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Milei dá nova prova de força de radicalismo e mostra que não se deve subestimar o bolsonarismo

Vitória do candidato outsider nas prévias argentinas ajuda a pensar sobre o verdadeiro impacto das investigações contra Bolsonaro; eleitorado continua muito receptivo ao discurso antissistema

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colunista convidado
Foto do author Silvio Cascione

A vitória do candidato outsider Javier Milei nas prévias presidenciais argentinas permite algumas reflexões sobre o Brasil. Mais uma vez, assim como Jair Bolsonaro e Donald Trump, um candidato antissistema choca os mercados, a imprensa e as elites em geral. A trajetória de Milei ajuda a pensar sobre o futuro da democracia, e também sobre o verdadeiro impacto das investigações – cada vez mais sérias – contra Bolsonaro e seus aliados.

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Milei teve apoio de 30% dos argentinos nas prévias porque os argentinos estão cansados. Tentaram governos à esquerda e à direita, e o país preso em uma crise econômica sem fim. Com uma mensagem contundente contra a classe politica tradicional, Milei conseguiu cativar muitos eleitores mesmo sem uma campanha bem estruturada. Ele não explica suas propostas; mas, para muitos argentinos, são os políticos tradicionais que devem satisfação após tantos anos de fracassos. Milei tem o benefício da dúvida.

Soa muito familiar aos brasileiros – porque é. A raiva contra o sistema político, multiplicada pelas caixas de ressonância (ou dissonância) das redes sociais, ainda é um fenômeno global. Milei prova que ele continua muito forte, mesmo após a derrota de Trump e Bolsonaro nas últimas eleições.

Javier Miler celebra vitória nas prévias argentinas; eleição para presidente será em outubro Foto: LUIS ROBAYO / AFP

Milei ainda não venceu as eleições; as eleições de fato ocorrem em outubro e novembro. Também não há nenhuma garantia de que, se eleito, Milei fará um bom governo. Pelo contrário: os desafios econômicos e sociais serão muito maiores do que os enfrentados por Bolsonaro e Trump. Diante de uma crise tão séria, e que tende a se agravar, Milei pode acabar tendo destino parecido a outro candidato antissistema, que sequer terminou seu mandato: Pedro Castillo, do Peru.

Mas, independentemente do que aconteça com Milei e a Argentina, o ponto é que o eleitorado continua muito receptivo a líderes radicais, de viés populista e antissistema. Por isso, é preciso ter cautela com as avaliações de que as investigações contra Bolsonaro representam o fim da linha para o ex-presidente. É possível, sim, que ele termine preso, dependendo do curso das investigações. É possível, também, que ele perca apoio de parte de sua base – embora não haja ainda qualquer sinal de que isso tenha ocorrido, mesmo após meses de notícias negativas. Mas nada disso significa, por si só, que o eleitor brasileiro voltará a preferir políticos mais tradicionais. Do ponto de vista eleitoral, o centro político continua em colapso.

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