Lula admite que vai trocar ministros; veja bastidores de reunião no Palácio da Alvorada

Presidente teve encontro com integrantes de sua equipe e cobrou divulgação das ações de governo

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BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu em almoço com seus ministros nesta sexta-feira, 20, que pretende fazer mudanças no primeiro escalão do governo. O petista, no entanto, evitou falar em nomes e cargos. Ele tem sido pressionado por aliados do Congresso a fazer mudanças a partir da eleição para presidentes da Câmara e do Senado em 2025.

A indicação do petista, segundo apurou o Estadão/Broadcast, foi relacionada à formação de sua aliança para disputar a eleição de 2026. O sentido seria que alguns políticos que hoje estão próximos a seu governo podem não querer apoiar seu grupo político no próximo pleito por terem bases eleitorais que o rejeitam.

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva posa para foto com ministros do seu governo no Palácio da Alvorada Foto: Wilton Junior/Estadão

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No encontro, Lula indicou que vai mesmo desacelerar sua rotina depois dos dois procedimentos cirúrgicos aos quais foi submetido para tratar uma hemorragia intracraniana. Lula disse que, por amor a si mesmo, à primeira-dama Janja Lula da Silva, e ao Brasil, vai obedecer às ordens médicas, que restringem sua atribulada agenda pelos próximos 45 dias. Ele pode fazer reuniões, mas compromissos mais cansativos como viagens provavelmente serão evitados.

Lula tinha em seus planos promover uma reunião ministerial, como costuma fazer nos finais de ano. São compromissos longos e extenuantes em que o presidente discursa mais de uma vez e ouve a todos, ou a quase todos, os auxiliares. Normalmente, essas reuniões duram um expediente inteiro. O presidente, porém, ainda está se recuperando dos procedimentos que o forçaram a ficar dez dias em São Paulo. A reunião foi trocada por um encontro com cara de confraternização de fim de ano. O evento estava marcado para 13h e durou aproximadamente duas horas.

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No almoço desta sexta-feira, 20, só duas pessoas fizeram pronunciamentos. Primeiro, Janja deu as boas vindas aos presentes. Depois, foi a vez de Lula falar. Além de indicar que cumprirá as ordens médicas, o petista mencionou os resultados do governo neste ano. Fez agradecimentos a Deus e aos auxiliares.

Ele também mencionou sua infância pobre e momentos de um passado mais recente em que esteve em risco. Falou do câncer na garganta que tratou depois do fim de seu primeiro governo e do problema no avião presidencial que o obrigou a ficar sobrevoando por horas o México gastando combustível para poder pousar em segurança, no começo de outubro deste ano. Segundo relato de participantes da reunião, o petista usava um chapéu que escondia a região da cabeça onde foram feitas as operações.

O encontro desta sexta teve menos recados políticos do que o Lula costuma dar quando reúne seus ministros. Ele pediu para os auxiliares continuarem mobilizados e divulgarem as ações do governo. No início de dezembro o presidente deixou claro, em discurso público, que não estava satisfeito com a comunicação governamental. O publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro de Lula em 2022 e cotado para assumir o ministério que cuida da comunicação do Executivo, estava presente, o que chamou a atenção dos demais convidados.

Lula também comemorou a aprovação dos projetos do pacote fiscal do governo pelo Congresso. O Legislativo teve uma semana especialmente corrida para votar as propostas. Há uma cobrança do mercado financeiro por cortes de despesas do governo. Esse é um dos fatores que fez o dólar subir nas últimas semanas. O presidente citou, especialmente, o esforço de ministros para promover as votações enquanto estava internado. Por fim, desejou feliz Natal e Ano Novo a todos, e citou a volta ao trabalho no começo de janeiro.

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Um dos destaques do evento foi a participação do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. O cenário se assemelha à confraternização que Lula deu ano passado, em que o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, marcou presença. Galíplo participou do almoço e conversou com diversos participantes, segundo relatos.

Depois do almoço, Lula divulgou um vídeo em que aparece ao lado dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil) e Simone Tebet (Planejamento) e do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Disse que o governo poderá promover novas medidas de ajuste fiscal, se necessário. E prometeu que não tentará interferir na gestão do futuro chefe da autoridade monetária.

Lula serviu aos convidados peru assado, bacalhau, carne bovina, farofa com banana e uva passa, arroz e salada, além de bebidas como refrigerante e vinho. Os convidados estavam divididos em mesas com cerca de oito pessoas cada uma. Almoçaram ao lado do presidente Janja; o vice, Geraldo Alckmin; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; o ministro da Casa Civil, Rui Costa; o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski; a ministra da Saúde, Nísia Trindade; e a ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Os presentes circularam pouco depois de sentarem às mesas. Mais cedo, Lula os havia recebido na porta do Palácio da Alvorada e cumprimentado um por um. Eles foram submetidos a testes de covid-19 antes do evento para evitar contaminar o presidente menos de uma semana depois de ele ter alta hospitalar.

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Os ministros chegavam à residência oficial do petista em seus carros oficiais. Depois de desembarcarem, os motoristas estacionavam os automóveis na área externa, depois do portão de entrada do Palácio. Quando o almoço acabou, com duração de cerca de 2 horas, os veículos pretos formaram um pequeno e rápido congestionamento para entrar e buscar as autoridades.

Todos os 38 ministros do governo participaram. Também os representantes de Lula no Senado, Jaques Wagner (PT-BA); na Câmara, José Guimarães (PT-CE); e no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP). Além deles, estava presente o chefe da assessoria especial da Presidência da República, Celso Amorim, ex-ministro e um dos conselheiros mais próximos do presidente.

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