LISBOA, ESPECIAL PARA O ESTADÃO – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta sexta-feira, 18, em Lisboa, que se tiver oportunidade, voltará a utilizar, antes de assumir, o jatinho do empresário da área de medicina privada José Seripieri Filho – que foi alvo da Operação Lava Jato.
Ao responder pela primeira vez sobre o assunto, Lula justificou a opção pela carona por duas razões: quem o convidou para ir à COP 27 – o governo do Egito e os governadores da Amazônia – não podiam arcar com as despesas de transporte; o voo precisaria ter condições de segurança para um presidente eleito, pois, segundo ele, há “bolsonaristas raivosos se espalhando pelo mundo”.
Lula também afirmou que governo brasileiro deveria oferecer um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que pudesse ser usado durante o período de transição. O uso da aeronave do empresário para ir ao evento foi criticada pela oposição e até mesmo por aliados do futuro governo.
“Se o Estado brasileiro fosse democrático, e a gente tivesse um presidente responsável, quem sabe ele tivesse oferecido um avião da FAB para me levar. Mas não ofereceu. Paciência. Sou grato ao meu amigo que foi comigo e me emprestou o avião. Eu espero que ele esteja disposto em outras oportunidades, antes de eu assumir a Presidência, porque depois não posso. Se eu tiver alguma viagem, e ele quiser me emprestar o avião e ir junto comigo, eu vou agradecer”, afirmou o petista após se reunir com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa.
Lula enfatizou o argumento da segurança para justificar a “carona”. “Eu tinha um amigo que queria ir na COP e ele tinha um avião, e eu fui com ele, um avião novo, de boa qualidade, com muita segurança”, disse.
“Importante lembrar que um presidente eleito tem que cuidar da sua segurança sobretudo em um País que você tem bolsonaristas raivosos se espalhando pelo mundo afora”, afirmou.
Lula viajou ao Egito no jatinho do empresário José Seripieri Junior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde, empresas que atuam na área de saúde privada. Após a polêmica em torno da viagem, o PT vai pedir ao governo federal que as despesas do presidente eleito passem a ser financiadas com os recursos da União.
Em 2020, Seripieri Junior ficou três dias preso durante fase da Operação Lava Jato que investigava suposto caixa 2 na campanha do hoje senador José Serra (PSDB-SP) à Presidência em 2014.
Lula fez esta declaração em rápida entrevista, após se reunir com António Costa, que o convidou para jantar em sua residência oficial, o Palacete de São Bento. A futura primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e a mulher de Costa, Fernanda Tadeu, também participaram do jantar.
Lula também reafirmou seu compromisso com a estabilidade fiscal, destacando que realizou superávit primário durante seus dois mandatos. Ele disse que tem a “humildade para ouvir conselhos” ao referir-se à carta aberta assinada pelos economistas do Plano Real, que apoiaram o candidato do PT.
Na carta, eles criticaram posição de Lula de relevar a estabilidade fiscal, como se fosse apenas uma exigência do mercado, sem consequências sobre a inflação e o crescimento econômico. O presidente voltou a dizer que “fica triste” com a “especulação” que faz a Bolsa cair e que foi eleito para “cuidar do povo brasileiro” e “não só do mercado financeiro”.
Lula também minimizou a polêmica em torno da transição no Ministério da Defesa. Disse que na terça-feira vai retomar a coordenação da montagem do novo governo. O petista disse que não se preocupa com “futricas de Twitter”, nem “com o que diz Braga Neto”. Lula lembrou que manteve ótima relação com a cúpula das Forças Armadas e não vê riscos para a democracia na ação dos militares.
Ele reafirmou suas promessas de campanha, destacando que prometeu efetivar em 2023 o acordo Mercosul- União Europeia – no que teve apoio de António Costa.
Como aconteceu durante a tarde, bolsonaristas e lulistas, contidas pela polícia em rua próxima, se provocaram durante a noite, gritando palavras de ordem contra e a favor do presidente eleito. Os bolsonaristas xingavam ainda ministros Supremo Tribunal Federal (STF), com destaque para o ministro Alexandre de Moraes.
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