BRASÍLIA - A transmissão semanal ao vivo nas redes sociais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, denominada de “Conversa com o Presidente”, teve média de menos de 75 mil espectadores por live neste primeiro ano de mandato. Apesar de as transmissões terem menor audiência se comparadas às realizadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, avalia que o objetivo principal do programa é alcançado.
A primeira transmissão ao vivo do governo Lula se deu no dia 13 de junho e serviu para fazer um apanhado dos primeiros meses de trabalho da gestão. Até o dia 19 de dezembro, foram feitas 22 edições do programa.
Levantamento feito pelo BroadcastEstadão contabilizando as transmissões divulgadas pelo canal Lula no Youtube mostrou que a primeira live foi a de maior audiência, atingindo 191.342. Já a de menor número de telespectadores ocorreu em 12 de dezembro, com 39.067 visualizações. A média de audiência pelo canal Lula no Youtube das 22 lives é de 75.171.
As lives no governo do petista são esquematizadas como um tipo de entrevista em que o jornalista Marcos Uchôa faz perguntas a Lula. Com o tempo, contudo, o presidente passou a convidar ministros para anunciar ou detalhar programas das respectivas áreas do governo. A última convidada para participar da transmissão, por exemplo, foi a primeira-dama, Rosângela da Silva, conhecida como Janja. Até o momento, esse vídeo teve 44 mil visualizações.
O investimento maior por parte dos chefes do Executivo em transmissões ao vivo nas redes sociais começou com Bolsonaro, que assumiu a presidência em 2019. Conforme levantamento feito pelo Estadão, em seu primeiro ano de mandato, o ex-presidente fez 50 lives. A audiência máxima chegou a 919 mil visualizações e a mínima de 333 mil visualizações no canal Jair Bolsonaro no Youtube.
A maioria das lives de Lula, assim como eram as de Bolsonaro, é realizada no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência. As exceções são em algumas viagens.
As comparações com as lives de Bolsonaro são recorrentes. Pimenta avaliou que não é possível fazer tal relação. Segundo ele, a “entrega” é outra pois houve uma mudança dos algoritmos. Agora, a produção de conteúdo - feita a partir de cortes dos vídeos - é o que mais dá resultado.
“Não tem como comparar duas coisas absolutamente distintas, não tem a mesma entrega na plataforma”, disse o ministro. “Nossa ferramenta mais importante é pelos cortes”, comentou, dizendo que a entrega que o governo consegue com as lives é “orgânica”.
Pimenta afirmou que, apesar da baixa audiência, o “Conversa com o Presidente” cumpre seus objetivos. A principal meta estabelecida pelo governo é a geração de cortes, que alimentarão os outros canais do governo nas redes sociais.
O ministro reconhece que o Youtube não é a plataforma que mais entrega em audiência, mas destaca o alcance que os cortes dos vídeos chegam no Instagram. Além disso, eles também são utilizados no Twitter, TikTok e Kwai.
Outro objetivo do governo com a transmissão - e que segundo Pimenta, também é alcançado - é o de pautar a imprensa. Uma das principais diferenças das lives feitas por Lula e as que eram realizadas com Bolsonaro é que as de Lula ocorrem no período da manhã; já as de Bolsonaro eram à noite.
O ministro da Secom pontua, contudo, que ter a transmissão por volta das 8h30 faz com que a live ecoe no noticiário durante todo o dia. Além disso, Lula tem preferência por falar de manhã por estar mais descansado.
Em meio às especulações, Pimenta disse que não foi cogitado, até o momento, acabar com a live. Segundo o ministro, Lula gosta do espaço que é dado pela transmissão, assim como a troca de ideia com outros chefes de pastas.
TCU mandou alerta sobre promoção pessoal do presidente
No início de dezembro, o Tribunal de Contas da União (TCU) viu indícios de promoção pessoal no programa “Conversa com o Presidente”. A Corte de contas enviou ao Planalto recomendações, alertando que a estrutura oficial não pode ser usada para promover a imagem do presidente, de ministros e de demais ocupantes de cargos públicos.
“O escorço legal e jurisprudencial detalhado na instrução assevera que a realização de publicidade governamental resultando na projeção da imagem do administrador e não da administração pública é irregularidade que se consubstancia pela ofensa ao princípio da impessoalidade; no presente caso, havendo situações tanto de caráter informativo quanto de promoção pessoal no Programa ‘Conversa com o Presidente”, destaca a decisão.
No programa de terça-feira, 19, o presidente reclamou que suas vitórias eleitorais são atribuídas à “sorte” e afirmou que, se isso fosse verdade, ele deveria ser reeleito indefinidamente. “Se é verdade que eu tenho sorte, o povo deveria me eleger para sempre. Esse País está precisando de tanta sorte que a gente não deveria sair mais”, disse em uma transmissão ao vivo nas redes sociais.
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