Lula fala em prisão em Curitiba, golpe contra Dilma e prega coalisão contra desigualdade

Em discurso no Parlatório do Palácio do Planalto, presidente empossado volta a criticar herança do governo Bolsonaro e promete governar para todos os brasileiros

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BRASÍLIA - Diante de uma multidão de vermelho aglomerada na Praça dos Três Poderes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou, após tomar posse pela terceira vez, o período que passou preso na carceragem da Policia Federal no Panará, classificou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff como “golpe” e tachou o governo Jair Bolsonaro de “era das sombras”. Enquanto criticava o antecessor, ouviu como resposta gritos de “sem anistia” ao agora ex-presidente. O petista parou de falar por alguns segundos e a frase ecoou e pode ser ouvida de dentro do Palácio do Planalto.

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Lula abriu o discurso no parlatório com a referência indireta aos 580 dias de prisão pelos processos na Operação Lava Jato, o pior momento de sua trajetória política e um dos “mais difíceis” de sua vida, como afirmou. O Estadão antecipou que a prisão seria lembrada. Disse que dava o “boa tarde, povo brasileiro” para retribuir o cumprimento que recebia diariamente dos militantes petistas acampados na Vigília Lula Livre, ao lado da carceragem em Curitiba.

“Minha gratidão a vocês, que enfrentaram a violência politica antes, durante e depois da campanha eleitoral, que ocuparam as redes sociais e tomaram as ruas debaixo de sol e chuva, nem que fosse para conquistar um único e precioso voto, que tiveram a coragem de vestir a nossa camisa, quando uma minoria violenta e antidemocrática tentava censurar nossas cores e ser apropriar do verde e amarelo que pertence ao povo brasileiro”, agradeceu Lula, do Planalto.

Com a faixa no peito, entregue pouco antes por brasileiros escolhidos pelos petistas para representar a diversidade da sociedade e cumprir a missão institucional da qual o ex-presidente Jair Bolsonaro se evadiu, Lula lembrou o discurso da primeira posse, em 2003. Disse que trabalharia para acabar com a fome no País.

Lula se emociona em discurso no parlatório do Palácio do Planalto. Foto: AP / AP

Lula conclamou todos os atores sociais a se unirem numa frente ampla de combate à desigualdade. O mutirão, afirmou, é um compromisso dele e do vice-presidente Geraldo Alckmin, e será a “grande marca” do novo governo. A palavra desigualdade foi central do discurso, citada 20 vezes. A fome, nove.

“A volta da fome é um crime, o mais grave de todos, cometido contra o povo brasileiro”, disse Lula. “A fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil. A desigualdade apequena este nosso País de dimensões continentais, ao dividi-lo em partes que não se reconhecem”.

Lula chorou mais de uma vez, ao falar do caso de brasileiros que foram atrás de ossos em açougues ou de trabalhadores desempregados que ficam em esquinas com cartazes na mão pedindo “por favor, me ajuda”.

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O presidente prometeu governar para todos os brasileiros e não só para quem votou nele. Pediu conciliação entre as famílias e afirmou que não governaria olhando pelo “retrovisor de um passado de divisão e intolerância”.

“A ninguém interessa um País em permanente pé de guerra ou uma família vivendo em desarmonia,” disse. “Vou governar para 215 milhões de brasileiros, olhando para o nosso futuro e não apenas para quem votou em mim. Não existem dois Brasis. Somos um único país um, único povo, uma única nação. Somos todos brasileiros.”

Apesar da promessa, Lula reproduziu o diagnóstico crítico do gabinete de transição sobre a situação do País. Chamou o legado do governo antecessor de “caos” e “destruição”. “O que o povo brasileiro sofreu nestes últimos anos foi a lenta e progressiva construção de um genocídio”, afirmou.

Por mais de uma vez, Lula disse que o povo sofreu e pagou por erros do governo federal. Ele citou os quase 700 mil mortos pandemia da covid-19, 125 milhões de pessoas em insegurança alimentar e 33 milhões na lista da fome. Lula disse que os brasileiros foram “vítimas de um desgoverno afinal derrotado pelo povo”. Segundo ele, os avanços de sua gestão foram desfeitos, primeiro a partir da destituição de Dilma, em 2016, e em seguida “pelos quatro anos de um governo de destruição nacional cujo legado a História jamais perdoará.”

Lula disse que é tempo de união e reconstrução, palavras do slogan da nova marca do governo federal. Lula conclamou o povo a “reagir em paz e em ordem contra qualquer ataque de extremistas que queiram destruir a democracia”. “Chega de ódio, fake news, armas e bombas”, disse.

Lula no alto da rampa do Planalto após receber a faixa presidencial Foto: EFE / EFE
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