Janja e mais sete assessores: o que se sabe sobre a comitiva da primeira-dama em Paris

Com credencial de chefe de Estado, primeira-dama representa governo na abertura dos Jogos Olímpicos. Grupo inclui três integrantes da Secom e quatro do gabinete presidencial. Estatais e outras áreas mandaram mais 29 pessoas, inclusive atletas

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Foto do author André Shalders
Foto do author Tácio Lorran
Atualização:

BRASÍLIA - Ao ir a Paris para representar o governo brasileiro na abertura dos Jogos Olímpicos, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, levou consigo pelo menos sete assessores. Três deles são integrantes da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), três são lotados no Gabinete Pessoal do Presidente da República – inclusive a assessora de imprensa de Janja – e um pertence ao Cerimonial da Presidência. Procuradas, nem a Secom nem a assessora de imprensa da primeira-dama forneceram detalhes sobre a viagem.

A primeira-dama em Paris, no Museu do Louvre, na véspera da abertura dos Jogos Olímpicos de 2024 Foto: Instagram via @janjalula

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Com as informações disponíveis até o momento em ordens bancárias consultadas pela reportagem do Estadão, é possível saber apenas os valores recebidos em diárias por alguns dos integrantes do grupo. Variam de R$ 6.533,39 (pagos à assessora de imprensa de Janja, a jornalista Taynara Pretto Tenório da Cunha) a R$ R$ 23.616,32, recebidos por Priscila Pinto Calaf, profissional que trabalha nas redes sociais da Secom.

Além desses sete assessores, a Presidência da República também custeou as viagens de sete profissionais da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que farão a cobertura dos jogos. Juntos, o grupo recebeu pelo menos R$ 185 mil em diárias. Dos profissionais da EBC, três estariam atuando na transmissão oficial dos compromissos da primeira-dama, segundo apurou o Estadão.

Além de Janja, completam a representação do governo brasileiro nos jogos os ministros do Esporte, André Fufuca (PP-MA) e do Turismo, Celso Sabino (União Brasil-PA). Fufuca foi acompanhado pelo número 2 da pasta, o secretário-executivo Diego Galdino de Araújo. A comitiva oficial brasileira é composta por Janja, André Fufuca e pelo o embaixador brasileiro na França, Ricardo Neiva, conforme despacho assinado por Lula no dia 12 de julho.

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O despacho do presidente Lula designando a comitiva oficial para os Jogos Olímpicos deste ano Foto: Reprodução/Imprensa Nacional

Antes da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, a agenda de Janja em Paris incluiu, nesta quinta-feira, 25, o lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza – um grupo criado por iniciativa do Brasil – e um encontro com a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo. À noite, a primeira-dama participou de um jantar oferecido pelo Comitê Olímpico Internacional e pelo governo francês. Segundo o portal UOL, a primeira-dama está hospedada na Embaixada brasileira em Paris.

No X (antigo Twitter), Janja agradeceu nesta sexta-feira, 26, a recepção do presidente da França, Emmanuel Macron, e da primeira-dama do país, Brigitte Macron, a quem chamou de “querida amiga”. “Me sinto muito honrada por representar o meu marido, presidente Lula, na Cerimônia de abertura das Olimpíadas”, disse.

Procurada, a Secom se recusou a informar quais assessores viajaram com Janja. Disse apenas que não foram usados voos da Força Aérea Brasileira (FAB). “A relação dos servidores que compõe a comitiva oficial está publicizada e pode ser consultada no Diário Oficial da União. Não houve voo da FAB. Todos os gastos relativos a viagens internacionais são dados públicos, que podem ser obtidos no Portal da Transparência do Governo Federal assim que eles forem compilados”, disse a pasta.

No caso de três assessores – Julia Camilo, Edson Antônio e Márcio André – não foi possível encontrar as portarias de afastamento do país no Diário Oficial. No entanto, as ordens bancárias do Siafi registram o pagamento de diárias internacionais para os três no período.

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Ao todo, o governo federal autorizou no último mês a ida de pelo menos 35 servidores, militares e empregados de empresas estatais para as Olímpiadas. Nem todos viajaram com dinheiro público: no caso do Banco do Brasil, por exemplo, alguns dos profissionais viajaram custeados pela operadora de cartões de crédito Visa.

O número inclui ainda servidores e empregados de estatais que viajaram para competir nos jogos e professores de universidades federais – alguns atuarão como médicos dos jogadores; outros farão parte do comitê de testagem para doping. As informações foram publicadas no Diário Oficial da União.

Até o momento, o Portal da Transparência mantido pela Controladoria-Geral da União (CGU) registra R$ 836,7 milhões gastos com viagens de integrantes do governo em 2024. No ano passado, primeiro ano da gestão Lula (PT), foram R$ 2,2 bilhões.

Oposição critica uso de credencial

Nos últimos dias, parlamentares e influenciadores da oposição têm criticado a primeira-dama pelo uso da credencial de chefe de Estado para ir às Olimpíadas – oficialmente, Janja não possui cargo público. Apesar disso, a prática de enviar a primeira-dama aos jogos é relativamente comum: os Estados Unidos, por exemplo, enviaram a primeira dama Jill Biden. Antes, o país fora representado por Michelle Obama, casada com o ex-presidente Barack Obama.

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“Protocolarei um pedido de informações ao Itamaraty questionando como Janja obteve credencial de chefe de Estado para os Jogos Olímpicos, algo que não lhe cabe como primeira-dama. Segundo informações obtidas na imprensa, interlocutores de Janja praticamente coagiram integrantes do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para conseguir sua credencial”, escreveu o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em sua conta no X.