BRASÍLIA - Líderes estrangeiros que estiveram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira, em Brasília, disseram que o Brasil estará “de volta” ao cenário internacional e a organismos multilaterais, com o novo governo. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dará “impulso” à América Latina, após encontrar-se com o brasileiro. “Lula é um líder regional e vai dar o impulso à América Latina muito importante. Sua presença é a volta do Brasil a todos os fóruns internacionais. A ausência brasileira nos fóruns internacionais foi muito evidente (nos últimos quatro anos)”, disse Fernández.
Ele confirmou que Lula viajará para a Argentina ainda neste mês, no dia 23, e anunciou que será realizado um encontro da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Buenos Aires, no dia 24. Lula participará da reunião. O governo Bolsonaro deixou de participar da Celac em 2020, em razão da presença, no grupo, dos governos de Cuba e da Venezuela - este último representado por Nicolás Maduro, com quem o governo Lula promete restabelecer relações.
O novo chanceler, Mauro Vieira, já havia anunciado, antes da posse, que o governo Lula 3 voltaria a integrar os grupos regionais e o tópico foi debatido no encontro entre Fernández e o presidente brasileiro. “Eu transmiti ao presidente que escutei o discurso dele com atenção, um discurso muito realista e compreensivo do que é a realidade atual. Obviamente que compartilho o desejo de voltar a unir a América Latina como espaço comum. Nós dois achamos que a Celac pode suprir isso, mas não conseguiu a institucionalidade que merece”, disse Fernández. Uma das prioridades do novo governo é trabalhar para fortalecer e liderar relações diplomáticas com a região.
Fernández disse que, na conversa com Lula, os dois também falaram sobre a necessidade de estreitar a relação bilateral Brasil-Argentina. “Nos últimos quatro anos foi difícil, mas agora estamos convencidos da importância desse vínculo e a necessidade de dar a esse vínculo a transcendência que ele precisa”, afirmou o argentino.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, também afirmou que a conversa girou em torno da integração regional e fortalecimento de fóruns como a Celac e a Unasul. “Acreditamos que a liderança de Lula e sua experiência são muito importantes para a nossa geração (…). Trabalharemos para falar da América Latina para o mundo com uma visão unificada”, disse Boric.
Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, que também esteve com Lula, disse ver o retorno de um “Brasil multilateral”. “Brasil multilateral, Brasil na cena internacional, Brasil nas organizações, que faz muita falta”, disse Rebelo, sobre o início do governo Lula.
Ele elogiou, por exemplo, o fato de Lula ter valorizado a proteção ambiental em seu discurso de posse, no domingo, e disse que “não à toa” o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, visitou Manaus neste dia 2, onde anunciou que o governo alemão irá liberar 35 milhões de euros para o Fundo Amazônia. “Foi muito importante ouvir o presidente Lula definir a política brasileira em matéria ambiental, ecológica”, afirmou o português.
O presidente de Portugal também informou que Lula viajará para o País em 22 de abril, para visita de estado e também para participar da cerimônia de entrega do Prêmio Camões a artistas brasileiros.
VENEZUELA. Segundo Boric, ele e Lula também trataram da situação da Venezuela. Boric disse que os dois conversaram sobre voltar a incorporar a Venezuela ao circuito multilateral. “Os problemas não se resolvem isolando os países”, afirmou o chileno, que também defendeu que a região trabalhe para conseguir um cenário em que, em 2024, haja uma eleição legítima na Venezuela.
Parte das reuniões previstas para acontecer nesta segunda-feira foi cancelada por falta de tempo, inclusive o encontro com o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, que representou o governo de Nicolás Maduro.
Lula também se reuniu com o vice-presidente da China, Wang Qishan. No twitter, o presidente brasileiro publicou uma foto com o chinês e disse que a China é “nosso maior parceiro comercial e podemos ampliar ainda mais as relações entre nossos países”. O presidente também recebeu outros líderes como o Rei Felipe VI da Espanha, o presidente da Bolívia, Luis Arce, o presidente do Equador, Guillermo Lasso.
Depois da reunião com Boric, o Brasil concedeu o agrément ao indicado como embaixador chileno em Brasília, Sebástian Depolo. O pedido ficou paralisado por dez meses, sem autorização por parte do governo Bolsonaro. Depolo, além de indicado por um governo de esquerda, já fez críticas a Bolsonaro.
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