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O jogo da democracia no Brasil e no mundo

O que Brasil e Espanha têm em comum

A força da sociedade civil empurra para cima a nota dos dois países nos rankings de democracia

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Foto do author João Gabriel de Lima
Atualização:

Ir a Madrid é uma experiência saborosa, pelos bares de tapas que não fecham nunca, e insone, pelo barulho das ruas cheias em torno do hotel. Em ano eleitoral, as ruas se enchem também durante o dia, em manifestações que reúnem multidões. No domingo passado, mais de meio milhão de pessoas se aglomeraram em torno da Praça Cibeles. Elas protestavam contra cortes na área de saúde e fechamento de hospitais públicos.

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Se há algo que Brasil e Espanha têm em comum é a força de sua sociedade civil. “Na minha impressão individual, o engajamento de observadores nacionais e internacionais foi a grande marca do processo eleitoral brasileiro de 2022″, diz a cientista política Carla Luís, professora da Universidade de Coimbra. Ela foi uma das observadoras das eleições brasileiras pelo Carter Center, e é a entrevistada do minipodcast da semana.

Há muito tempo não havia tantos observadores internacionais numa eleição brasileira. Eles vieram no ano passado por causa do cenário conturbado. “Ao final, o Tribunal Superior Eleitoral fez um excelente trabalho, ao criar uma área de transparência na qual universidades, ONGs e partidos puderam acompanhar tudo e dar sugestões”, diz Carla Luís. “A rapidez com que os resultados foram divulgados também foi fundamental nesse contexto desafiador.”

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez; país costuma ter manifestações que reúnem multidões em anos eleitorais. Foto: Pierre-Philippe Marcou/AFP

Ela frisa que não existe uma receita universal para eleições. Cada país encontra a sua. A urna eletrônica e a supervisão do TSE, de acordo com Carla Luís, parecem adequadas ao contexto brasileiro. Num país com grandes distâncias, como o nosso, a apuração poderia demorar muito tempo se fosse manual. A coordenação do Judiciário, um Poder fora da luta eleitoral, é também útil para dar credibilidade ao processo.

A Espanha terá em maio eleições autonômicas – análogas às estaduais brasileiras – e, em dezembro, federais. Lá o voto é impresso. Os eleitores escolhem uma lista de candidatos de seu partido e a depositam na urna. Como as distâncias geográficas são pequenas e a apuração é eficiente, o resultado também sai de forma rápida.

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A diferença entre Espanha e Brasil é que lá não há contestação do resultado das eleições – como é padrão, aliás, nas democracias desenvolvidas. Ao final, no entanto, a teoria conspiratória contra as urnas brasileiras só prosperou em bolsões extremistas. “A transparência do TSE e o escrutínio dos observadores ajudaram na percepção de lisura nas eleições”, diz Carla Luís.

Era um cenário desafiador, e nos saímos bem. A força da sociedade civil e a vibração nas ruas empurram para cima a nota de Brasil e Espanha nos rankings de democracia.

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