No próximo mês de maio, Lisboa será a sede de uma espécie de “Rock in Rio” da ultradireita. As margens plácidas do rio Tejo ouvirão o brado retumbante – e frequentemente xenófobo – da francesa Marine Le Pen, do espanhol Santiago Abascal, da italiana Giorgia Meloni e do português André Ventura, anfitrião da festa. Jair Bolsonaro foi convidado e deverá se juntar a eles. Em coletiva sobre o evento na semana passada, em Lisboa, Ventura destacou Bolsonaro como um dos principais nomes do “combate ao socialismo” na América Latina.
Em meados de março, Bolsonaro ainda tinha dúvidas sobre quando voltaria ao Brasil. Temia a ação da Justiça e o desgaste provocado pelo escândalo das joias, revelado pelo Estadão em furo de reportagem. Na ocasião, Jair recebeu um conselho do filho Eduardo: aproveitar o exílio para estreitar laços com seus pares internacionais, nomeadamente Ventura e Abascal – que, a exemplo de Donald Trump e do húngaro Viktor Orbán, haviam gravado vídeos apoiando Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Em conversa com Ventura na semana passada, Bolsonaro foi convidado para participar do evento de Lisboa.
Se confirmar presença, Bolsonaro reafirmará sua filiação ao grupo da ultradireita, que combate a direita moderada em vários países europeus. Na Espanha a guerra é sangrenta entre o Vox, partido de Abascal, e o tradicional Partido Popular (PP). Em Portugal, Ventura quer superar o Partido Social Democrata (PSD), reduto da direita moderada. Na Itália – país que Bolsonaro também pretende visitar nas próximas semanas – a sigla Fratelli d’Italia (FdI), herdeira do fascismo de Benito Mussolini, aniquilou a centro-direita e chegou ao poder.
Em sua vinda ao Brasil, Bolsonaro enfrentará uma batalha semelhante. A centro-direita brasileira conquistou governos no Rio Grande do Sul e em Pernambuco, e Tarcísio de Freitas, em São Paulo, vem-se afastando cuidadosamente do bolsonarismo com o intuito de se tornar uma opção moderada. Para liderar seu campo político, Bolsonaro terá que derrotar seus potenciais rivais para 2026. Assistiremos nos próximos três anos à versão brasileira da guerra fratricida das direitas que se desenrola já há algum tempo na Europa. Bolsonaro irá trabalhar para que no Brasil – a exemplo do que ocorreu na Itália e nos Estados Unidos – a porção radical da direita aniquile a ala moderada.
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