Lula indica a aliados que pode deixar petistas que coordenam transição fora de ministérios

Em cargos de destaque no gabinete de transição, Gleisi Hoffmann e Aloizio Mercadante tendem a não voltar ao primeiro escalão federal como ministros na montagem do governo Lula 3

PUBLICIDADE

Foto do author Beatriz Bulla
Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicou a aliados que poderá deixar petistas do núcleo duro do partido fora dos ministérios do novo governo. A justificativa oficial é a de que Lula não quer enfraquecer o PT ao convocar todos os seus expoentes para compor a Esplanada dos Ministérios.

PUBLICIDADE

Nesse desenho, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, pode ficar sem cargo no governo. Deputada federal reeleita pelo Paraná, ela tem mandato à frente do partido até 2024 e não pode acumular funções com a presidência da sigla, segundo o estatuto do PT. A saída de Gleisi do cargo abriria um processo interno de disputa, que demandaria a articulação política de Lula para a escolha do novo presidente.

Além disso, petistas que participam das discussões na transição lembram que Lula sempre apoiou Gleisi em cargos de destaque, mesmo diante de movimentos contrários a ela no partido e na bancada federal.

Mercadante pode ficar numa assessoria especial no Planalto e Gleisi deve continuar na presidência do PT. Foto: Eraldo Peres/AP Photo

Outro nome próximo ao presidente eleito que pode ficar sem ministério – mas não sem cargo em Brasília – é o de Aloizio Mercadante. O ex-ministro participou de todas as campanhas de Lula e teve papel de protagonismo na disputa de 2022 como coordenador do plano de governo. Mercadante também esteve ao lado de Lula nas viagens nacionais e internacionais e nas articulações políticas. O Estadão apurou que ele deve receber a incumbência de uma função influente ao lado do presidente eleito, dentro do Palácio do Planalto.

Publicidade

Lula concorreu com uma frente de dez partidos no primeiro turno, ampliada na segunda rodada. O petista também precisou do apoio de diferentes setores da sociedade civil e da classe empresarial para vencer a acirrada disputa contra Jair Bolsonaro (PL). Mais de uma vez, Lula repetiu que seu governo iria “além do PT” e seria composto por quadros que representassem todo o apoio recebido durante as eleições.

Cobrança

A promessa tem provocado um difícil xadrez para o presidente eleito, que se vê diante da cobrança por espaço de seu próprio partido. Petistas pedem vagas em 12 a 15 ministérios, em um cenário de 30 a 33 pastas. Nesta conta, consideram que o PSB deve ter dois ministérios e o PCdoB, PSOL, PDT e Cidadania ficariam com uma pasta cada. O PV e a Rede, ainda no cenário traçado por petistas, dividiram um ministério. O MDB, o PSD e o União Brasil também terão assento na Esplanada.

No caso do MDB, o partido cobra duas cadeiras – uma indicada pela bancada da Câmara e outra pela do Senado. Se depender do MDB, a seandora Simone Tebet, filiada ao partido e cotada para o Desenvolvimento Social, entraria na “cota pessoal” de Lula.

O PSD de Gilberto Kassab também tenta garantir dois ministérios – senadores e deputados da legenda se reuniram com Lula nesta terça-feira, 29. Presidente do PSD, Kassab se encontrou com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e integrantes do grupo de transição no último fim de semana, durante evento no Guarujá organizado pelo Esfera Brasil com empresários, políticos e magistrados.

Publicidade

Além dos partidos, o desenho dos ministérios também tem de contemplar nomes de setores que foram importantes para Lula na disputa de 2022 e considerar a diversidade racial e de gênero. Integrantes do PT admitem que Lula não deve conseguir montar um governo paritário em termos de número de homens e mulheres, mas avalia que deve haver uma “participação relevante” de ministras – elas devem ter a preferência do petista e ocupar aproximadamente um terço dos ministérios, algo em torno de dez cadeiras. A representação racial também pesará nas escolhas.

Dois conselheiros próximos de Lula dizem que a configuração da equipe começou a ficar mais clara para o presidente eleito. Os sinais externados são de que ele deseja contar com Fernando Haddad na Fazenda, com o ex-ministro José Múcio na Defesa e com o ex-chanceler Mauro Vieira no Itamaraty.

No Palácio do Planalto, as principais vagas seriam do PT: o governador da Bahia, Rui Costa, na Casa Civil; e o deputado Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, de volta à articulação política, nas Relações Institucionais. A Secretaria-Geral da Presidência poderia ficar com o advogado Marco Aurélio Carvalho.

Representante do grupo Prerrogativas, Marco Aurélio também é um possível nome para chefiar a Controladoria-Geral da União (CGU), embora já tenha defendido para a vaga o advogado Vinícius Marques de Carvalho, ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Publicidade

O deputado Emídio de Souza, muito próximo a Lula, pode ocupar uma vaga no Planalto em cargos como a chefia de gabinete ou a própria Secretaria-Geral da Presidência. O Planalto também deve abrigar um gabinete da futura primeira-dama, Janja da Silva.

Na Saúde, poderia haver o retorno de ex-ministros como Arthur Chioro ou José Gomes Temporão. A governadora do Ceará, Izolda Cela, é a principal aposta na Educação.

Cotado para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, poderia assumir a Advocacia-Geral da União (AGU) ou a Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ) no Planalto. Ex-SAJ, o procurador Jorge Messias também aparece na cotação para a AGU.

Para Direitos Humanos, Silvio Almeida ficaria com a vaga do PSOL, deixando caminho livre para Márcio França (PSB), interessado em pastas como Cidades ou Transportes. Se a cota do PSOL for de Almeida, o deputado eleito Guilherme Boulos ficaria fora do ministério.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.