BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quarta-feira, 19, ter gratidão à África “por tudo o que foi produzido pelos 350 anos de escravidão” no Brasil. Ao lado do presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, no País africano, o petista se comprometeu a recuperar a relação com o continente.
”Quero recuperar a relação com continente africano porque nós brasileiros somos formados pelo povo africano, a nossa cultura, nossa cor, nosso tamanho é resultado da miscigenação entre índios, negros e europeus”, disse Lula, ao lado de Maria Neves em Praia, capital de Cabo Verde.
“Nós temos uma profunda gratidão ao continente africano por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso País.”
O presidente costuma dizer que o Brasil tem uma dívida histórica com países africanos por causa da escravidão. Lula disse que a “forma de pagamento” possível é investimento em tecnologia, formação e ajuda na industrialização e no setor agrícola da África.
Na fala, o brasileiro também falou sobre a pretensão de abrir embaixadas do Brasil em países africanos que ainda não têm. “O Brasil tem potencial de ajudar o continente africano em muitas atividades”, acrescentou.
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Lula mencionou que o País ficou afastado do mundo nos últimos anos. De acordo com ele, a democracia no Brasil voltou e as pessoas que tentaram “dar o golpe no 8 de janeiro” serão punidas.
Ao lado do petista, Maria Neves elogiou a liderança do brasileiro. “Lula tem trazido essa grandeza ao Brasil e tem se colocado no mundo a altura dos desafios que o mundo enfrenta”, afirmou. Na avaliação dele, o mundo precisa de “lideranças visionárias, transformadoras e catalisadoras”. ”O Brasil regressa ao mundo pelas mãos de Lula e esta a trazer a grandeza do Brasil”, disse, falando sobre a expectativa de fazer uma visita ao País.
Críticas à declaração
Após a declaração de Lula, parlamentares da oposição criticaram, nas redes sociais, a fala do presidente sobre o período da escravidão. O senador Sérgio Moro (União Brasil-PR), em uma publicação em inglês, questionou: “Essa afirmação poderia ser mais infeliz?”.
O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) compartilhou o vídeo do discurso em Cabo Verde e questionou como seria a divulgação da frase se ela tivesse sido dita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Imagina se fosse o Bolsonaro dizendo isso”, disse.
O também deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou que a esquerda estava em “silêncio” após o pronunciamento do petista e sugeriu que a repercussão seria outra se tivesse “saído da boca” do ex-presidente.
O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) classificou a declaração como “absurda”. “Lula ‘agradece’ pela escravidão; que declaração absurda!”, disse.
O deputado Daniel Freitas (PL-SC) foi mais enfático ao criticar o presidente, a quem chamou de “sujeito abjeto” em uma publicação no Twitter. “É inacreditável pensar que este sujeito abjeto é o presidente do nosso País.”
Outro deputado do PL que criticou Lula após o pronunciamento foi Zé Trovão (PL-SC). Em um vídeo nas redes sociais, afirmou que o pronunciamento do presidente é um reflexo do plano de governo. “Ele agradece o crescimento do Brasil nas mãos dos escravos. Como se isso fosse uma dádiva, como se isso fosse um presente divino. O que eu tenho a dizer para vocês é que essa fala dele reflete bem aquilo que ele é e aquilo que ele está tentando fazer com o Brasil”, disse.
Nesta quinta-feira, 20, a equipe que elabora os discursos do presidente Lula passou a ter um reforço. Um dia depois da declaração sobre a África, a assessora de imprensa da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, passou a “colaborar com a preparação e redação de discursos e falas públicas” no gabinete do presidente.
Presidente participou de cúpula em Bruxelas
Lula retornou ao Brasil na quarta, após participar da 3ª Reunião de Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e União Europeia (UE), em Bruxelas, na Bélgica. Durante o regresso, o chefe do Executivo fez uma parada em Cabo Verde, onde se reuniu com o presidente do País.
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