Depois de um semestre de agenda vazia em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva veio à capital paulista neste sábado, 16, em demonstração de apoio ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) na corrida pela Prefeitura de São Paulo na eleição do ano que vem.
O evento marca a assinatura do contrato de início de obras do empreendimento habitacional Copa do Povo, que faz parte do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida na Zona Leste de São Paulo. Mas, durante o ato, os holofotes foram virados para Boulos, no primeiro evento público de Lula na capital paulista ao lado do psolista neste ano.
O ato fala diretamente ao público do pré-candidato. Isso porque o empreendimento previsto é uma demanda antiga do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), organização que tem o deputado como uma das principais lideranças. Há nove anos, moradores de uma ocupação do MTST no local aguardam a construção de habitações, que devem beneficiar 2.600 famílias. Os prédios anunciados por Lula serão de 12 andares, com elevadores e apartamentos de 68 metros quadrados cada.
Boulos subiu ao palanque ao lado de Lula e foi o primeiro político a discursar no evento. Em sua fala, não comentou as eleições de 2024 nem fez críticas ao atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tido como seu principal adversário para o ano que vem.
O foco do discurso foi o problema da moradia na capital, o que é uma de suas principais bandeiras políticas. “Infelizmente, hoje a gente tem 50 mil pessoas morando na rua, sem teto”, afirmou, e contou a história de pessoas em situação de rua, como a de Isabel, cujo sonho, segundo relato do pré-candidato, seria poder “tomar banho e botar absorvente”.
O deputado ainda fez aceno ao governo Lula, afirmando que o empreendimento seria uma mostra de que a gestão não tem “preconceito contra movimentos sociais”. “O que a gente está fazendo aqui hoje é exemplo contra o preconceito, porque, às vezes, dentro do poder público, tem gente com preconceito contra o movimento social”, afirmou o parlamentar.
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O presidente também evitou falar de eleições durante o evento, o que poderia caracterizar campanha antecipada. No entanto, disse que voltará para São Paulo no começo do ano que vem para anunciar o começo da construção da Universidade da Zona Leste, em uma crítica velada à gestão da capital. “O [Fernando] Haddad, quando era prefeito, doou o terreno. Não sei o motivo da dificuldade, [mas a obra] não aconteceu. Eu vou vir aqui, somente no dia que for para ligar máquina e colocar o primeiro tijolo”, prometeu.
Em entrevista ao fim do evento, Boulos fez uma crítica velada à gestão de Jair Bolsonaro (PL) que, segundo ele, teria “congelado” o andamento do projeto. “Esse empreendimento já estava autorizado, com alvará de execução de obra desde 2019, mas infelizmente o governo anterior decidiu congelar, não construir”. Ele aproveitou e fez mais um aceno a Lula que, segundo ele, tratou o projeto com “prioridade”.
Questionado sobre a ausência dos governos municipal e estadual no evento, que teriam sido convidados, o pré-candidato novamente evitou tecer críticas e afirmou que tanto a prefeitura quanto o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) cumpriram seu papel institucional na aprovação e realização do empreendimento.
Acenos à Marta Suplicy na chapa de Boulos
Mais cedo, o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), aproveitou o evento para elogiar Marta Suplicy, atual secretária de Relações Institucionais do governo de Ricardo Nunes (MDB). Em sua fala, disse que ela “tem grande experiência por ter sido prefeita da capital” e que será importante para o debate dos rumos da cidade nas eleições do ano que vem.
A ideia de costurar uma aliança entre Boulos e Marta partiu de Lula, que tenta se reunir com a ex-senadora o mais rápido possível e ainda este ano. Nunes, no entanto, duvida que sua secretária de Relações Internacionais aceite o pedido. “Confio na fidelidade da Marta”, disse ao Estadão.
Em coletiva ao fim do evento de sábado, Boulos disse ainda não há nada definido, mas reiterou que não vê objeção ao nome da ex-prefeita para sua chapa e que é prerrogativa do PT indicar a vice, pelo acordo político realizado entre as legendas. “Temos compromisso de que o PT fará indicação da vice, o que é natural. O PT sempre teve candidato em São Paulo e apoiará uma candidatura que não é do partido desta vez, então é uma questão de justiça que o PT tenha vice na chapa”, disse.
Ele ainda falou sobre como a presença de Lula no evento faz parte desse acordo. “O PT cumpriu comigo o acordo político de apoiar nossa candidatura e hoje o presidente veio aqui fazer um evento conosco, mostrando o compromisso dele com esse movimento.”
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