PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Bastidores da política que movimentam a economia

Opinião|Lula colocará seu discurso na ONU em prática no Brasil?

Enquanto tenta adiar regras antidesmatamento, País enfrenta queimadas e enchentes que são “propaganda” por uma maior proteção às florestas

PUBLICIDADE

Foto do author Lorenna Rodrigues

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou nesta quinta-feira em Brasília depois de cinco dias em Nova York, onde, entre outros compromissos, discursou na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Enquanto no Brasil florestas pegavam fogo, Lula dedicou boa parte de sua fala à questão climática e disse que o “planeta já não espera para cobrar da próxima geração e está farto de acordos climáticos não cumpridos”.

Também em NY, Lula encontrou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e governantes de países como Alemanha e França e, com eles, tratou das negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Saiu animado. “Eu nunca estive tão otimista com o acordo com a União Europeia. Eu disse à Ursula von der Leyen que o Brasil está pronto para assinar, que agora a responsabilidade é toda da União Europeia e não do Brasil”, disse o presidente brasileiro.

O presidente Lula na Assembleia Geral da ONU com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco o fundo Foto: Ricardo Stuckert / Presidencia da Republica

PUBLICIDADE

Não é bem assim. O último motivo a “azedar” as negociações do entendimento - foram muitos ao longo de 25 anos das conversas - foi a entrada em vigor, a partir de janeiro de 2025, da nova lei antidesmatamento do bloco europeu, que proíbe a importação de produtos com origem em terras desmatadas. Como mostrou o Estadão/Broadcast, há duas semanas, o governo Lula enviou uma carta em que faz um apelo formal para que a União Europeia suspenda a nova regra, que “representa motivo de séria preocupação para diversos setores exportadores brasileiros e para o governo”.

Para o governo brasileiro - e o setor agrícola - a legislação europeia estabelece tratamento discriminatório entre países “ao afetar somente países com recursos florestais”, e ressalta o aumento de custos no processo produtivo e exportador, sobretudo no caso de pequenos produtores.

Por parte de representantes da União Europeia, a visão é que há também otimismo em relação à conclusão do acordo, mas, que o não cumprimento da lei antidesmatamento não será admitido. “Os consumidores europeus simplesmente não querem mais ser responsáveis pelo desmatamento”, afirmou uma fonte da diplomacia europeia. A ideia, segundo a Coluna apurou, é tratar o assunto com “pragmatismo, flexibilidade e com um período de transição”.

Publicidade

A questão é que, enquanto tenta adiar regras antidesmatamento, o Brasil enfrenta queimadas e enchentes que são “propaganda” por uma maior proteção às florestas. E proteção é o que casa com o discurso de Lula e a imagem que ele vem passando mundialmente. Ou seja, soará como uma contradição pregar por mais preservação enquanto contesta uma lei que - protecionismo à parte - se propõe a manter florestas de pé.

“Sempre há contradições neste assunto e a União Europeia também tem as suas. Esse é um governo que tenta empurrar para a frente uma agenda climática, o que torna o Brasil um líder mundial nesse assunto e é algo que apoiamos”, completa a fonte diplomática europeia.

Com os europeus irredutíveis neste ponto, como avançar no acordo? Como proteger os interesses dos exportadores brasileiros e conseguir firmar o País como um líder na defesa ambiental?

Na ONU, Lula disse que já fez muito, mas sabe que é preciso fazer mais pelo meio ambiente. “Além de enfrentar o desafio da crise climática, lutamos contra quem lucra com a degradação ambiental”. A questão agora será colocar o discurso em prática na volta ao Brasil.

Opinião por Lorenna Rodrigues

Editora do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, em Brasília, e colunista do Broadcast e Estadão. Jornalista desde 2006, especialista em Orçamento e Gestão Pública e em Desenvolvimento Econômico. Responsável por coberturas como das emendas Pix e de investigações de fraudes no cartão de vacina do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.