Lula cobra ministros para que seja avisado de crises e promete aperitivo da paz entre Lira e Padilha

Presidente afirma que muitas turbulências poderiam ser evitadas se ele soubesse antes das dificuldades: ‘Se um ministro não me traz um problema, vai levar esse problema para quem, cara pálida?’; leia bastidor

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Foto do author Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse aos ministros, nesta segunda-feira, 18, que quer ser avisado das crises do governo antes de os problemas assumirem uma proporção incontrolável. O recado foi dado à equipe na primeira reunião ministerial do ano e muitos ali entenderam que tinha como endereço o trio composto por Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Nísia Trindade (Saúde).

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Ao se dirigir a Padilha, que é responsável pela articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso, Lula afirmou que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), às vezes fala mal do ministro. “Às vezes, não, presidente. Fala todo dia”, corrigiu Padilha, em tom bem humorado, provocando gargalhadas.

Diante da constatação, Lula prometeu organizar um “aperitivo” para Padilha e Lira fazerem uma “DR”, o que significa discutir a relação. O presidente só ficou sabendo da rota de colisão entre os dois depois que Lira ameaçou paralisar a pauta de votações na Câmara, sob o argumento de que acordos para distribuição de emendas parlamentares não eram cumpridos.

Lula diz que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, deveria ter falado antes com sua colega da Saúde, Nísia Trindade. Foto: Wilton Junior/ Estadão Foto: Wilton Junior

“Se um ministro não me traz um problema, vai levar esse problema para quem, cara pálida?”, perguntou Lula, de acordo com relato dos participantes. Na sua avaliação, muitas turbulências poderiam ser evitadas se ele soubesse antes das dificuldades.

A certa altura da reunião, que durou quase cinco horas, na Sala Suprema do Planalto, o presidente também cobrou Costa por demorar a receber Nísia para tratar da condução da epidemia da dengue, da crise dos hospitais federais do Rio e dos yanomami. Alvo do Centrão, que está de olho na sua cadeira, Nísia se emocionou ao falar da pressão que tem sofrido de fora, classificada por ela como machista, e ficou com a voz embargada.

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A reunião ocorreu no momento em que uma série de pesquisas indica a queda da popularidade de Lula e do governo. Os levantamentos fizeram acender o sinal amarelo no Planalto a menos de sete meses das eleições municipais.

Como mostrou o Estadão, o presidente se encontrou na semana passada com o publicitário Sidônio Palmeira, que assumiu o marketing da campanha petista de 2022 e foi responsável pelo slogan do terceiro mandato, batizado como “União e Reconstrução”.

“Nós perdemos a guerra da comunicação digital na campanha (de 2022) e estamos perdendo no governo”, admitiu Lula, que cobrou dos ministros a divulgação das ações e dos programas lançados até hoje. “Temos de trabalhar para vencer essa batalha.”

O presidente, ao lado da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves: em busca de uma marca para seu terceiro mandato. Foto: Wilton Junior/Estadão Foto: Wilton Junior

Na tentativa de melhorar a comunicação, o presidente quer que todos os ministros viajem pelo Brasil e falem “com entusiasmo” sobre as iniciativas do Executivo, e não apenas das medidas tocadas por suas respectivas pastas.

Em busca de uma marca para seu terceiro mandato, Lula disse que a igualdade salarial entre homens e mulheres pode se encaixar aí. Fez a observação após a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, criticar empresas e confederações, como a da indústria, que têm recorrido ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Lei da Igualdade Salarial, sancionada em julho do ano passado.

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“É uma boa briga”, avaliou o presidente, segundo auxiliares presentes à reunião, ao dizer que, nos discursos, todos sempre devem lembrar dessa conquista.

No encontro a portas fechadas, Lula tinha em mãos relatórios sobre as ações do governo. O power point apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacava a seguinte frase: “Rememorar 2023 – Um ano de bons resultados do governo”. Logo depois vinha o capítulo da “Agenda Econômica para 2024″, com medidas para a “melhoria do ambiente de negócios”.

O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, apresentou pesquisas aos colegas e disse que as pessoas só vão perceber a melhoria de vida quando os programas chegarem em suas cidades. Foto: Wilton Junior/Estadão Foto: Wilton Junior/Estadão

O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, mostrou dados de pesquisas sobre vários aspectos do governo. A segurança pública continua sendo uma das maiores preocupações dos brasileiros. A aprovação de Lula caiu até mesmo no Nordeste, antigo reduto do PT.

“As pessoas só vão perceber a política pública real quando chegar na ponta. Entendemos que, na medida em que as políticas públicas forem chegando e a vida das pessoas for melhorando, essa percepção fará com que a confiança em relação ao Brasil também se altere de forma positiva”, argumentou Pimenta.

‘Deus do Malafaia não é o mesmo que o nosso’

Embora pesquisas revelem que a desaprovação do governo é maior no segmento evangélico – que representa 30% do eleitorado –, Lula afirmou que o problema, nesse caso, está relacionado à disseminação de “fake news”, e não à falta de atenção por parte do Planalto.

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Foi nesse momento que o presidente perguntou ao ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, se o Deus do pastor Silas Malafaia era o mesmo que o dele. Não esperou a resposta. “O Deus do Malafaia não é o mesmo que o nosso, mas o Deus do evangélico é”, assegurou Lula.

Malafaia foi quem organizou o ato político de Jair Bolsonaro em 25 de fevereiro, na Avenida Paulista, no qual o ex-presidente pediu anistia para quem participou dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Frequentador da Igreja Batista, Messias é um dos ministros que tentam aproximar os evangélicos de Lula. Se tudo correr como o planejado, a ideia agora é promover uma reunião entre o petista e líderes de várias denominações religiosas, no mês que vem.

Lula disse, porém, que religião não pode servir de instrumento para fazer política. Mesmo assim, de olho nos votos, o governo apoia a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia a imunidade tributária para templos de qualquer culto.

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