Os candidatos ainda fingiam civilidade no debate da Band quando começou a circular, pelas timelines e grupos de WhatsApp, um vídeo dos bastidores em que o deputado André Janones (Avante-MG) e o ex-ministro Ricardo Salles (PL) quase “saíam na mão”. Horas depois, Janones admitiu em suas redes sociais que provocou e começou toda a confusão, ao dizer que “plantaria uma árvore na porta da casa” do antigo titular da pasta de Meio Ambiente no governo Jair Bolsonaro.
Janones entrou para valer na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recentemente, mas já ficou claro a que veio. Sua atuação combina os “melhores” piores momentos de Carlos Bolsonaro e do deputado estadual cassado Mamãe Falei. Um Frankenstein com a mente por trás da estratégia de redes sociais que elegeu Jair Bolsonaro em 2018 (e mantém sua base mobilizada) e a tática de campo do “Jackass” do MBL, o movimento que ajudou a mobilizar as ruas pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Na semana passada, Janones fez subir aos Trending Topics do Twitter a hashtag “Janones eu autorizo”. Era a resposta da militância lulista a um pedido do deputado federal para “dar no lombo dos bolsonaristas”. Alguns tweets depois, ele deixou clara sua inspiração: publicou uma charge em que fazia Carlos Bolsonaro engolir um líquido verde de uma garrafa com o rótulo “próprio veneno”. Era uma referência ao “gabinete do ódio” articulado com a ajuda do filho “02″ do presidente e revelado pelo Estadão em 2019.
Cobertura especial
(Outro exemplo desse Janones “hiperativo” foi um tweet desta segunda-feira, 29. “Pra quem ainda não compreendeu, faço minhas mais uma vez as palavras do inesquecível Raul Seixas: ‘A arapuca está armada e não adianta de fora protesta. Quando se quer entrar num buraco de rato, de rato você tem que transar’. Entendedores entenderão”. Comentário meu: entendedores, agora se virem).
No mesmo dia em que se esbaldava com a “autorização” dos petistas, Janones foi à porta do Palácio do Planalto fazer uma live. Acabou expulso de lá pelos seguranças, mas conseguiu os views que queria.
No domingo, sempre com celular em punho, foi ao debate com a clara intenção de provocar e tirar do sério todos os bolsonaristas que conseguisse. Expediente similar ao que fez de Arthur do Val, o Mamãe Falei, fenômeno no YouTube, líder do MBL e deputado estadual (cassado, após os indefensáveis áudios sobre a Guerra da Ucrânia). Prática que o petismo criticava quando era alvo, mas aceita agora que o celular está na mão de um dos seus.
Há zero surpresa na animação da militância petista com a guerrilha de André Janones. É para isso que ele está na campanha. Da mesma forma que Geraldo Alckmin está na chapa de Lula para falar com o PIB e com o agro, Janones está na área para falar com a base mais aguerrida, que acha que qualquer um que votou em Bolsonaro em 2018 ou cogite não votar em Lula agora deve ser tratado como fascista.
Janones satisfaz esta fatia do eleitorado e promove um reencontro do PT com seus verões passados. Quando incendeia a militância ao provocar bolsonaristas nas redes ou olho no olho, Janones é “Carluxo” (apelido pejorativo usado por opositores do vereador fluminense) e Mamãe Falei. Mas também é MAVs (sigla para Militância em Ambientes Virtuais) com Dilma Bolada.
O deputado federal é útil a Lula porque topa fazer o serviço sujo de bater sem dó nos Bolsonaro e seus seguidores. Lula é útil a Janones, pois deixa cada vez mais provável a reeleição do deputado federal mineiro. Confusões como a deste domingo ajudarão o PT a medir se essa fatura não ficará pesada demais antes de 2 outubro. Aí, pode perder a graça ter um “Carluxo” e um Mamãe Falei para o partido chamar de seu.
*Leonardo Mendes Júnior é jornalista e diretor de Audiência do ‘Estadão’
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