Lula desistiu de reunião com Pacheco para não ser acusado de toma lá, dá cá a favor de Zanin

Encontro também contaria com Alcolumbre, presidente da CCJ no Senado, e avaliação de ministros do núcleo duro foi a de que poderia passar imagem de interferência indevida do Planalto para sabatina de advogado

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Foto do author Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desistiu de se reunir nesta segunda-feira, 19, com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), após ser alertado por ministros de que o encontro poderia passar a imagem de interferência indevida do governo, às vésperas da sabatina do advogado Cristiano Zanin. Indicado por Lula para assumir uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), Zanin responderá às perguntas de integrantes da CCJ na próxima quarta-feira, 21, e depois terá o nome submetido ao plenário do Senado.

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Como mostrou o Estadão, Lula teria uma reunião com Pacheco e Alcolumbre no Palácio da Alvorada, antes de embarcar, na noite desta segunda-feira, 19, para uma viagem à Europa. Houve, porém, uma avaliação de ministros do núcleo duro do Palácio do Planalto de que o encontro seria usado pela oposição para acusar o governo de “toma lá, dá cá”, com o objetivo de aprovar a indicação de Zanin no Supremo.

Lula foi informado pelo próprio Pacheco de que Zanin conquistou apoio mais do que suficiente para receber sinal verde do Senado. O Planalto também calcula que o advogado de Lula na Lava Jato terá entre 50 a 55 votos de um plenário formado por 81 senadores. Para ter o nome aprovado, ele precisa de no mínimo 41 votos. No dia da sabatina de Zanin o presidente estará no Vaticano para uma audiência com o papa Francisco.

Lula conta com Pacheco, no Senado, para frear apetite do Centrão Foto: Wilton Júnior/Estadão

Com receio de que qualquer movimento, agora, pudesse atrapalhar Zanin por passar a ideia de “mão forte” no processo, Lula e Pacheco decidiram cancelar a reunião, que também contaria com a presença de Alcolumbre, aniversariante do dia. “Até a Damares elogiou Zanin”, disse um interlocutor do presidente ao lembrar que, antes de conhecer o advogado, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) havia feito severas críticas a ele.

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Otimismo

Coube ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, informar o presidente tanto sobre a expectativa cada vez mais otimista para a aprovação de Zanin à vaga de Ricardo Lewandowski no Supremo como a respeito da votação do arcabouço fiscal e da Medida Provisória do Mais Médicos, previstas para esta terça, 20.

Embora não tenha encontrado Pacheco, Lula se reuniu na última sexta-feira, 16, com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), expoente do Centrão. Na ocasião, o petista disse a Lira que a entrada do grupo político dele no governo começará a ser feita após o retorno da viagem à Itália e à França.

O primeiro nome do presidente da Câmara na equipe será o do deputado Celso Sabino (União Brasil-PA), escolhido para assumir o Ministério do Turismo, hoje comandado por Daniela Carneiro. Deputada licenciada, Daniela entrou com ação na Justiça Eleitoral para pedir a desfiliação do União Brasil. Com isso, o partido aproveitou para exigir sua substituição no governo.

Atualmente, o União Brasil controla três ministérios – Comunicações, com Juscelino Filho; Turismo, com Daniela, além de Integração e Desenvolvimento Regional, com Waldez Góes. Ex-governador do Amapá, Góes pediu licença do PDT para assumir a cadeira, mas entrou na cota do União Brasil por ser amigo de Alcolumbre.

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Dos três ministros do partido, o senador só não indicou Daniela, classificada como “cota pessoal” de Lula. Ela e o marido Wagner Carneiro, prefeito de Belfort Roxo, fizeram campanha para o PT, no ano passado, em um território bolsonarista.

Agora, Alcolumbre se movimenta para emplacar Pacheco na segunda vaga do Supremo, a ser aberta em outubro, com a aposentadoria da presidente da Corte, Rosa Weber. Não sem motivo: como informou o Estadão, Alcolumbre acha que, se Lula indicar Pacheco ao STF, ele próprio poderá retornar ao comando do Senado, começando com um mandato-tampão.

A estratégia do senador prevê a permanência à frente da Casa de Salão Azul, que administrou de 2019 a 2021, durante cinco anos. Para tanto, porém, Alcolumbre precisa ‘tourear’ os adversários e conseguir se eleger.

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