Juízes e promotores reagem à ‘retaliação’

Entidade de magistrados diz que houve ‘equívoco’ da Câmara em aprovar pacote anticorrupção desfigurado; Fausto de Sanctis elogia atos

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Por Redação

Promotores, procuradores e juízes foram ontem às ruas do País para protestar contra o projeto de lei aprovado na Câmara dos Deputados que tipifica o crime de lei de abuso de autoridade para magistrados e integrantes do Ministério Público. De acordo com o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso, as manifestações demonstraram que a população deseja o fim da corrupção e rechaça medidas legislativas que sejam uma forma de retaliação a juízes e investigadores.

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“O apoio demonstrado à magistratura e ao Ministério Público é a prova cabal do equívoco cometido pela Câmara do Deputados em aprovar medidas de retaliação aos encarregados de apurar e julgar os casos envolvendo corruptos. Emendas do tipo crimes de responsabilidade e crimes por ofensa às prerrogativas de advogados foram rechaçadas pelo povo brasileiro nos protestos”, disse Veloso.

“A sociedade exige que a corrupção seja abolida de nosso País, e para isso é necessário que sejam criados instrumentos modernos de enfrentamento e não que os magistrados e procuradores sejam intimidados com ameaça de prisão”, afirmou o presidente da Ajufe.

Responsável pela Operação Satiagraha, entre 2004 e 2008, o desembargador federal Fausto de Sanctis, destacou a importância da população para impedir que o projeto passe no Senado. “O povo é denunciador, vigilante e qualificador. É importante entender isso. Este projeto (aprovado pela Câmara) surgiu já na época da Satiagraha e agora aproveitaram para desengavetar”, disse ele, durante ato na Avenida Paulista.

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“Não vi em toda minha vida um cerceamento como este que foi feito pela Câmara na calada da noite. Nem durante a ditadura”, disse o presidente eleito da Associação Paulista do Ministério Público, José Oswaldo Molineiro. Segundo ele, o presidente Michel Temer tem a obrigação de vetar o projeto caso seja aprovado pelo Senado.

O promotor Marcio Sergio Christano, vice presidente da APMP, destacou o caráter inédito da manifestação. “É a primeira vez que a população de levanta para defender uma questão institucional do Ministério Público”, disse ele.

No Recife, membros do Ministério Público e do Judiciário estiveram presentes na mobilização. Um deles foi o procurador da República André Teixeira. “A gente tem um quarto do Congresso Nacional que ou é acusado em ações ou é réu em processos. Nas ruas nós não temos um quarto da população como réu em processo penal. Isso mostra que tem alguma coisa muito errada”, disse o procurador, que também fez críticas ao foro privilegiado, chegando a citar como exemplo o caso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Retaliação. Juízes do Ceará foram ao ato em Fortaleza. Titular da 2.ª Vara Cível do Ceará, Augusto César, foi manifestar seu apoio à Operação Lava Jato. “Investigar toda a magistratura é uma forma clara de retaliação à Lava Jato.”

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No Rio, policiais federais também marcaram presença. “O que vimos nessa semana é um acinte, um tapa na cara com apenas 15 minutos de discussão. Ainda tem muita gente para ser presa. Ainda vamos ver a Polícia Federal prender o presidente do Senado”, discursou o delegado da PF Jorge Barbosa Pontes, que ressaltou posteriormente a jornalistas não ter se manifestado em nome da corporação.

“O povo brasileiro é mais ator hoje da Lava Jato do que o próprio juiz Sérgio Moro”, afirmou Pontes.

O texto aprovado na Câmara ainda precisa ser analisado pelo Senado. Renan foi um dos maiores alvos dos protestos deste domingo. / BEATRIZ BULLA, DANIELA AMORIM, JULIANA GRANJEIA, RICARDO GALHARDO, MONICA BERNARDES E CARMEN POMPEU, ESPECIAIS PARA O ESTADO