PUBLICIDADE

Lira cobra intervenção de Lula para conter ofensiva de Renan

Presidente relatou a senadores que Arthur Lira aponta o senador alagoano Renan Calheiros, seu adversário político, como autor de denúncias contra ele

PUBLICIDADE

Foto do author Vera Rosa
Foto do author Daniel Haidar
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer a intervenção do Palácio do Planalto para conter o senador Renan Calheiros (MDB-AL), seu adversário político. Em conversa reservada, na noite desta segunda-feira, 5, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a líderes de partidos no Senado que Lira reclamou de Renan para ele.

Na avaliação do presidente da Câmara, Renan está por trás das denúncias que culminaram, na semana passada, com a operação de busca e apreensão da Polícia Federal contra Luciano Cavalcante, assessor da liderança do PP na Câmara. Cavalcante trabalhou com Lira e é investigado pela compra de kits escolares de robótica, com recursos do orçamento secreto.

Lula Padilha senadores 05-06-23 Foto: Ricardo Stuckert/PR

PUBLICIDADE

“Eu não sei o que Renan fez com você no passado, mas quem denunciou essa compra dos kits de robótica não foi ele. Foram os senadores Marcelo Castro e Randolfe Rodrigues”, disse Lula, de acordo com relatos dos participantes da reunião. Ao ouvirem a descrição feita pelo presidente, Castro e Randolfe não contiveram o riso.

Jorge Kajuru, líder do PSB no Senado, contou que o chefe do Executivo deu uma dica a Lira. “Se você não tem culpa, enfrente. Você sabe o que eu passei e enfrentei. Então, não fique calado”, aconselhou Lula, segundo Kajuru.

Horas mais tarde, Lira exonerou Cavalcante, que trabalhava no gabinete da liderança do PP na Câmara e tinha salário de R$ 14,7 mil. Apesar de ser contratado para dar expediente em Brasília, Cavalcante mora em Maceió e é presidente do União Brasil de Alagoas.

Durante a conversa com senadores, Lula quis saber se a sabatina do advogado Cristiano Zanin na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado iria demorar para ser marcada. Zanin é o indicado do presidente para ocupar a cadeira de Ricardo Lewandowski no Supremo Tribunal Federal (STF). Alguns senadores sugeriram que a sabatina de Zanin ocorra no próximo dia 14, mas a data ainda não está fechada.

Estratégia para constranger Moro

“Antes da sabatina, vamos chamar Tacla Duran e Tony Garcia”, avisou Renan. A intenção dos aliados do governo é convocar os dois delatores para prestar depoimento na CCJ ou na Comissão de Fiscalização e Controle e constranger o senador Sérgio Moro (União Brasil-PR), ex-juiz da Lava Jato que também fará perguntas a Zanin. O advogado defendeu Lula nas investigações da Lava Jato e teve vários embates com Moro.

Publicidade

O empresário Antônio Celso Garcia, conhecido como Tony Garcia, diz que, após ter fechado acordo de delação premiada, foi obrigado por Moro e por procuradores a gravar pessoas de forma ilegal. Réu da Lava Jato, o advogado Rodrigo Tacla Duran, por sua vez, afirma que foi extorquido por um amigo de Moro ao negociar acordo de colaboração em Curitiba. O senador classifica as duas acusações como “mentirosas”.

Lula enfrenta problemas na articulação política no Congresso, mas a base aliada do governo no Senado é bem mais sólida do que na Câmara. “Dizem que não existe almoço grátis e hoje não existe nem Jesus Cristo de graça, mas o apetite no Senado é menor”, afirmou Kajuru.

Ao longo da reunião, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, anotava todas as queixas e todos os pedidos. A certa altura, o senador Marcelo Castro argumentou que o governo precisava resolver de uma vez por todas três problemas de relacionamento: com o agronegócio, com os evangélicos e com os militares. “É necessário conversar com o agro, abertamente, e acabar com esse pessimismo”, insistiu Kajuru.

PUBLICIDADE

Quanto aos evangélicos, o presidente admitiu que tem tentado se aproximar do segmento. Disse que foi convidado para participar da Marcha para Jesus, em São Paulo, nesta quinta-feira, 8, mas não poderá ir.

Em carta endereçada ao apóstolo Estevam Hernandes, Lula agradeceu o convite e avisou que, como não comparecerá, será representado pela deputada Benedita da Silva (PT) e pelo ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias. Nos últimos anos, a Marcha para Jesus acabou se transformando em plataforma de apoio ao então presidente Jair Bolsonaro (PL), que participou de todas as edições do movimento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.