BRASÍLIA - A lista de opções do futuro ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, para o comando da Polícia Rodoviária Federal tem uma policial mulher e nomes ligados ao seu partido, o PSB. A definição deve ficar somente para a próxima semana, apesar da pressão para que o escolhido como novo diretor-geral comece a atuar o quanto antes junto à atual cúpula da corporação com vistas à preparação para a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Uma das cotadas é Maria Alice Nascimento Souza. Ex-superintendente do Paraná, ela ocupou o cargo de diretora-geral da PRF entre 2011 e 2017. Foi a primeira mulher a chegar ao posto, por escolha do então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Nos governos de Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro (PL), ela ocupou função de confiança na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Deixou o cargo de gerência somente no fim do ano passado. Essa ligação com o atual governo é resistência à escolha dela.
Também está literalmente sobre a mesa de Flávio Dino o nome do secretário de Controle e Transparência do governo do Espírito Santo, Edmar Camata. Um livro do Conselho Nacional de Controle Interno, do qual Camata é vice-presidente, permanece sobre a mesa de onde o futuro ministro despacha na sede do governo de transição, em Brasília, desde que Camata foi recebido para tratar de desafios da PRF, no início da semana.
Policial desde 2006 e mestre em Políticas Anticorrupção, Edmar Camata está licenciado da corporação desde 2018, quando filiou-se ao PSB para disputar uma vaga na Câmara federal pelo Espírito Santo. No ano seguinte, passou a integrar o primeiro escalão do governador Renato Casagrande (PSB-ES), e permanece como titular da pasta de Transparência. Nos bastidores, Casagrande, secretário-geral do partido de Flávio Dino, tem apoiado a indicação do aliado.
Outro nome ventilado é o de Diego Patriota, neto do deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE). O policial, desde julho, é o superintendente do Pará. Antes, desde maio de 2021, era o chefe da PRF no Amazonas.
Um dos objetivos de Flávio Dino à frente do ministério é retomar o protagonismo da PRF no patrulhamento da região amazônica para combater as diversas modalidades de tráfico típicas da área. “A PRF vai ser chamada a participar, atuar na Amazônia muito fortemente. Nós temos muitas BRs na Amazônia”, disse, em entrevista ao Estadão.
Contra Patriota, pesa o fato de ele fazer parte da atual gestão da PRF e ter ascendido à superintendência quando Silvinei Vasques, apoiador de Jair Bolsonaro, se tornou o diretor-geral da instituição, em abril do ano passado.
Vasques apoiou publicamente a reeleição de Bolsonaro e foi criticado por não ter atuado firmemente contra bloqueios de estradas protagonizados por bolsonaristas. As abordagens a eleitores no dia do primeiro tuno das eleições rendeu investigação contra o diretor, também alvo de outras apurações.
Outros nomes são analisados pelo entorno de Lula. Entre eles também está o do policial Fabrício Rosa, fundador do grupo Policiais Antifascistas e militante do movimento LGBTQIA+. Ele já presidiu a Comissão Nacional de Ética da PRF.
Rosa foi candidato a deputado estadual pelo PT em Goiás no pleito deste ano e ficou na suplência. Elogiado pelos pares pela capacidade técnica, deixou de ser visto como um nome forte para o comando da PRF pela intensidade de sua militância contra Bolsonaro e contra pautas da direita.
Neste momento, existe um consenso na polícia de que o futuro diretor-geral deve ser alguém com grande capacidade de diálogo dentro de todos os grupos da instituição.
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