O segundo turno das eleições municipais deve ser marcado pela forte nacionalização das campanhas dos candidatos em todo o Brasil, especialmente se forem apoiados ou pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou por seu adversário, Jair Bolsonaro (PL). Em São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) apostam em fortalecer ainda mais os laços com seus padrinhos políticos – mesmo que à distância – para angariar uma maior quantidade de votos nas urnas no último domingo do mês de outubro.
Bolsonaro deve participar de mais compromissos com postulantes pelo País do que Lula. O ex-presidente passará por todas as 23 cidades nas quais um nome do PL está na disputa na segunda etapa do pleito. Já o atual mandatário tem agendas confirmadas na capital paulista, em Fortaleza e em Belém - sendo que, no Norte e Nordeste, deve dividir atividades eleitorais com as oficiais do governo Federal.
O ex-presidente deve dar as caras na capital paulista apenas na reta final da campanha, segundo apurou o Estadão. Em São Paulo, Bolsonaro deve participar de agendas de rua ao lado do vice de Nunes, que foi indicado por ele, o coronel Ricardo de Mello Araújo (PL), e do próprio prefeito. Até o momento, no roteiro dos políticos, está uma participação em eventos religiosos e uma visita ao Ceagesp, companhia presidida pelo coronel Mello durante o governo do ex-mandatário.
O ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) tem sido considerado a ponte entre antigo chefe do Executivo nacional e o atual Executivo municipal de São Paulo. Mello estaria sendo responsável, de acordo com integrantes do partido, por coordenar uma maior participação de Bolsonaro nas redes sociais de Nunes neste segundo turno. A participação do ex-presidente, nestas primeiras semanas de campanha da segunda etapa do pleito paulistano, deve ser inteiramente virtual.
Mello, no entanto, negou ao Estadão que esteja coordenando uma estratégia digital da campanha. “Não estou sabendo”, disse.
Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador do Estado de São Paulo, também está escalado para participar de eventos de campanha do emedebista. Porém, não apenas na reta final. O Executivo estadual tem se firmado como um importante padrinho político de Ricardo Nunes nesta disputa. Na avaliação de aliados do atual prefeito, inclusive, ele é visto como mais influente que o próprio Bolsonaro. Anteriormente ao Estadão, Gilberto Kassab, presidente do PSD, disse acreditar que Tarcísio “é o vencedor” dessa eleição.
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A fala de Kassab é creditada ao fato de que o governador paulista nunca titubeou em apoiar Nunes veementemente. Em contrapartida, Bolsonaro mostrou um distanciamento do emedebista e ensaiou uma aproximação a Pablo Marçal (PRTB) em diversos momentos da campanha. A articulação do ex-presidente durante o primeiro turno foi considerada um “erro” nas fileiras do PL. “Deu bola pro coach e criou mais um adversário para o futuro”, ponderou um aliado bolsonarista ao Estadão.
Mesmo sem Marçal na disputa, Nunes não terá a atenção de Bolsonaro voltada inteiramente a ele. Ele precisará dividir a cortesia do ex-presidente com mais de 20 outros candidatos do PL que também avançaram para o segundo turno das eleições em suas cidades. O partido presidido por Valdemar Costa Neto (PL) é a legenda com mais postulantes na segunda etapa do pleito pelo País. Ao todo, são 23.
De acordo com alas internas do próprio PL, Bolsonaro deve fazer visitas em todos os 23 municípios em que a sigla disputa a prefeitura neste segundo turno. As prioridades do ex-presidente e principais apostas do partido são Belo Horizonte, com Bruno Engler (PL), Goiânia, com Fred Rodrigues (PL), Fortaleza, em que André Fernandes (PL) avançou para a segunda etapa, Cuiabá, com Abilio Brunini (PL), Manaus, com Alberto Neto (PL), Aracaju, com Emília Corrêa (PL) e João Pessoa, com Marcelo Queiroga (PL).
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Na capital goianiense a situação é um pouco diferente. O candidato da sigla de Valdemar enfrenta Sandro Mabel (União), que carrega o apoio do governador Ronaldo Caiado (União), que já teve atritos com o ex-presidente. Já em João Pessoa, capital da Paraíba, a presença de Bolsonaro é por um outro motivo. Ele é o principal fiador da candidatura do PL na cidade: a de seu ex-ministro da Saúde, Queiroga.
Em Minas Gerais, o ex-mandatário quer realizar um “grande ato” para promover Bruno Engler que está no segundo turno em Belo Horizonte. O evento, se seguir as expectativas do partido, também deve contar com a participação do deputado federal Nikolas Ferreira (PL).
