Lula age para minar candidatura de Ciro ao Planalto

Até no Ceará, onde os dois partidos mantêm aliança desde 2006, confronto aumentou; ex-ministro diz que não vai se submeter a “lado corrupto” do PT

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Por Lauriberto Pompeu

BRASÍLIA — O comando da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto aumentou a pressão para que o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) desista da disputa. Nos últimos dias, o próprio Lula entrou nas articulações, com o objetivo de atrair o PDT para a aliança em torno de sua candidatura. Pesquisas de intenção de voto indicam que, se Ciro sair do páreo, a maioria de seus eleitores deve migrar para Lula.

A cúpula do PT tem oferecido apoio a mais candidatos do PDT nos Estados, dispondo-se até mesmo a desfazer acertos firmados anteriormente. Na lista das ofertas estão o Rio de Janeiro – onde a Executiva petista já aprovou a aliança com o deputado Marcelo Freixo (PSB) ao governo –, o Ceará e o Maranhão.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, afirmou, por sua vez, que o partido não desistirá de Ciro. Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Oficialmente, o PT não admite que possa rifar Freixo. O argumento é o de que Lula – hoje em primeiro lugar nas pesquisas, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) – terá dois palanques no Rio, assim como no Maranhão, por exemplo. Mas, nos bastidores, o PT pode apoiar o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) ao governo fluminense, caso uma eventual desistência de Ciro entre no acordo.

No Ceará, o PT também deflagrou uma estratégia para encurralar Ciro, que construiu ali sua trajetória política. Desde que o petista Camilo Santana renunciou ao governo para concorrer ao Senado, o PT e o PDT – parceiros no Estado desde 2006 – têm trocado farpas. Agora, o partido de Lula pretende apoiar a campanha à reeleição da governadora Izolda Cela contra o grupo de Ciro, que defende o nome do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Claudio. Ex-petista, Izolda também integra as fileiras do PDT, mas sofre resistências.

No Maranhão, embora o PT apoie o governador Carlos Brandão (PSB), há negociações em curso com o senador Weverton Rocha (MA), o pré-candidato do PDT que chama Lula de “meu amigo”.

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Em cerimônia que serviu como despedida de Camilo do governo do Ceará, no mês passado, Ciro ouviu gritos pró-Lula ao discursar, no município de Barbalha (CE). Irônico, ele sorriu, fazendo gestos com a mão que simbolizavam “roubo”.

Um mês depois, no último dia 2, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu disse, numa reunião virtual com petistas, que o PDT deve abandonar Ciro para aderir à campanha de Lula, ainda neste primeiro turno. Era o que faltava para o caldo entornar ainda mais.

O candidato do PDT reagiu e publicou nas redes sociais que Dirceu – com quem trabalhou no governo Lula, quando foi ministro da Integração Nacional – havia planejado e executado “o mensalão e o petrolão”.

“É bom que todo mundo saiba que esse acordo (entre o PDT e o PT) vai acontecer se o interesse do Ceará estiver acima. Se for com negócio de conchavo, de picaretagem, eu topo enfrentar o PT também”, disse Ciro, em entrevista à emissora local da Band. “Eu não vou me submeter a um lado corrupto do PT, que também existe no Ceará.”

Logo após o novo confronto, os três deputados federais do PT do Ceará ­– José Guimarães, Luizianne Lins e José Airton Cirilo – participaram de uma videoconferência com Lula e mostraram preocupação com os rumos da disputa no Estado. Eles também são citados como possíveis candidatos ao governo do Ceará, caso a aliança com o PDT naufrague. “Se impuserem Roberto Claudio, certamente teremos candidato para construir um palanque real para o Lula no Ceará”, afirmou José Airton.

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Integrante da equipe de Lula, José Guimarães, por sua vez, trabalha para que o PDT se junte ao petista o mais rápido possível. “O País vai se unir. Vai sobrar quem no campo da esquerda? Não sobra nada”, afirmou Guimarães, recentemente, sugerindo que Ciro não tem viabilidade eleitoral.

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Na avaliação do deputado, a bancada do PDT deve encolher por causa da concentração de recursos na campanha presidencial. “O PDT vai se conformar em fazer 15 deputados federais? Não é uma questão simples para preservar o brizolismo que eles representam. Então, o PDT está em uma encruzilhada histórica. Estou falando da coisa como ela é”, disse ele em um debate da Revista Fórum.

Na prática, após a “janela partidária” – período no qual parlamentares puderam trocar de legenda sem perder o mandato –, o PDT desidratou: passou de 28 para 19 deputados na Câmara. O senador Jaques Wagner (PT-BA) adotou tom mais comedido sobre o apoio do PDT, mas também tem a expectativa de conquistar o aval do partido, ainda que informal. “Formal não creio, mas das bases, a depender do Estado, pode acontecer, sim”, argumentou Wagner, que está na coordenação da campanha de Lula.

A dificuldade em formar bancada na Câmara também é apontada por correligionários de Ciro. “Enquanto a gente vê vários partidos trabalhando para fortalecer chapa por causa do Fundo e das emendas (parlamentares), o PDT está concentrado na eleição presidencial”, afirmou o deputado Gustavo Fruet (PDT-PR), numa referência ao Fundo Eleitoral, que financia campanhas.

Fruet apoia a candidatura de Ciro, mas observou que existem colegas de partido dispostos a abrir o palanque para Lula. “É evidente que, em alguns Estados – e vejo isso muito no Nordeste –, o Lula tem apelo, mas todos nós estamos na defesa do Ciro. Pelo menos abertamente, eu não vejo esse movimento”, comentou ele, ao ser questionado se o PDT vai insistir para que Ciro recue.

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O deputado admitiu, porém, haver insistência do PT para que Ciro retire a candidatura. “O que eu vejo é pressão do PT, e compreendo. Acho que Ciro está impedindo que Lula cresça e está sendo um contestador do Lula muito forte”, argumentou.

Fruet contou que o PT chegou a oferecer a ele a vaga de candidato ao Senado na chapa de Roberto Requião, pré-candidato do partido ao governo do Paraná. O deputado recusou e vai concorrer à reeleição na Câmara.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, afirmou, por sua vez, que o partido não desistirá de Ciro. “Não me canso de repetir que a candidatura do Ciro já foi homologada pelo diretório. Só falta a convenção legal”, destacou.