BRASÍLIA - O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi convidado para se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mas disse aos americanos que não deve fazer a viagem antes da posse em razão de negociações políticas em andamento no País. O convite foi feito durante reunião de Lula com o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, nesta segunda-feira, 5, em Brasília.
Após o encontro, o petista usou a rede social para falar que está “animado” para encontro com Biden.
Segundo o ex-ministro Celso Amorim, conselheiro de Lula para assuntos internacionais e um dos participantes da reunião, o representante dos EUA fez questão de dizer que o presidente Biden estaria disposto a receber o presidente Lula antes mesmo da posse. “O presidente Lula comentou a situação interna, várias providências que têm que ser tomadas, negociações diversas que estão ocorrendo, e disse que talvez não desse. Valorizou muito o fato, mas disse que talvez não desse. Ele (Lula) acha que dá para ir no início do ano, em uma visita oficial como presidente”, disse Amorim. O encontro durou quase duas horas e foi avaliado por fontes dos dois lados como positivo.
Lula havia dito que gostaria de ir aos Estados Unidos antes da posse presidencial, como fez em 2002 para se encontrar com o então presidente George W. Bush. Antes disso, no entanto, o petista precisa resolver impasses entre os partidos aliados para nomear os ministros do futuro governo — até agora, nenhum nome foi oficialmente indicado —, montar uma base de apoio no Congresso e aprovar a PEC da Transição.
Além de Amorim, participaram da reunião, pelo lado brasileiro, o petista Fernando Haddad, que deve assumir o Ministério da Fazenda no futuro governo e o senador Jaques Wagner (PT-BA).
Pelo lado americano, estiveram presentes Sullivan, Juan Gonzalez, diretor sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional, e Ricardo Zuñiga, vice-secretário para assuntos do Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional.
Os dois conversaram também sobre a situação da democracia nos EUA e no Brasil e traçaram paralelos entre os dois países. Washington se preocupava com a realização de eleições de forma democrática e tranquila no Brasil e também com possíveis episódios de violência política no País. O governo Biden tem a memória do que aconteceu nos EUA em 2020, quando apoiadores de Donald Trump questionaram o resultado das eleições -- em um movimento que acontece no Brasil encampado por eleitores bolsonaristas. Da última vez que Sullivan esteve no País, no ano passado, enviou uma mensagem clara a integrantes do governo Bolsonaro e ao próprio presidente sobre a confiança da Casa Branca no sistema eleitoral brasileiro e a expectativa de que a disputa de 2022 ocorressem sem tentativa de interferência por Bolsonaro.
Desta vez, segundo Amorim, Lula e Sullivan falaram sobre o trumpismo e sobre o bolsonarismo. “Se fez uma comparação entre o trumpismo e o bolsonarismo e a necessidade de reforçar a democracia e o Jake Sullivan acentuou a importância da eleição como foi, democrática, com a vitória do presidente Lula, como isso foi importante para a democracia no Brasil, na região e no mundo”, disse o ex-chanceler.
Questionado se Sullivan demonstrou preocupação com o risco de não haver uma posse tranquila no Brasil, Amorim negou, mas disse que a experiência americana foi mencionada na conversa. “Ele apenas comentou. O Sullivan disse ‘olha, foi parecido nos EUA’, enfim, eu não vou ficar entrando em detalhes porque parece que a gente fica falando de expectativa negativa. Mas vocês estão vendo todos os dias as coisas”, disse Amorim. Em 2021, trumpistas tentaram impedir a cerimônia da certificação da eleição de Biden e invadiram o Capitólio americano. Cinco pessoas foram mortas.
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