No Estado de São Paulo, um dos principais destaques é o município de São José do Rio Preto. Na cidade do interior paulista, o coronel Fábio Candido (PL) avançou para o segundo turno com 40% dos votos válidos, e enfrentará Itamar (MDB) nas urnas no último domingo do mês.
Integrantes da sigla disseram que o atual prefeito paulistano não é a principal prioridade do ex-chefe do Executivo nacional, já que, na visão deles, a eleição está “praticamente vencida” na cidade. Internamente, é vista como “muito incerta” uma virada de Boulos sobre Nunes nas duas semanas restantes até o dia da votação, em 27 de outubro.
O primeiro levantamento do instituto Datafolha, divulgado nesta quinta, 11, mostra uma vantagem do emedebista sobre o deputado federal de 22 pontos porcentuais no segundo turno em São Paulo.
A pesquisa acendeu um “alerta vermelho” na campanha de Boulos, que precisará apostar mais fichas em seus apoiadores do que esperavam. O candidato do PSOL terá que ampliar a presença de sua vice, Marta Suplicy (PT), em suas agendas de rua para tentar reverter o quadro. A petista, inclusive, tem manifestado interesse em participar de todas as atividades que conseguir nesta segunda etapa. Ponto positivo para o deputado federal, que já não poderá contar o tanto que queria com Lula.
O presidente deve marcar presença em apenas dois compromissos de rua do candidato do PSOL em São Paulo. O primeiro deles está previsto para acontecer no dia 19. Não foram divulgados detalhes da agenda desta data. Já a outra visita de Lula à capital paulista pode acontecer somente na véspera das eleições, dia 26 – que ainda é incerta.
Na tarde desta quinta, 10, o chefe do Executivo recebeu Boulos em Brasília para a gravação de vídeos que devem auxiliá-lo durante a campanha – tanto nas redes sociais, como na propaganda gratuita de TV. No mesmo dia, Lula também gravou vídeos demonstrando apoio a outros candidatos de cidades distintas do País.
Lula tem dificuldade para equilibrar agendas
A situação para os postulantes apoiados por Lula é o contrário da experimentada pelos nomes endossados por Bolsonaro. Na avaliação de um dos aliados do petista, ele teve uma participação “muito abaixo do que se esperava” no primeiro turno. Já outro disse ao Estadão que é “difícil conciliar” a agenda presidencial com outros compromissos em eleições municipais.
O presidente também deve apostar em viagens para apoiar candidatos na segunda etapa do pleito – mas de maneira limitada, por não ter espaço suficiente em sua agenda. Ainda neste mês, Lula viaja para a Rússia, onde acontecerá a reunião dos Brics, por exemplo.
Nesta sexta, 11, o petista viajou para Fortaleza, onde Evandro Leitão (PT) avançou na disputa eleitoral contra André Fernandes. A capital cearense também deverá receber o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele segue para Belém no sábado, 12, para reforçar seu apoio ao candidato do MDB, Igor Normando. O mandatário ficará dividido entre atividades das campanhas e programações oficiais do governo.
Aliados do presidente disseram que Lula não pretende deixar Belo Horizonte “em segundo plano”, mas que a falta de disponibilidade de agenda para visitar a capital mineira deixa a situação “apreensiva”. Até agora, o único convite feito à Fuad Noman (PSD), que disputa a prefeitura de BH com Bruno Engler, foi uma ida a Brasília, de acordo com integrantes do PT.
Sua ausência nas campanhas pelo País é vista por alguns integrantes do partido como um dos principais motivos que deixaram Luiz Fernando (PT), que concorria à prefeitura de São Bernardo do Campo, berço político de Lula, fora da disputa do segundo turno, por exemplo, e outros candidatos na mesma situação.
Até alguns ministros do governo, como Alexandre Padilha, ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, foram convocados. Ele deve visitar Diadema, Sumaré e Mauá em uma tentativa de restabelecer a força do PT na região do ABCD.
A mesma coisa acontece na capital paulista. Vereadores e deputados estaduais e federais foram convocados para fazer campanha para Boulos e cobrir lacunas deixadas por Lula em regiões periféricas da cidade. Ênio Tatto (PT), deputado estadual, disse ao Estadão que pretende, por exemplo, “manter todos os carros de som que estavam na campanha dos vereadores em atividade” para virar os votos na região do Grajaú, reduto petista em São Paulo, mas no qual Boulos saiu derrotado.
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Para ele, os mais de 48 mil eleitores que votaram “13″, número do PT, ao invés de “50″, número do PSOL, nas urnas no dia 6, também serão decisivos para a vitória do psolista no segundo turno. “Teve confusão. Com certeza, o cara votou ‘13′ para vereador e apertou ‘13′ no prefeito. A urna aceitava, mas anulava (o voto)”, argumentou.
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