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‘A primeira grande fake news no Brasil foi o mensalão’, diz José Dirceu

Em entrevista para telejornal, ex-ministro da Casa Civil diz que foi condenado por motivos políticos e que poderia ter sido o sucessor do Lula; condenação foi de 7 anos e 11 meses de prisão no processo do mensalão, que consistia no pagamento de mesadas a parlamentares para assegurar apoio à base governista entre 2003 e 2004

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Foto do author Tácio Lorran
Atualização:

BRASÍLIA - O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) afirmou, em entrevista à BandNews publicada na noite neste domingo, 7, que o mensalão foi a “primeira grande fake news do Brasil”.

“Eu disse – e alguns me criticaram por dizer – que, até por justiça, eu mereço voltar ao Congresso Nacional. Eu fui cassado por ter sido chefe do mensalão. O Roberto Jefferson foi cassado porque não provou o que era o mensalão. E o Supremo me absolveu de formação de quadrilha. Então basta ver quem é o Roberto Jefferson hoje e quem sou eu. A primeira grande fake news no Brasil foi o mensalão. Não o caixa-dois na campanha eleitoral, mas a história de que existiu o mensalão e que eu era o responsável”, afirmou.

Ex-ministro petista, José Dirceu diz que é uma 'questão de justiça' voltar à Câmara dos Deputados Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

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O esquema do mensalão, como ficou conhecido, consistia no pagamento de mesadas a parlamentares para assegurar apoio à base governista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2004. Dirceu foi condenado em 2012 a 7 anos e 11 meses de prisão no processo. Quatro anos depois, em 2016, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso concedeu indulto ao ex-ministro da Casa Civil no âmbito do mensalão, mas ele permaneceu preso em razão de penas oriundas da Lava Jato.

“Aquilo foi uma condenação política para me tirar da vida político-institucional do País por uma razão muito simples: porque eu, pela minha experiência, por toda a participação que tive, eu era importante tanto para o governo quanto podia entrar na linha sucessória do presidente Lula”, afirmou Dirceu.

Em maio deste ano, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) extinguiu a pena imposta ao petista por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Lava Jato. Neste processo, ele era acusado de receber propina no âmbito de um contrato que teria sido superfaturado entre a Petrobras e a Apolo Tubuars, entre 2009 e 2012. Dirceu havia sido condenado a 8 anos e 10 meses de prisão pela Justiça Federal no Paraná, em decisão assinada pelo então juiz Sérgio Moro, atualmente senador da República.

Com a decisão, Dirceu fica mais perto de recuperar os direitos políticos. As condenações criminais o impedem de disputar as eleições, por causa da Lei da Ficha Limpa. Uma eventual candidatura dependerá de análise da Justiça Eleitoral.

Conforme mostrou o Estadão, Dirceu pretende se candidatar a deputado federal por São Paulo em 2026, mas irá bater o martelo somente no segundo semestre do próximo ano. Até lá, ele vai apoiar os candidatos do PT nas eleições municipais e, em seguida, participar da renovação do partido. “Hoje estou voltando a advogar, voltando a organizar minha vida pessoal”, disse à BandNews.

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Durante a entrevista, o ex-ministro também disse que o País precisa de uma reforma política e avaliou que a relação do governo Lula com o Congresso é “excelente”.

“Eu não vejo erro de articulação. Formar maioria numa Câmara como essa levou que o PP e o PR [Republicanos] passasse a ser base do governo. Se eu falasse isso dois anos atrás, iam dizer que o Dirceu enlouqueceu. Mas é a realidade do País. É muito difícil fazer articulação política pois as pautas geram divergência, porque no Brasil mudou o ponto de vista dos partidos políticos”, disse o petista.

Ex-ministro de Lula diz que governo precisa ‘reformar as Forças Armadas’

Questionado sobre como avalia as Forças Armadas no cenário político brasileiro, Dirceu respondeu que “o Brasil precisa reformar as Forças Armadas”. O ex-ministro de Lula diz que “não é possível acontecer tudo o que aconteceu”, e faz referência a militares que foram coniventes com os acampamentos golpistas depois das eleições de 2022, que culminaram no ataque aos Três Poderes em 8 de Janeiro de 2023. “O que aconteceu foi muito grave. A política entrou nos quartéis, eles foram coniventes com aqueles acampamentos, foram coniventes com tudo o que o Bolsonaro fez para tentar dar um golpe no País.”

O ex-ministro ainda criticou o fato de a porta de entrada para o alto comando militar ser apenas as Agulhas Negras e reclamou da educação diferenciada das Forças Armadas. “Tem que ser educação plural, nacional, laica que existe nas escolas”. Ele também disse que é preciso reavaliar as promoções de militares, mas que não se deve remover o passado.

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“Foi um erro não ter tido julgamento, não ter tido apuração [da ditadura militar de 1964], como teve em todos os países da América Latina, menos no Brasil. Mas isso já passou. Agora tem a Comissão de Mortos e Desaparecidos. O que interessa é o seguinte: vamos discutir publicamente. Tem que fazer um debate com a sociedade para mudar, pois não podemos daqui a 10 anos nos defrontarmos de novo com o problema dos militares na política”, avaliou.

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