BRASÍLIA — Ao concluir nesta quinta-feira, 29, a montagem do primeiro escalão de seu futuro governo, com o anúncio dos nomes dos 16 ministros que restavam, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva cedeu espaço inédito a partidos aliados e incluiu legendas que integram o Centrão. Ao mesmo tempo, o futuro mandatário consolidou a hegemonia do PT em postos-chave do Palácio do Planalto e da Esplanada, com a blindagem da área social.
Dos 37 ministros, 27 têm filiação partidária ativa ou foram indicados por siglas com representação no Congresso. No balanço final, o PT ficou com 10 ministérios, seguido por MDB, PSD, União Brasil e PSB, com três pastas cada. PDT, PCdoB, Rede e PSOL foram contemplados com um ministério cada. Serão nove partidos com assento na Esplanada. Dez ministros não são filiados nem foram indicados por bancadas parlamentares.
Os últimos dias foram marcados por intensa articulação de Lula e petistas para contemplar os aliados no futuro governo. Nesta quinta-feira, Lula minimizou a falta de experiência de indicados para as áreas que vão assumir e destacou que eles devem montar equipes com capacidade técnica, mas fez uma ressalva: “No meu governo, não há medo de escolher político. Fora da política não se resolve quase nada nesse planeta”.
Há 20 anos, quando o PT assumiu o Palácio do Planalto pela primeira vez, eram sete partidos na Esplanada de Lula. Havia poucas concessões ao Centrão: um filiado ao PL, Anderson Adauto (Transportes) – na época, partido também do então vice José Alencar –, e um do PTB, Walfrido dos Mares Guia (Turismo). Para o analista político Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral, o PT, por ter acumulado mais de dez anos de governo, aprendeu a dar importância para legendas distantes ideologicamente.
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”Ao longo dos 13 anos em que governou o País, inclusive com o impeachment de Dilma (Rousseff), o PT foi aprendendo que é preciso compartilhar espaço para governar e para minimizar o risco de ser apeado do poder”, disse. “Nesse sentido, apesar de ter assegurado o controle da Fazenda, da articulação política e das principais massas sociais, há diferenças marcantes entre o Ministério de Lula em 2003 e agora.”
Apesar de dominar os núcleos político, social e econômico, o PT foi preterido em áreas importantes como a escolha do Ministério das Cidades, que ficou com Jader Filho (PA), do MDB. Já Simone Tebet (Planejamento) não contou com o aval dos parlamentares do MDB, mas teve chancela da direção nacional do partido. Recebeu a pasta ainda como retribuição pelo apoio na campanha eleitoral, conforme fez questão de ressaltar Lula.
No caso do União Brasil, um dos indicados é o atual governador do Amapá, Waldez Góes, que é filiado ao PDT e vai se licenciar do partido, podendo inscrever-se na legenda criada pela fusão do PSL com o DEM. Góes foi indicado por Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), líder no Senado, que foi elogiado pelo petista durante o anúncio final.
Já o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA) – vetado na Esplanada de Lula por petistas – disse que o partido será independente. “O União declarar independência é um bom começo”, afirmou o futuro líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). “Estamos dialogando para trazer para a base. São 59 deputados, é um partido fundamental”, disse.
MDB, PSD e União Brasil, de centro-direita, somam 143 deputados e 31 senadores. As legendas são vistas como fundamentais pelo núcleo duro do Planalto para garantir o apoio no Legislativo. Lula busca compor uma base que vai ser importante para lhe permitir governar, visto que a bancada da esquerda eleita para o Congresso é a menor desde 1998.
Além das siglas que apoiaram o petista nas eleições, Lula havia formado o gabinete de transição com apoio de 14 partidos. Dos que terão ministros, apenas o União Brasil não participava formalmente. Dirigentes de partidos como Solidariedade, PROS e Avante reclamaram de serem excluídos da composição da Esplanada. Sem ministérios, eles serão contemplados com cargos no segundo escalão, entre eles diretorias federais nos Estados.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que na próxima semana vai começar a dialogar para compor o segundo escalão com partidos menores. “Nenhum ministério é porteira fechada”, disse ela. “São partidos que estiveram conosco na caminhada, gostaríamos muito que tivessem ministérios, mas não foi possível. Vamos tentar contemplar.”
O Avante recebeu a promessa de tratamento de partido grande por causa da retirada da pré-candidatura à Presidência do deputado André Janones (MG) – que atuou no enfrentamento do bolsonarismo nas redes sociais.
No PSB, apenas um ministro foi formalmente apadrinhado pelo partido – o ex-governador de São Paulo Márcio França, futuro ministro dos Portos e Aeroportos. Os ministros Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) e o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (que vai chefiar a pasta de Indústria e Comércio Exterior) são escolhas de Lula.
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