Lula fala em ‘colheita generosa’ em 2024 e diz que 8 de janeiro teve ‘efeito contrário’

Em pronunciamento de Natal, presidente faz balanço do primeiro ano de seu terceiro mandato, em rede nacional de rádio e televisão

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Foto do author Sofia  Aguiar
Atualização:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da celebração de Natal dos catadores e da população em situação de rua em Brasília, no dia 22 de dezembro. Foto: Wilton Junior/Estadão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que, no ano de 2023, o governo federal criou condições para uma “colheita generosa” em 2024. Ao enaltecer ações da gestão e aprovação de matérias no Congresso Nacional, o chefe do Executivo abordou os ataques golpistas de 8 de janeiro contra a sede dos Três Poderes em Brasília e disse que os atos tiveram “efeito contrário” ao ódio.

As declarações ocorreram durante o primeiro pronunciamento de Natal, do terceiro mandato de Lula, em rede nacional de rádio e televisão. “2023 foi o tempo de plantar e de reconstruir”, classificou o presidente. “Aramos o terreno, lançamos as sementes, aguamos todos os dias, cuidamos com todo o carinho do Brasil e do povo brasileiro. Criamos todas as condições para termos uma colheita generosa em 2024.”

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Ao fazer um balanço do ano, Lula citou a retomada e o fortalecimento de políticas públicas no Brasil, como o Minha Casa, Minha Vida, em que algumas tinham sido desidratadas ou descontinuadas durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. O petista comemorou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima das previsões do mercado e a inflação sob controle. “O preço dos combustíveis está caindo e a comida ficou mais barata”, comentou.

Dentre as agendas do governo, o presidente falou sobre a geração de empregos, a nova política de valorização do salário mínimo e a aprovação da lei de igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função. “Em 2024, vamos trabalhar fortemente para superar, mais uma vez, todas as expectativas.”

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Já na área econômica, Lula destacou o programa Desenrola, de refinanciamento de dívidas de pessoas físicas, e a aprovação da taxação de super-ricos e da reforma tributária no Congresso Nacional, classificando como “feito histórico”. “Além de estimular os investimentos e as exportações, a reforma corrige uma injustiça: agora, quem ganha mais pagará mais imposto, e quem ganha menos pagará menos.”

O presidente afirmou que o governo cuidou com “responsabilidade dos recursos públicos” e fez um aceno à despolarização. “Investimos onde era preciso investir, em parceria com estados e municípios, sem perguntar qual o partido do governador ou do prefeito”, disse.

“Aumentamos os investimentos em saúde e educação e estamos apoiando os Estados no combate ao crime organizado. Além de armamento pesado, apreendemos R$ 6 bilhões de reais em bens do narcotráfico, entre dinheiro vivo, apartamentos, mansões, automóveis de luxo e até aviões e helicópteros”, acrescentou.

Na fala, o petista também falou sobre o restabelecimento do Brasil em fóruns internacionais. Em 2023, Lula passou grande parte do ano viajando para, segundo ele, recuperar a imagem do País perante o mundo. Segundo o petista, foi restabelecido o diálogo com o mundo e a credibilidade internacional.

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“O país voltou a ser ouvido nos mais importantes fóruns internacionais, em temas como o combate à fome, à desigualdade, a busca pela paz e o enfrentamento da emergência climática”, comentou. “O desmatamento na Amazônia caiu 68% em novembro. Aumentamos os investimentos em biocombustíveis e na geração de energia eólica e solar. Estamos dando os primeiros passos na produção de hidrogênio verde, a energia do futuro. Consolidamos o papel do Brasil como potência mundial na produção de energia renovável.”

8 de janeiro

A menção ao 8 de janeiro fez parte do discurso do presidente para que a invasão do Congresso, do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF) não seja esquecida. Na ocasião, extremistas defenderam um golpe militar no País para destituir o petista, que havia tomado posse uma semana antes, após vencer Bolsonaro na eleição de 2022.

Segundo Lula, o ódio de alguns contra a democracia “deixou cicatrizes profundas e dividiu o país”. “Colocou em risco a democracia. Quebraram vidraças, invadiram e depredaram prédios públicos, destruíram obras de arte e objetos históricos”, comentou. O petista, contudo, pontuou que a “tentativa de golpe causou efeito contrário”.

“Uniu todas as instituições, mobilizou partidos políticos acima das ideologias, provocou apronta reação da sociedade. E ao final daquele triste 8 de janeiro, a democracia saiu vitoriosa e fortalecida. Fomos capazes de restaurar as vidraças em tempo recorde, mas falta restaurar a paz e a união entre amigos e familiares”, disse.

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“E ao final daquele triste 8 de janeiro, a democracia saiu vitoriosa e fortalecida. Fomos capazes de restaurar as vidraças em tempo recorde, mas falta restaurar a paz e a união entre amigos e familiares”, acrescentou.

O presidente voltou a fazer uma defesa ao combate das fake news, desinformação e discurso de ódio. “Valorizar a verdade, o diálogo entre as pessoas”, afirmou. Segundo ele, o Brasil voltou a ter um “governo de verdade”.

Lula disse que seu pedido de final de ano é que o “Brasil abrace o Brasil” e afirmou que “somos um mesmo povo e um só país”. “Que no ano que vem sigamos unidos, caminhando juntos rumo à construção de um país cada vez mais desenvolvido, mais fraterno e mais justo para todas as famílias.”

Apesar do discurso no pronunciamento de Natal, o presidente apostou na polarização contra Bolsonaro durante todo o ano, incluindo ataques ao ex-presidente e aos aliados nos discursos. Como mostrou o Estadão, em fevereiro, Lula já havia feito alusões ou menções diretas ao antecessor em 14 de 16 discursos oficiais. Nas declarações, o petista se referiu ao ex-presidente como ‘genocida’, ‘irresponsável’, ‘desumano’, ‘insensato’ e até mesmo como ‘o coisa’.

Em junho, Lula chamou Bolsonaro de “sabidinho” que não aceitou o resultado eleitoral e “quis dar um golpe”. No início de dezembro, o presidente estimulou a militância do PT a nacionalizar a disputa nas eleições municipais de 2024 e afirmou que a polarização entre ele e o ex-presidente deve permanecer no embate do próximo ano.

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