Lula diz a ministros que vai devolver relógio Cartier ao TCU

Advocacia-Geral da União recorre da decisão de tribunal que mandou presidente ficar com peça por considerar que sentença abre caminho para absolver Bolsonaro

PUBLICIDADE

Foto do author Vera Rosa
Foto do author Eduardo Gayer
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira, 8, durante a reunião ministerial, que vai devolver o relógio Cartier recebido de presente em 2005, embora o Tribunal de Contas da União (TCU) tenha decidido que ele pode ficar com a peça.

PUBLICIDADE

Aos ministros, Lula contou que telefonou ainda na quarta-feira, 7, para o presidente do TCU, Bruno Dantas, e manifestou sua contrariedade com a decisão da Corte. Na conversa, avisou Dantas que está decidido a devolver o relógio ao tribunal. A outros interlocutores, ele também disse que pode doar o Cartier, em benefício de alguma causa social.

Na avaliação de Lula, ministros do TCU ligados a Jair Bolsonaro se alinharam à tese da defesa do ex-presidente com o objetivo de abrir caminho para sua absolvição no caso das joias sauditas.

Prevaleceu no TCU a tese do ministro Jorge Oliveira, que foi titular da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro e depois indicado por ele para o cargo no tribunal. No entendimento de Oliveira, não se pode classificar os presentes recebidos no exercício da Presidência como sendo da União até que haja uma regulamentação sobre o que é “bem de natureza personalíssima”.

Na reunião ministerial, Lula contou aos auxiliares que ligou para o presidente do TCU, Bruno Dantas. Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

A Advocacia-Geral da União (AGU) vai recorrer da decisão do TCU e orientou Lula a aguardar o novo julgamento antes de tomar qualquer atitude sobre o destino do relógio.

Publicidade

Com valor estimado à época em R$ 60 mil, e confeccionado em ouro branco, o Cartier Santos Dumont foi presente da própria fabricante durante visita que Lula fez a Paris, em seu primeiro mandato.

No recurso, a AGU argumentará que, quando Lula ganhou o Cartier, não havia norma do TCU que obrigasse os chefes do Executivo a devolver presentes, mesmo sendo de alto valor.

Em 2016, no entanto, o tribunal determinou que todos os itens recebidos deveriam ser catalogados como patrimônio público.

Com isso, a AGU pretende demonstrar que a situação de Lula é “completamente distinta” do caso das joias da Arábia Saudita recebidas por Bolsonaro, revelado pelo Estadão.

A Polícia Federal descobriu que, a mando do ex-presidente, um conjunto de joias – incluindo um relógio de ouro branco da marca Rolex – começou a ser negociado nos Estados Unidos ainda em 2022, último ano de seu mandato.

Publicidade

Bolsonaro agora fala em fazer leilão das joias

Em 2023, o TCU determinou a Bolsonaro que entregasse as peças. O advogado Frederick Wasseff viajou, então, para os Estados Unidos e recomprou o relógio.

Em entrevista à emissora CNN, nesta quinta-feira, 8, o ex-presidente disse que, se o TCU lhe entregar as joias ali depositadas, ele leiloará pelo menos um dos kits e doará o dinheiro para a Santa Casa de Juiz de Fora (MG), onde foi atendido quando levou uma facada, na campanha de 2018.

No mês passado, Bolsonaro e outros 11 aliados foram indiciados pelos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. A conclusão das investigações da PF, enviada ao ministro Alexandre de Moraes – relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF) –, será analisada agora pela Procuradoria-Geral da República, a quem cabe decidir se denuncia ou não o presidente.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.