Lula indica que vai se reunir com Lira ainda nesta quarta para tratar de MP dos Ministérios

Depois da derrota que sofreu na votação do marco temporal, petista liga para presidente da Câmara e ouve queixas

PUBLICIDADE

Foto do author Eduardo Gayer
Foto do author Giordanna Neves
Foto do author Iander Porcella
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou que vai se reunir ainda nesta quarta-feira, 31, com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “Depois da reunião, eu falo com vocês”, disse o petista ao ser questionado por jornalistas se, de fato, pretende se encontrar com o líder do Centrão, como informou o Estadão/Broadcast mais cedo. O risco de a medida provisória que estrutura a Esplanada dos Ministérios perder a validade preocupa o governo petista.

A reunião entre Lula e Lira foi articulada após uma ligação telefônica entre os dois em meio à crise do governo na relação com a Câmara. O petista ligou para Lira, que pediu que o presidente entre em campo na articulação política, conforme apurou o Estadão/Broadcast. A declaração de Lula a jornalistas foi feita na saída da Aeronáutica, onde o presidente participou de uma reunião sobre assuntos estratégicos com o Alto-Comando, seguida de um almoço.

Conversa com Lira se dá um dia após derrota do governo na votação do PL do Marco Temporal (Foto: Pablo Valadares/Agência Câmara) Foto: DIV

PUBLICIDADE

Lula precisa que Lira paute a MP dos Ministérios, e assegure a vitória, sob pena de a Esplanada voltar à configuração deixada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já nesta sexta-feira, 2. O texto vale até esta quinta-feira, 1.º, e, como mostrou o Estadão, pode levar 17 ministros a perderem seus postos, caso caduque.

De acordo com relatos feitos por parlamentares à reportagem, Lira “foi duro” e retratou o real cenário de contrariedade na Casa. Nesta quarta-feira, 30, a Câmara adiou a votação da MP dos Ministérios e deixou uma bomba-relógio para o governo. Antes, a Casa já havia aprovado o Projeto de Lei do Marco Temporal, em uma derrota ao governo petista. Por 283 votos a 155, os deputados estabeleceram que só podem ser demarcadas terras indígenas que estivessem ocupadas depois da promulgação da Constituição de 1988.

Líderes partidários já defendiam a entrada de Lula “em campo” para atenuar a crise e minimizar a resistência dos parlamentares, e Lira passou os recados. Na ligação, o presidente da Câmara também tratou das queixas recorrentes dos deputados que envolvem, principalmente, os atrasos na liberação de emendas e nas nomeações para cargos regionais.

Publicidade

Como mostrou a Coluna do Estadão, a ordem no Planalto passou a ser pagar as emendas parlamentares e destravar as nomeações políticas nos Estados e ministérios. O assunto virou tema da reunião de emergência convocada por Lula com os ministros palacianos para tratar da MP dos Ministérios.

Ainda no telefonema, Lira fez críticas à tentativa de negociação “no varejo” por parte do governo, ou seja, em diálogo direto com deputados, sem recorrer aos líderes partidários. Na avaliação dos parlamentares, o movimento enfraquece o papel dos líderes e desarticula a hierarquia da Casa.

Articulação política

O presidente da Câmara, no entanto, evitou “fulanizar”, sem citar o descontentamento em torno dos ministros da Casa Civil, Rui Costa, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, segundo relatos. Até mesmo deputados da base, contudo, já cobram uma reforma ministerial.

Nos bastidores, há uma insatisfação com a atuação dos dois ministros, responsáveis por atender às principais demandas dos parlamentares. Padilha é retratado como alguém de “bom diálogo”, mas que “promete e não cumpre”. Já Rui é visto como uma pessoa de difícil trato e que repete a política da Bahia na capital federal.

Como mostrou o Estadão, há ainda outro impasse a ser gerido. Lira quer a demissão do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB). O presidente da Câmara ficou furioso com um tuíte do senador Renan Calheiros (MDB-AL), que é seu adversário político e pai do ministro. Na postagem, Renan escreveu que Lira é “caloteiro”, “desvia dinheiro público” e “bate em mulher”.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.