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Uma avaliação dos nossos riscos

Opinião | Lula e o risco da imaginação

Mesmo mantendo o favoritismo, um segundo turno coloca candidato do PT num difícil cenário

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Foto do author William Waack

A mulher pobre e evangélica já tomou a primeira decisão das eleições: vai mandar Bolsonaro para o 2.º turno. É nessa pessoa que convergem três típicas categorias em que são divididos dados de pesquisas de opinião: baixa renda, eleitorado feminino, religião.

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Os últimos levantamentos indicam que Bolsonaro está conseguindo evitar uma derrota já em 1.º turno. O retrato do momento indica que só perderia no 2.º se a eleição fosse no próximo domingo. Um 2.º turno está marcado para daqui a nove domingos.

Lula preserva vantagem sobre Bolsonaro entre mulheres, eleitores de baixa renda e no Nordeste. Ocorre que o presidente, mesmo sendo o mais rejeitado, empata ou até tem vantagem em colégios eleitorais de peso (Sul e Sudeste) e entre evangélicos. Enquanto a recuperação da economia o ajuda até certo ponto nas menores faixas de renda.

Em imagem de arquivo, o grupo evangélico Comunidade Evangélica Projeto de Deus, de Ceilândia, no Distrito Federal, faz oração em frente ao Palácio da Alvorada Foto: Dida Sampaio/Estadão - 05/04/2022

Ou seja, ainda que em desvantagem, Bolsonaro está conseguindo falar com essa mulher pobre e evangélica. Dois outros fatores prometem ajudar a chegar ao 2.º turno. O primeiro é especulativo: apesar da preferência de voto parecer bastante consolidada, um contingente estimado em até um terço dos “decididos” estaria disposto a mudar o voto.

Além disso, ocorreu nos últimos dias um relativo crescimento das candidaturas de Ciro Gomes e Simone Tebet. Que diminuiu consideravelmente a probabilidade de Lula liquidar a fatura no 1.º turno (algo que nunca conseguiu) e, com isso, altera de forma substancial para Lula o que vem depois.

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Na noite de 2 de outubro ele já saberá o tamanho da encrenca chamada Centrão. A mulher pobre e evangélica não tem muita noção disso, mas nesse domingo ela já determinou também o tamanho das bancadas parlamentares, pelas quais tanto se empenharam os caciques dos partidos. E com quem Lula terá de negociar não só para garantir a vitória final quatro domingos adiante, mas por muitos e muitos domingos vindouros.

É esse cenário, e não tanto um golpe, que atormenta o comando do PT. Lula continua dizendo (como outros candidatos também) que “vontade política” e “capacidade de negociação” o fariam contrapor-se ao notável avanço do Legislativo sobre o Executivo em questões de orçamento, no qual não há espaço para cumprir promessas, e que são instrumento real de poder.

Lula tem mostrado enorme apego, por razões político-eleitoreiras, a um passado que é no seu conjunto apenas imaginação. O risco disso vai para quem comprar a promessa de restaurar aquilo que não foi. Para Lula, o grande risco trazido pela própria imaginação é acreditar que pode iniciar uma eventual Presidência em 2023 mandando tanto quanto mandava em 2003.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

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