Para evitar novos atritos com aliados e tentar ampliar a base de eleitores, a mais recente versão das diretrizes programáticas da pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) recuou da proposta de revogação da reforma trabalhista e suprimiu termos feministas. O texto apresentado ontem deu ainda destaque à pauta ambiental e à Petrobras – hoje em meio a disputas no governo Jair Bolsonaro (PL) por causa da alta dos preços dos combustíveis.
A pré-campanha de Lula ao Palácio do Planalto busca votos dos chamados eleitores de centro e conservadores. No entanto, temas vistos como cruciais por petistas foram mantidos, como a revogação do teto de gastos – regra que limita o aumento das despesas públicas à inflação. O programa de governo só será finalizado em agosto.
“Nós não vamos ter problema de executar o nosso programa”, disse Lula, durante ato de lançamento das diretrizes, em São Paulo. Ele afirmou que é melhor colocar menos propostas no papel e executar mais.
Na área econômica, ficou de fora a ideia de derrubar a reforma trabalhista do governo Michel Temer (MDB). Agora, a pré-campanha fala em propor uma nova legislação de “extensa proteção social”, com atenção a autônomos e trabalhadores de aplicativos. “Revogando os marcos regressivos da atual legislação trabalhista, agravados pela última reforma e restabelecendo o acesso gratuito à Justiça do Trabalho”, diz o documento.
Na prévia do início deste mês, a campanha de Lula falava que “o Estado deve coordenar uma política pública de cuidados e assegurar às mulheres o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos, políticas essenciais para a construção de uma sociedade mais igual”. O texto não tratava diretamente do aborto, mas aliados do ex-presidente viam uma brecha para o tema ser explorado diante da previsão de discutir os “direitos sexuais e reprodutivos”.
‘Unidade’
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, elogiou a segunda versão. “Demonstramos aqui uma grande unidade programática”, disse ela. O documento foi acertado por PT, PSB, PCdoB, PV, Rede, PSOL e Solidariedade.
Entre as arestas aparadas com aliados está a exclusão da menção de veto à volta do imposto sindical. No documento, agora consta que “serão respeitadas as decisões de financiamento solidário e democrático da estrutura sindical”.
O novo texto dá mais ênfase à pauta ambiental, à valorização da carreira policial, à taxação dos “muito ricos” e à mudança na política de preços dos combustíveis, com oposição à privatização da Petrobras. Está no papel agora, assim como também quer Bolsonaro, a proposta de fim da paridade de preços com o mercado internacional, porque, de acordo com a prévia, “é preciso abrasileirar o preço dos combustíveis”.
A pré-campanha também incorporou menção à punição de ataques à imprensa e a jornalistas, e voltou a tratar de “democratização de meios de comunicação”. O debate sobre regulamentação – ou controle social da mídia – sempre foi encampado, sem sucesso, pelo PT.
Veja os principais pontos do prévia do programa de governo
Reforma trabalhista
Termo “revogação” foi suprimido e não consta mais veto à volta do imposto sindical.
Mulheres
Foi retirada menção à garantia dos “direitos sexuais e reprodutivos” das mulheres.
Combustíveis
Texto fala em “abrasileirar” os preços dos combustíveis.
Teto de gastos
Foi mantida a defesa da revogação do teto de gastos.
Reforma tributária
Foi incluído item sobre a taxação dos “muito ricos”.
Imprensa
Foi acrescentado tópico sobre defesa do jornalismo. Termo “democratização dos meios de comunicação” voltou a aparecer.
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