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Bastidores da política que movimentam a economia

Opinião|Lira antecipa escolha de sucessor para ter mais tempo de pressionar governo

O plano é entregar a votação dos projetos que regulamentam a reforma tributária e, em seguida, revelar quem será o “candidato do Lira”

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Foto do author Lorenna Rodrigues

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidiu antecipar o anúncio de quem será ungido por ele como seu candidato a sucessor ao cargo. Lira vinha dizendo que deixaria a escolha para depois das eleições municipais de outubro. Queria estender ao máximo seu reinado e tinha inclusive proibido aliados de falarem abertamente do assunto.

Mudou de ideia. Agora, marcou para agosto o anúncio, na volta do recesso parlamentar. O plano é entregar a votação dos projetos que regulamentam a reforma tributária e, em seguida, revelar quem será o “candidato do Lira”.

O presidente da Câmara decidiu antecipar anúncio de seu candidato a sucessão no cargo. Foto: ZECA RIBEIRO/AGENCIA CAMARA Foto: DIV

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O adiantamento tem um motivo: ter mais tempo para pressionar o governo. Como o mandato do atual presidente vai até janeiro de 2025, ele terá seis meses para evitar que a administração de Luiz Inácio Lula da Silva pise fora da linha.

Pode ser uma forma de forçar que o “candidato do Lira” também seja o “candidato do Lula”. Se o governo ousar ir em outra direção, Lira terá muito tempo na cadeira para pautar projetos perigosíssimos para Lula. E isso ele sabe fazer muito bem.

Haja vista o que aconteceu nesta semana com as famigeradas blusinhas. Lira queria a taxação das compras internacionais abaixo de US$ 50. Conseguiu na Câmara, sua seara, mas, quando chegou no Senado, o assunto entrou no meio de um entrevero alagoense - o relator, senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL), que retirou a cobrança de seu relatório, negocia ser candidato a prefeito de Maceió em uma disputa que envolve aliados e inimigos do presidente da Câmara.

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A reação de Lira foi imediata. Para mostrar seu poder de fogo, o presidente da Câmara desengavetou um projeto que impede a homologação judicial de delações premiadas de quem estiver preso, o que poderia afetar denúncias do tenente-coronel Mauro Cid contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. E ainda deve pautar nesta semana a urgência de outro que equipara casos de aborto a homicídio, uma pauta cara à esquerda.

Esse é o modus operandi de Lira. No atual governo, ele tem colocado em votação o que quer, quando quer, eliminado comissões e institucionalizado votações surpresas de madrugada. Com seu candidato na rua em agosto, serão seis meses de “tratorLira” em ação.

Corrida

Apesar de longínquos oito meses e uma eleição para prefeito pela frente, a corrida pela sucessão à Câmara está a todo vapor. Segundo a Coluna apurou, Lira já foi procurado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e outros emissários do partido para conversar sobre nomes. Ouviu do alagoano que esse assunto ele trata é com Lula. Gleisi teria reclamado de que partido é uma coisa, governo é outra, mas o argumento não foi o suficiente para convencer Lira e o papo parou por aí.

Já ficou acertado e foi amplamente divulgado que Lula terá poder de vetar algum candidato que o presidente da Câmara escolher. O PT pode até querer indicar alguém, mas a tendência é que o governo se mantenha neutro.

O que Lira gostaria mesmo é que Lula apoiasse seu candidato. Ele quer formar uma grande frente em torno do seu preferido.

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O grande objetivo de Lira é fazer seu sucessor para manter influência sobre a “máquina” da Câmara e não cair no ostracismo depois que “voltar à planície”. É com isso que ele conta para, em 2026, concorrer ao Senado, quando terá a missão de enfrentar o maior rival em Alagoas, o senador Renan Calheiros (MDB-AL). De tratorada em tratorada, nos bastidores, Lira repete que não entra em disputas para perder.

Opinião por Lorenna Rodrigues

Editora do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, em Brasília, e colunista do Broadcast e Estadão. Jornalista desde 2006, especialista em Orçamento e Gestão Pública e em Desenvolvimento Econômico. Responsável por coberturas como das emendas Pix e de investigações de fraudes no cartão de vacina do ex-presidente Jair Bolsonaro.

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