Ao contrário do que fez no curso do julgamento do mensalão, a presidente Dilma Rousseff, por erro estratégico ou falta de opção, abraçou a defesa do PT no momento em que as investigações de corrupção na Petrobrás o alcança de forma mais contundente, através de seu tesoureiro, João Vaccari Neto.
Com a decisão de comparecer à festa de aniversário de 35 anos da legenda, sabidamente um desagravo a Vaccari, a presidente sinalizou o fim da resistência à solidão que sua base política começava a lhe impor.
Sem mais o apoio incondicional do PMDB, decidiu enfrentar o partido do vice-presidente Michel Temer, investindo na campanha kamikaze do candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), rompendo pontes cuja reconstrução depende menos dela e mais do presidente eleito Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Com o PT na linha de tiro nas investigações do chamado “petrolão”, a presidente pode estar mais sozinha agora do que antes. A defesa do partido na linha adotada pelo seu antecessor, Lula, de vítima de uma conspiração do Judiciário, da imprensa e de forças externas, a distancia ainda mais da retomada da capacidade de governar.
Agora Dilma está de mãos dadas com o PT em uma inflexão em relação ao que aparentava seu movimento inicial de enfrentar a corrente majoritária do partido, excluída do chamado “núcleo duro” do poder – a estrutura ministerial instalada no Palácio do Planalto.
Os erros cometidos na articulação política – a começar pela humilhante derrota na disputa pela presidência da Câmara – tiraram do controle do governo a base aliada, do que é retrato fiel o apoio à instalação da CPI da Petrobrás com a adesão de 52 dissidentes governistas.
O episódio coincide com a nomeação de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobrás, um gesto de pouca autonomia, e à manifestação de solidariedade ao PT – que somadas permitem a leitura de retorno à tutela do ex-presidente Lula.
Não foram concessões pequenas, mas revestidas de gravidade, pois como pano de fundo está a convocação de Lula para enfrentar a “rede de mentiras”, na qual inclui o Poder Judiciário, o que faz da presidente militante de uma causa fundamentalista prestes a desmoronar diante de sentenças judiciais previsíveis, como eram as do mensalão.
Se lembrada a máxima do Direito, pela qual quem pode o mais, pode o menos, a presidente nesse momento a confirma, pelo seu inverso: pode menos do que ensaiou ao se distanciar do padrinho político e, ao mesmo tempo, enfrentar o PMDB.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.