CUIABÁ - Um dos líderes da etnia xavante em Mato Grosso, o cacique Domingos Mahoro, de 60 anos, é mais uma vítima da covid-19 entre indígenas. Ele teve a morte confirmada na segunda-feira, 6. Diabético e hipertenso, o cacique morreu na capital mato grossense após ser transferido do interior do Estado.
O avanço do novo coronavírus em aldeias indígenas de Mato Grosso vem preocupando lideranças, principalmente, pelas dificuldades de isolamento e falta de acesso a produtos como álcool em gel e máscaras de proteção. Mais de 180 indígenas do povo xavante já foram contaminados pela doença e 21 mortes foram registradas.
Presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Xavante (Condisi) de Mato Grosso, Clarêncio U’repariwe relata que, desde o início da pandemia, as nove aldeias xavantes no Estado têm sofrido com a precariedade quanto às medidas de higienização. Segundo ele, falta álcool em gel para muitas famílias e máscaras de proteção só chegaram às aldeias nas últimas semanas por meio de doações.
“Nossos territórios são muito distantes um do outro, o que dificulta a vinda de profissionais e viaturas de saúde e o transporte de índios para a cidade. Também não temos álcool em gel, sabonete líquido e máscaras em quantidade suficiente para todos. Ficamos sem saber o que fazer e nos sentindo esquecidos mesmo”, disse Clarêncio.
Dados do Distrito Sanitário de Saúde Indígena (DSEI) Xavante mostram que somente 8,5% das aldeias contam com uma Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI).
Domingos Mahoro, da aldeia Sangradouro, localizada próximo ao município de General Carneiro (MT), era uma importante liderança indígena para a etnia xavante. Ele teve o diagnóstico de covid-19 confirmado em 25 de junho, sendo encaminhado para uma unidade de saúde na cidade de Primavera do Leste.
Com a piora no quadro clínico, foi solicitada sua transferência para uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Estadual Santa Casa, em Cuiabá. A chegada do indígena a Capital só aconteceu na segunda-feira, 6) apesar de uma liminar junto à Defensoria Pública ter sido emitida três dias antes.
Em nota, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde, lamentou a morte do indígena, externando sentimento aos familiares e amigos de “uma liderança muito respeitada e admirada pela população Xavante”. A instituição destacou ainda que vem tomando medidas de proteção junto aos usuários e profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xavante, como a higienização de ambientes e readequação de espaços físicos para isolar indígenas suspeitos e confirmados com o coronavírus.
Comorbidades em indígenas
Um fator preocupante entre lideranças xavantes é a presença de doenças como diabetes, hipertensão e doenças respiratórias nas comunidades. As comorbidades podem potencializar o agravamento do coronavírus nas aldeias, que contam ainda com um grande número de indígenas nas casas.
Em Mato Grosso, vivem cerca de 22 mil xavantes espalhados por nove terras indígenas e mais de 300 aldeias. “A nossa orientação é para que ninguém fique saindo o tempo todo da aldeia, mas o isolamento total é muito difícil. Precisamos ir ao mercado, banco, farmácia. Há também índios que trabalham nas cidades próximas”, acrescentou Clarêncio U’repariwe, do Condisi.
Conforme o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES-MT), já são mais de 23,5 mil casos de contaminação pelo novo coronavírus registrados e quase 900 mortes confirmadas.
Com uma taxa de ocupação de 93%, o Estado contabiliza menos de 20 leitos disponíveis de UTI exclusivos para pacientes com covid-19. Ao todo, são 250.
O crescimento no número de casos da doença em Mato Grosso e a chegada da doença em aldeias xavantes do Estado levaram à criação da campanha “A’ Uwe Tsari – S.O.S. Xavante”. A ação tem como objetivo captar R$ 250 mil para a instalação de uma Unidade Avançada de Saúde próximo às aldeias, além de contribuir com atividades de prevenção do contágio e de segurança alimentar, evitando que indígenas saíam de suas comunidades.
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