Lula adia compra de novo avião presidencial, cotado em até R$ 2 bi, por causa do corte de gastos

Plano não saiu do papel e uma das ideias em estudo é reformar uma aeronave A330-200, mas custo também é alto; FAB analisa opções

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Foto do author Vera Rosa

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o orçamento para compra de um novo avião, mas, diante do corte de gastos para cumprir o arcabouço fiscal, o plano não tem prazo para sair do papel. Pelos cálculos apresentados a Lula, uma aeronave com as configurações solicitadas, e mais autonomia de voo, custa de US$ 250 milhões (R$ 1.449 bilhão) a US$ 350 milhões (R$ 2.029 bilhões)

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As opções levadas ao presidente pelo Ministério da Defesa são de modelos da Airbus. Se fosse encomendado agora, porém, um avião somente ficaria pronto em meados de 2027, após o fim do mandato de Lula.

Uma hipótese em estudo consiste na reforma de uma aeronave já existente, um Airbus A330-200, mas o presidente ainda não decidiu o que fazer, uma vez que a adaptação também tem alto custo. Interlocutores de Lula disseram ao Estadão, sob reserva, que o momento de ajuste das contas públicas impede agora uma despesa dessa magnitude.

Aeronave VC-1 Airbus A319CJ, conhecido como “Aerolula” Foto: Enilton Kirchhof/Força Aérea Brasileira (FAB)

Além de o cobertor ser curto, a avaliação no governo é de que o presidente receberia muitas críticas por insistir nesse assunto quando o pacote a ser anunciado pode mudar até mesmo os critérios de reajuste do salário mínimo. Detalhe: o Congresso precisa aprovar não apenas a tesourada nos gastos como a compra do novo avião.

Desde que o avião presidencial – um Airbus A319 CJ, conhecido como “Aerolula” – sofreu uma pane na volta de uma viagem ao México, em 1.º de outubro, quando uma das turbinas apresentou falha técnica, Lula tem dito que a troca da aeronave é essencial para evitar mais riscos. Afirma, ainda, não estar falando de gasto, mas, sim, de investimento. Na prática, ele não desistiu do projeto, mas apenas o adiou.

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Oposição batiza avião de ‘Aerojanja’

Mesmo sem o plano ter decolado, a oposição já batizou o novo avião com o apelido de “Aerojanja”. A provocação se intensificou depois que a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, abordou o tema e disse que um presidente da República, qualquer que seja ele, precisa ter segurança.

No mês passado, Lula também havia usado o mesmo tom. “A ignorância não pode prevalecer. Um avião é para a instituição Presidência da República, quem quer que seja eleito presidente”, argumentou ele, em entrevista à Rádio O Povo/CBN. “Nós precisamos nos preparar. Não dá para a gente ser pego de surpresa”, completou, ao destacar que o governo compraria não apenas um, mas “alguns aviões” porque os ministros necessitam viajar cada vez mais para “fazer entregas”.

No último dia 14, porém, o presidente teve de recorrer novamente ao “Aerolula”, o avião que foi obrigado a sobrevoar o espaço aéreo por cinco horas para gastar combustível antes de retornar à capital mexicana. A viagem agora ocorreu de Brasília para o Rio, onde Lula participou da Cúpula de Líderes do G-20, grupo que reúne as vinte maiores economias do mundo.

Questionada pelo Estadão, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou que a aeronave VC-1 – como é identificado o Airbus A319 CJ – permanece no Brasil, “à disposição para cumprir missões que atendem à Presidência da República”. De acordo com a FAB, uma equipe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) esteve no México para extração e análise dos dados do voo em que se encontravam Lula, Janja e comitiva.

A apuração da pane continua e, segundo a Aeronáutica, será concluída “no menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade de cada ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores contribuintes”.

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O comandante da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno, defendeu a compra de uma nova aeronave. “Pessoalmente, eu defendo. Esse avião completa 20 anos em 5 de janeiro. O avião é seguro, mas, além disso, tem autonomia que nos atende em parte. Acho que um País como o nosso, uma potência mundial, entre as dez maiores economias do mundo, deve ter um avião maior, que tenha mais autonomia e mais espaço para levar o mandatário do País”, disse Damasceno.

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O avião usado por Lula foi comprado, ainda no seu primeiro mandato, por US$ 56,7 milhões (US$ 91,7 milhões em valores atualizados, ou R$ 531,8 milhões) e começou a operar em 2005. A cabine presidencial tem um escritório, uma suíte, uma sala de reuniões e uma área para a segurança.

A autonomia de voo é de 11 mil quilômetros e, por isso, a aeronave precisa fazer várias escalas para reabastecer quando as viagens são mais longas, como para países da Europa e da Ásia. O Palácio do Planalto quer que o novo avião tenha maior alcance, além de internet de alta velocidade e uma sala mais espaçosa para reuniões reservadas.

A FAB destacou que está realizando “estudos técnicos preliminares” com o objetivo de “verificar sugestões e identificar potenciais soluções para atender às demandas apresentadas pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI)” a respeito de uma aeronave com características operacionais adequadas às necessidades de transporte do presidente e sua comitiva.

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