. Ele foi também o único dos presos políticos a ser morto em território catarinense.
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Ele foi eleito pelo Partido Social Democrático (PSD) em 1965, assim que o município foi desmembrado de Camboriú. Conforme o relatório final da Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright, o ex-prefeito foi preso em 19 de fevereiro de 1969, sob o pretexto de irregularidades administrativas.
No dia 3 de março, dia do aniversário da mulher dele, a família foi notificada de sua morte por suicídio, que teria sido causado por asfixia com um pedaço de arame. Ele foi encontrado morto em uma das celas da Marinha.